Abel revela bastidores do Mundial e admite: "O Inter é diferente de tudo para mim"

Texto por Colaborador: Redação 04/06/2020 - 13:00

O site do GloboEsporte.com publicou nesta quinta-feira (4) uma entrevista com Abel Braga, técnico campeão do Mundo e da América em 2006 com o Clube do Povo. Em vista ao VT que a RBS fará neste domingo da vitória do Inter por 1 a 0 sobre o Barcelona, em 2006, o site publicou uma matéria onde o comandande fala sobre vários detalhes daquela grandiosa final. Confira os principais trechos.

TEXTO:

Gabiru fora da primeira lista de relacionados: "O Gabiru vinha de um momento muito ruim depois da Libertadores. Se soltou um pouco, se largou, fugiu um pouco dos compromissos mais profissionais. Mas todos nós, principalmente os colegas, confiávamos muito nele. Sabiam do potencial dele. Tanto que deram a primeira relação de quem iria viajar, e ele não estava. Eu falei: "Nem pensar". Estamos indo para uma competição mundial em que ele teve uma participação muito importante. É um cara que trabalhava muito para a equipe sem brilhantismo. Como o Michel. Você está no Mundial com Fernandão, Pato, Alex, Iarley... É uma equipe muito ofensiva. Tem que ter peças para contrabalançar esse teu lado ofensivo".

Viagem, adaptação ao fuso horário e a semifinal: "Para mim, o pior jogo sempre é o da estreia. E também porque a carga de responsabilidade de ter que vencer era totalmente nossa. Tu pegas um time que já jogou, já perdeu toda a ansiedade da estreia. E ganhou. Então, ele já vem sem ansiedade e com a confiança alta. Nós não estávamos jogando contra uma equipe qualquer. Era uma equipe que cinco anos consecutivos jogando o Mundial do Japão, com o mesmo treinador. Jogando há três anos daquela maneira, com três centrais. Ali, sim, dá preocupação.Nós fizemos uma logística muito boa. Chegamos, entramos no ônibus, fomos ao shopping para ninguém dormir, mas está chegando ao dia da estreia. Queira ou não, é um fuso de 12 horas, não é um fuso qualquer. Aquilo tudo gerava ansiedade. Você quer que chegue logo o dia. Jogamos relativamente bem, mas cometemos muitas falhas. Principalmente o coletivo do adversário, que era muito bom. Não estou dizendo que era melhor que o nosso. Um time que jogou mais defendendo. Conseguiu neutralizar nossos pontos fortes. Tiveram situação de gol. O primeiro jogo é muito complicado".

Favoritismo do Barcelona: "Tudo isso que sentimos (no primeiro jogo), no segundo deixou de existir. Queira ou não, já somos o segundo melhor time do mundo. Temos o que a perder? As apostas pagavam nove por um a favor do Barcelona. Vamos mostrar para os caras que não é assim. Não vai ser como foi no América. Um jogo brincando. O jogo não tinha falta. Ninguém fazia falta em ninguém. Nunca vi aquilo.

Resenha com Deco: "A gente escuta a história, trabalhei com o Deco (no Fluminense). Chamei: "Vamos conversar um pouco, voltar a 2006. É, o que houve?' E ele: 'O que houve é que nós achamos que íamos ganhar a hora que bem entendesse, nós não levamos a sério, tínhamos ganho do América fácil, por 4 a 0. Um jogo que nem pensamos e ainda teve jogador que ficou até 2h da manhã na boate, quatro, cinco titulares. Eu tinha até comentado vamos levar o jogo a sério. Não quiseram escutar, né? Deu no que deu'".

A estratégia para derrubar o Barcelona: "Nós não mudamos a maneira de jogar, criamos foi uma dificuldade maior. Por exemplo, Fernandão sem a bola... É o cara que chega na área, os cruzamentos vindo de trás, é praticamente impossível superar o Fernandão no jogo aéreo. Mas ele tinha que voltar onde estivesse o Thiago Motta e ficar ao menos do lado. Era para o Thiago Motta não receber a bola. Com muita inteligência do Robertinho, observador técnico, vimos todos os jogos que eles perderam. Toda a ação do Barcelona passava pelo Thiago. Conseguimos ter essa felicidade".(A estratégia) Não tinha dado certo no treino dois dias antes do jogo. Mostrei para eles o que tinha dado errado e como deveria fazer. Alex, Edinho, Wellington Monteiro foram impecáveis nesse movimento que criamos. Era o Fernando no Thiago, e o Ceará no Ronaldinho, marcando na diagonal, porque ia de fora para dentro sempre, ele é destro. Aquela coisa toda. Mesmo quando dava a pedalada, passando com o pé direito por cima da bola, passava o pé esquerdo para sempre levar para dentro. O Ceará é um exímio marcador. Mas ali, tudo correu muito bem para nós. Tudo favoreceu, mas o Inter fez por merecer. Porque não foi aquele jogo ataque e defesa. Nada disso, foi um jogo normal".

Derrota dos titulares no coletivo e reunião no quarto de hotel: "Não teve isso (conversa para pedir a escalação de Pato). Foi pelo treino dois dias antes. No treino tático em relação a como jogava o Barcelona, o Alex deixou a zona dele. O Ceará era o Ronaldo na individual, esse não tinha segredo. Mas o meio fazia uma rotação muito boa. E tu eliminavas um volante. Teoricamente, seria o Thiago Motta onde ia estar o Fernandão. Esses três jogadores dariam o equilíbrio sem bola. No treino, o Alex saiu muito da zona dele e começou a bater muito alto no Granja, que estava no time reserva. Essa bola chegava ao Perdigão. A bola chegar no Perdigão livre era um Deus nos acuda. Ele pega na bola 50 vezes sem marcação e acerta 50 passes. Foi mal.Eles foram ao meu quarto no dia seguinte ao treino, me acordaram 10 e pouco. "Professor, podemos conversar?". Fernando, Iarley, Pato... Era o pessoal da frente.. Chegaram ao meu quarto: "Professor, o treino ontem não foi legal. Vamos marcar o Barcelona na saída de bola. Não tem como a gente fazer isso. É impossível". Eu disse: "Eu sei que não foi. Vou mostrar por quê". Aí, fomos ao estádio, o treino foi no local do jogo, fizemos exatamente aquela saída deles, consegui encontrar o primeiro volante.

No caso do treino, era o Fabinho, mas o Alex bem posicionado. Então deixávamos a bola sair com o Granja, até determinado momento, para que quando o Alex tivesse que sair no Granja, já estava na zona dele o Edinho. Já tinha vindo para zona do Edinho o Monteiro. A gente esquecia o Thiago, que estava com o Fernandão. O Iarley às vezes vinha pelo lado esquerdo, o Pato vinha pelo direito.A gente não queria perder o meio-campo. Foi isso. Foi assim. Sabe o que o jogador gosta? Gosta de verdade. É você chegar e falar para eles assim: não sei o que aconteceu. O legal foi eles terem se preocupado com isso, um time com cultura tática muito boa. Eles terem enxergado isso foi incrível. A maneira que você diz, você vai lá, nós mostramos o erro, mostramos como devia ser feito, e os jogadores acreditaram".

Os motivos para a entrada de Gabiru: "Justamente pelo que aconteceu, a maneira que saiu o gol. Como eles tiraram o Thiago, tiraram o homem mais alto da primeira bola, o homem que não saía, fazia a transição. Era uma maneira de colocar o cara aqui, ocupar o meio sem bola, mas na roubada de bola, tinha condição de chegar. Se reparar de onde ele sai, quando o Indio dá o primeiro, tira a bola. Você vê onde está o Gabiru, onde ele chega.Se, de repente, não sai o Thiago, sai outro jogador, com certeza, ia ser outro (a entrar no lugar de Fernandão). Botei pela convicção, óbvio, mas sabendo que a característica encaixava no que eu pretendia. Sem a bola, a equipe para recompor. À vezes, voltando, com Pato, Luiz Adriano e o Iarley em campo. Depois, saiu o Fernandão. Aqueles três atacantes, saiu o Fernandão e ficamos porque atrás ele participa e chega. Mas parece que papai do céu ajuda também".

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