Apesar da pressão do Flamengo pelo retorno do público aos estádios durante a final do Campeonato Carioca — por questões financeiras e competitivas —, a ciência é categórica em dizer que o momento da pandemia da Covid-19 no Brasil está longe do propício para encerrar milhares de pessoas num estádio de futebol ou em outros eventos esportivos nos próximos meses.
— Hoje não tem viabilidade para o país voltar com público. Estamos vivendo um filme da pandemia e a foto de hoje não nos é favorável — disse o médico Jorge Pagura, presidente da Comissão de Médicos da CBF.
Num futuro próximo, a depender de algumas variáveis, o retorno da torcida será implementado pela CBF nas competições nacionais. O assunto está em pauta desde setembro do ano passado, tendo sido paralisado durante a segunda onda. Agora, a entidade trabalha com a possibilidade de retorno gradual a partir de setembro. Mas não há qualquer garantia.
Por enquanto, em reuniões semanais, a comissão vem estruturando um protocolo sanitário que abarque todas as medidas de barreiras necessárias para a volta segura da torcida. E elenca os critérios a serem utilizados para a liberação com o menor risco possível. Os principais são: a situação da pandemia no país, os índices de vacinação e quem será permitido ingressar aos estádios (testagem ou passaportes de imunidade por vacina).
— Acreditamos que depois de agosto podemos ter essa experiência se os critérios estabelecidos estiverem nos índices previstos — afirma Pagura, destacando que a reabertura deve ser feita com isonomia e sem prejuízos. — Não é justo ter um jogo liberado em uma cidade e em outra não. E é preciso calcular se vale a pena abrir o estádio para um número pequeno de torcedores. Tudo isso tem de ser levado em consideração quando houver o retorno.
Entre os índices estabelecidos estão a velocidade da transmissão (R0), a incidência de casos por 100 mil habitantes e o percentual da população vacinada com duas doses.
Atualmente, o Brasil encontra-se fora de todos os parâmetros consideradores razoáveis para que o retorno seguro possa ser cogitado. Apesar de o R0 estar abaixo de 1, segundo o Imperial College, é necessário que esse valor seja sustentável por mais tempo.
Em relação à incidência de casos, o ideal é que a média seja de 100 por 1 milhão de habitantes. No momento, o valor passa de 300. A vacinação também está longe da meta considerada significativa para a redução da contaminação, de 50%. O país completou a imunização de cerca de 10% da população apenas.
— É fora de propósito considerar o retorno agora. Não há o menor sentido no momento epidemiológico que vivemos. No Rio, em fevereiro a situação era boa, estava com o índices baixos e depois estourou. Não dá para prever que essa baixa vai se manter e não virá outra onda. Isso só acontece em países com controle muito rígido da circulação ou por meio da vacinação acelerada —explica Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia.
As cenas de torcedores nas arquibancadas em jogos de futebol na Inglaterra causam inveja — desde o início da semana estão liberados 10 mil torcedores ou 25% da capacidade dos estádios grandes. Elas se repetem em outros lugares do mundo como na Austrália, em Israel e nos Estados Unidos. Outros países da Europa também começam a criar protocolos de retorno como Espanha (liberado em algumas regiões para o final do Espanhol) e Portugal. Este último, inclusive, receberá 12 mil pessoas na final da Champions entre Manchester City e Chesea, no Porto, dia 29.
Os especialistas explicam que em todos esses lugares a pandemia está controlada de alguma forma —o caso dos Estados Unidos gera incertezas com a liberação do uso de máscaras.
— Isso é algo para daqui a dois, três meses, conseguindo conter a pandemia e acelerando a vacinação. E é necessário antes fazer eventos testes programados com critérios para avaliar — ressalta Chebabo
Fonte: O GLOBO: Tatiana Furtado09/11
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