Texto por Colaborador: Redação 05/03/2020 - 18:00

O portal Globoesporte publicou nesta quinta-feira (5) uma longa entrevista com o meia Thiago Galhardo, de 30 anos. Falando sobre diversos assuntos, o mineiro contou sobre sua trajetória peculiar de vida, seu momento no Inter, trabalho de Coudet e GreNal pela Libertadores. Confira abaixo:

O que dá para falar da vitória, do desempenho, jogar bem e convencer?

Terça-feira me fizeram essa pergunta, e eu não conseguia ter a noção. Depois, analisando o jogo, eu concordo. Foi um jogo realmente muito bom. Tivemos muita posse de bola. Criamos bastantes chances. Conseguimos efetuá-las em gol. E não só o torcedor, nós jogadores, a comissão técnica, estão todos muito felizes com o trabalho.

Foi um jogo quase completo dentro do que o Coudet pede para vocês, né?

Foi um jogo quase perfeito, podemos dizer, a gente sofreu muito pouco. Perigo de gol podemos dizer, praticamente zero. Tira um pouco da tensão de que não é um jogo mata-mata, fase de grupos. Fazer esses quatro jogos na tensão máxima, sabendo que qualquer erro pode ser fatal para uma desclassificação. Foi um time um pouco mais leve. O Chacho pede muito pra nós para ter intensidade do início ao fim, nunca tirar o pé. Tem que correr. Não pode ficar parado. Se ficar parado, ele com certeza vai tirar do time.

A sua assistência para o Guerrero é um gol com a cara do Coudet, né? Você rouba a bola e já "pifa" o Guerrero...

Assim como somos analisados, a gente também analisa os adversários. E ele nos passou isso, que o goleiro tem uma qualidade incrível, bate na bola com confiança. Mas uma em que ele pudesse errar. a gente poderia fazer o gol. Tem que estar ligado. Às vezes, uma oportunidade, se você não aproveitá-la da melhor maneira acaba podendo depois sofrer lá atrás. Fui muito feliz.

Você falou depois do jogo de fazer o primeiro gol no Beira-Rio. Quase saiu de letra e de voleio...

Voleio e bicicleta e letra são lances geniais. Eu ainda não tive a felicidade de fazer um gol assim, mas não é uma coisa também que mexe muito comigo. Vou continuar trabalhando, o importante é os gols saírem, independente se seja de letra, voleio. Tem que estar bem posicionado. O mais difícil no futebol é criar as oportunidades, e isso tem acontecido. Eu iria ficar muito preocupado se tivesse jogado e não tivesse oportunidades. Isso significa que estou mal posicionado. Acho que tenho feito bem.

Além de a bola chegar, você tem feito a bola chegar aos companheiros. É essa a posição em que você mais se sente à vontade?

É a minha posição de origem, onde estou à vontade. Das cinco para frente, eu faço. Mas onde me sinto à vontade é ali, para fazer o jogo andar. É muito do jogo. Vai ter jogo em que eu vou ter que ficar mais preso para a bola aérea, que vou ter que rodar. Cada jogo é um jogo. Fiquei muito feliz de poder ajudar diretamente.

Eu tive mais tempo para me preparar, acaba tendo mais treino. Quando você joga direto, fica mais na base da conversa. Obviamente que nenhum jogador gosta de ficar sem jogar. Tem que trabalhar para isso e estar preparado. Você tem que estar preparado. Se a oportunidade vem, tem que estar pronto para executar. Agora, quando você fica lamentando, fica "ah, não tive chance", e não trabalhar da forma como devia, tenho certeza que quando a chance aparecer você não vai conseguir agarrar da melhor maneira possível.

Você começou brigando por posição com Guerrero. Agora, a concorrência é com D'Alessandro.. Está tranquilo, né? (Risos)

Antes era com Guerrero, agora é com D'Ale. Se eu fosse ele, não pensava em quem escalar. Um é ídolo no Brasil e na seleção peruana. O outro é ídolo aqui e na Argentina, com títulos conquistados. Eu estou só aprendendo pelos profissionais que são dentro e fora de campo. Isso me ajuda muito. Fiz jogo com o D'Ale em Ijuí, tive a felicidade de marcar. Agora com Guerrero, pude dar esse passe para ele. É uma honra.

O Inter é seu 15º clube na carreira. Mudou alguma coisa agora que veio para o Inter?

Eu me moldei há seis anos. O maior motivo de eu ter jogado em grandes clubes foi minha passagem pelo Japão. Lá, me fez mudar porque é uma cultura totalmente diferente da nossa. Se preocupam com o corpo, vivem o futebol 24 horas por dia. Se eu soubesse disso há 10 anos, com certeza eu teria sido um profissional de mais alto rendimento. Depois do jogo, ao invés de comer besteira e não se cuidar, a gente vem para casa e começa a se cuidar. Tem um ano e meio da minha última lesão porque eu me cuido.

O Coudet é o primeiro técnico estrangeiro com que você trabalha no Brasil?

Sim, só o Coudet. É diferente. A preparação física é muito diferente. Eles cobram muito a questão de correr, de dinâmica, de não parar, ter que recuperar a bola o mais rápido possível. E prezam muito a questão do passe. Tem algumas coisas. Os pontos-chave que são muito diferente. Cobram muito, o tempo inteiro jogar para frente. Não dar passe bobo, tentar diagonais, enfim. Não vou dar todos os detalhes aqui. Mas ele tem suas milhares de qualidades.

Como não pensar no Gre-Nal da semana que vem?

Para mim, é normal. A gente não foi campeão do primeiro turno, então tem que fazer de qualquer maneira os três pontos para que comece a encaminhar uma classificação no segundo turno. Eu sei que vai ser histórico o Gre-nal, porque nunca teve na Libertadores. Hoje, é curtir mais um pouco da folga e pensar no Brasil de Pelotas, nos três pontos para depois, sim, pensar no Grêmio. Faz tempo que o Inter não vence lá. Lembrando que ficam na história jogadores que ganham títulos e quebram tabus. Vão ser dois grandes jogos.

Você já falou mais de uma vez que clássico não se joga, se vence. O espírito já está enraizado?

Joguei alguns clássicos. Joguei no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, no Sudeste e no Sul. Joguei em todas as regiões. Sempre me falaram que o Gre-Nal é diferente, eu vi isso na pele, vivenciar o jogo, o pós-jogo. Tem linha de raciocínio, de trabalho, que vai tentar implementar. Mas tem hora que a coisa pode não andar e tem que reformular tudo. O mais importante é vencer.

O plano na Libertadores é encaminhar a vaga antes dos últimos dois jogos fora de casa?

Claro, até pelo desespero que possa bater neles, também. Jogam agora os dois. América de Cali e Universidad. Dá um empate ou tem um vencedor, um automaticamente pode se considerar eliminado. É um jogo no qual se tiver empate, para nós é melhor. Se tiver vitorioso, o derrotado já se abate.

Pensa em fincar raízes?

Isso tem que falar com os diretores, com a comissão técnica. É muito cedo para falar qualquer coisa. São apenas dois meses de trabalho. Mas eu estou muito feliz. Todo o lugar que passo e falo que estou feliz, os resultados vêm naturalmente em campo.

Falando do seu início... Você largou um concurso público na Petrobrás para apostar em uma carreira incerta no futebol, né?

Incerto para os outros. Mas para mim e para minha mãe, não. Eu sempre tive na cabeça que tudo o que você quiser, você consegue. Basta querer. Chega sexta, você vê seus amigos saindo, teoricamente é o certo de viver quando é jovem. Eu preferi me privar disso para poder chegar aonde estou. Quando lá atrás, eu resolvi largar, minha família foi contra. A única que apoiou foi minha mãe. Eu retribuo. Ela realizou meu sonho, e depois eu pude retribuir e realizar o dela, que era se formar em direito. Hoje, ela e advogada.

Então foi sua mãe que incentivou a apostar no futebol?

Quando eu fui para o Bangu, eu tive que assinar o contrato. Automaticamente, perdi a Petrobrás. Foi todo mundo contra. A única pessoa que me apoiou foi minha mãe. Ela largou tudo em Minas, foi para o Rio viver o meu sonho. Ela, sim, trocou o certo dela, que ela era professora, para viver o incerto da minha vida. E ela alugou uma casa de 40m² para morar eu, minha avó, meu irmão e ela. Ela começou a trabalhar no Rio, se endividou toda por conta de mim. Graças a Deus, a gente deu a volta por cima.

E como foi a formatura dela em direito?

Eu prometi para ela em dezembro de 2010, perguntei qual era o maior sonho dela. Ela falou que o sonho dela era se formar em direito. Prometi que a partir do ano seguinte, ela nunca mais ia trabalhar enquanto eu vivesse. E que ela ia começar a faculdade e só ia parar quando se formasse. Ela começou em janeiro de 2011, se formou em dezembro de 2015. Só alegria, festa.

Falando de família... A sua casa era uma casa de "artistas", né?

Tenho mais dois irmãos. Um é músico, guitarrista da banda Ponto de Equilíbrio. E outro é jogador, volante, joga no Nova Iguaçu. Pessoal brinca que minha mãe só tem artista em casa. Mas ninguém sabe o quanto é duro para batalhar.

Por toda essa trajetória, dá para dizer que você foge bastante do perfil boleiro, não?

Não é normal ver um ex-concursado. Vou começar minha faculdade dia 16 de março ou fazer mais para ser exemplo para meus filhos. Eles vieram ao mundo para me tornar mais homem. Eu quero ser exemplo para eles. O melhor exemplo não é o que fala, é o que faz. Minha prioridade é ganhar títulos pelo Inter, fazer bons jogos, chegar ao número de gols que ultrapasse a marca do ano passado. Para os meus filhos, quero ser o melhor pai possível.

 

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