O ex-volante e ídolo Colorado Pablo Guiñazú revelou em entrevista à ESPN como decidiu parar de jogar e virar treinador. Guiña se aposentou aos 40 anos, mas pouco tempo depois já começou a nova trajetória como treinador. A decisão aconteceu em 2019, quando ele defendia o Talleres da Argentina, que ia disputar a fase preliminar da Libertadores contra o São Paulo. Confira os princpais trechos.
DECLARAÇÕES:
"Tinha 40 anos e vinha pensando em outras coisas e falando com ex-colegas sobre isso. Eu pedia a Deus para ter saúde e receber um sinal para parar no momento certo. A gente sempre pensa em ir um pouco mais, mas em campeonatos como o Argentino e o Brasileiro você não termina como quer. Estava acostumado a jogar quase sempre e a ter uma posição boa no elenco. Eu sempre fui guerreiro correndo e suando".
"Ele é meu amigo e começamos a carreira juntos de jogador no Newell's. Eu disse: 'Juan, são meus últimos quatro jogos como profissional'. Ele falou: 'Como assim? Cholo, tomara que sejam quatro mesmo porque enfrentaremos o São Paulo'. Eu disse que ia jogar quatro e ia ajudá-lo a classificar: 'Vai ser uma guerra linda, mas teremos a chance de ir à fase de grupos'".
"Quando ele veio ao Talleres muito jovem ele estava aparecendo porque é uma carreira difícil, mas já era moderno. Muita intensidade, pressão e posse de bola com critério. Fez um trabalho muito bacana e começou a abrir portas. Ele se apoiava muito em mim para abraçar os jogadores e ver como o pessoal estava".
"Antes do São Paulo, ele falou comigo sobre futebol e se apoiou em alguns conselhos que passei sobre como o São Paulo jogaria naquela pré-Libertadores. Eu tinha jogado muitas vezes contra eles, conhecia bem e tivemos uma conversa muito leal para planejar o jogo e muitas coisas aconteceram. Eu disse o que achamos que poderíamos fazer e foi muito bacana".
"No segundo jogo, ele falou: ‘Cholo, vamos tomar aquele café porque terá o jogo de volta’ (risos). Eu disse: Acho que eles mudarão dois jogadores no Morumbi e vão para cima. Devemos pressionar alto e sentir o sufoco, senão levamos chocolate’".
No duelo de volta, o Talleres empatou com o São Paulo e avançou depois para a fase de grupos ao eliminar o Palestino, do Chile. Vojvoda pediu para Guiñazú permanecer na comissão técnica, mas o volante cumpriu a promessa de parar.
"Vojvoda é muito inteligente, capacitado, estudioso e gente boa. Tem muita personalidade e muito correto. Por isso está tendo esse sucesso. Eu parei de jogar com ele, mas precisava curtir a família e ainda não sabia se queria isso. Fui curtir família, me preparando e comecei a viajar pra ver treinos. Fui aprendendo. Quando somos jogadores não sabemos o tempo, a razão de fazer os treinos. Do lado de lá você precisa se preocupar com todos".
"Dentro de campo tinha visão das coisas. Eu sabia se os meus zagueiros precisavam recuar ou adiantar, tinha muitos anos de fazer essa função. Estava muito feliz e sabia que não tinha nada para falar aos meus companheiros, tinha entregado tudo que podia".
"Juan Pablo me entendeu e me respeitou. É muito duro e complicado. Comecei a sentir saudades de acordar, ir para uma responsabilidade, treinar ao ar livre e do cheiro de grama de manhã. É uma saudade que vai bater ate o fim da vida. Por isso, escolhi esse caminho".
"A gente se preparou muito porque é um aprendizado constante. Analisamos ligas, jogadores e nos preparamos. Tive passagens muito lindas no Brasil, Argentina e Paraguai. É uma batalha linda, mas muito complicada porque temos que nos preparar para tudo".
"Eu sabia dar ordem dentro de campo ao time e tentava ajudar ao treinador. Gostava muito disso e queria ficar no futebol como treinador. Fiz curso na Argentina depois de parar pelo Talleres e tenho todas as licenças. Quero sempre estar aprendendo. Eu tive muita sorte porque fui treinado por Marcelo Bielsa na seleção argentina e fiz uma pré-temporada completa com ele por um mês. É sensacional dentro das quatro linhas e peguei ideias e conceitos de trabalho. Não é copiar, mas saber como ele me melhorou como jogador. Outro é Tata Martino, que me treinou no Libertad e jogamos uma semifinal de Libertadores em 2006. É muito parecido com Bielsa, mas é calmo e muito inteligente".
"No Brasil, o Tite que me ensinou tudo, até sobre a vida e a como se manifestar. Ele sabe potencializar um time, tem inteligência e na parte humana é sensacional. Admiro muito e aprendo com ele a cada dia. Como planeja os jogos. Outro é o Abel Braga, querido do meu coração, que é muito esperto na liderança do grupo. Ele é um fenômeno e o melhor nisso. Claro que vou colocar a minha personalidade e liderança no futebol".
"Gosto de times com muita intensidade, com posse de bola a agressivos na parte ofensivo. Estou preparado e sei que futebol é resultado. Se pego um time que precisa de outra coisa em uma situação complicada precisamos nos adaptar".
"Trabalhar no Brasil é um sonho. Logicamente é um objetivo que tenho".