A destruição do bom futebol: quando o vencer de qualquer jeito pode acabar com o Inter

Texto por Colaborador: Redação 27/07/2020 - 15:11

A crítica de Eduardo Coudet ao gramado do estádio Montanha dos Vinhedos caiu para parte da torcida e mídia como mera "desculpa". Segundo o dicionário, desculpa significa "clemência para com falta cometida; perdão por  razão ou motivo alegado por alguém para desculpar a si mesmo". Curiosamente, muitos apontam nesse discurso outro sentido desejado: o da omissão de um fracasso, assim, o termo está atrelado ao resultado negativo, com o treinador precisando usar subterfúgios ao invés de assumir sua responsabilidade nos recentes tropeços fora da capital. No bom e velho ditado popular: o Inter precisa vencer de qualquer jeito, é só isso que importa. 

Primeiramente, parece-me importante entender o objetivo de Coudet no Inter: vencer é o fim, mas não um meio em si mesmo. Isso significa que, para o seu projeto de carreira, o importante é "como conquistar vitórias de uma determinada maneira, geralmente ofensivamente, se impondo no campo do adversário, com a sua identidade", afinal, Chacho comanda um time para tentar reproduzir suas ideias tal qual um artista em uma tela em branco, traduzindo o imaterial - o pensamento, conceitos - em ação, técnica, imagem e realidade. Agora, preveja esse pintor imaginário sem pincel, sem tinta, sem tela, sem material nenhum, e não teremos mais nenhum objetivo, sobrando somente o possível. Faça esse mesmo exercício em sua área de atuação: o que quer que você faça, por mais distante que seja do esporte profissional, sem certas estruturas não haverá mais condições mínimas para se alcançar certo objetivo. É algo tão simples que espanta vermos reações contrárias às suas declarações, que traz o incômodo fato de que não podemos aceitar mais torneios com condições amadoras. O Gauchão, por si só, não acrescenta em nada esportivamente aos objetivos atuais colorados, e, infelizmente, é preciso desembarcar um estrangeiro para se revoltar com as banalidades e bizarrices de uma competição fadada a ser, no máximo dos máximos, útil para algum time de transição do Celeiros de Ases. 

O Inter poderia ter aplicado 17 a 0 no Esportivo e sabem qual seria a utilidade para Coudet? NENHUMA. O time poderá conquistar o Gauchão mais 15 vezes consecutivas, ainda assim, ponderem qual utilidade para a comissão técnica vencer um torneio em que a exigência é projetar uma estratégia de 5° divisão, ultrapassada e limitada? ZERO!! NENHUMA! NÃO SERVE PARA ABSOLUTAMENTE NADA! (desculpem o exagero, é para dar mais dramaticidade). Mas por quê exatamente??

Porque o Inter, após mais de décadas tentando encontrar soluções fáceis, trouxe um técnico que pretende montar um time competitivo com um futebol minimamente agradável e ofensivo, mas o Gauchão - nessa medida proposta e com a atual estrutura - não oferece NENHUMA condição para isso. Assim, a palavra desculpa deveria ser utilizada se Eduardo Coudet tivesse posto em campo uma proposta completamente diferente do que ele sempre defendeu em sua carreira para tentar somente vencer um fim de semana, colocando seus dias de esforço e trabalho durante a semana no ralo.

Assim, o torcedor que o ataca e vê sua coletiva como "desculpa" parece não compreender que sua crítica trata-se de um mero fato: o estádio de sábado seria rejeitado por qualquer time de alto nível, que (sumariamente) nem se sujeitaria a entrar em campo. Aliás, o estado do gramado em Bento nem seria aprovado por qualquer liga minimamente séria, que se importa com a qualidade do produto que pretende vender. Portanto, qualquer argumento do tipo "time bom ganha em qualquer lugar" é falacioso, pois TODOS os melhores times do mundo jogam em campos em excelente estado. Imaginar um cenário com o City ou o Bayern tentando trocar passes em Bento Gonçalves e vencendo com maestria é tão sonhador como querer um Gauchão com nível de Premier League (ao contrário da maioria dos estádios da Série A, que são bons para medianos e oferecem tal possibilidade). Deste jeito, o Gauchão é a antítese e atrasa o que no fundo todos querem alcançar (futebol de qualidade) mas não sabem exatamente como. Coudet é um técnico promissor, com grande potencial mas não faz mágica! 

Finalizando de uma vez por todas, precisamos entender que o Inter não quer se medir para vencer um jogo de balão, mas se aprimorar para voos maiores e mais bem feitos, com exigências que explorem seu potencial e ajudem seu aprimoramento, como um Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil ou Libertadores. 

Saudações coloradas!!

Por Alan Rother / @Celta_Bardo

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