Causou estranheza - para não dizer mais - a crítica por parte de alguns jornalistas (como CDD, João Batista Filho e Maurício Saraiva, entre outros) da mídia tradicional sobre a postura colorada em optar por poupar seu melhor e único centroavante disponível, Yuri Alberto, no revés para o São Paulo no Morumbi, neste domingo.
Desde acusações de que isto ‘mostrava o tamanho’ do clube e de que haveria ai uma conduta imoral, segundo eles, o Internacional estaria igualando os atos gremistas de 2009 e 2020 quando, claramente, entregaram dois jogos para o Flamengo para prejudicar o título colorado. Nesse cenário fica a pergunta: será que faltaram as aulas de lógica ou mínima interpretação?
Vamos analisar de maneira objetiva as questões:
- O Internacional poupou UM atacante visando maximizar as chances de GANHAR o clássico da 30° rodada.
- O Grêmio, por sua vez, não poupou mas colocou um time de guris em 2009 e em 2020 (teve na teoria força máxima para não ‘escancarar’) para claramente PERDER.
Seria preciso ainda explicar as diferenças? No primeiro caso, o SCI adota uma estratégia para VENCER de maneira direta seu arquirrival, dentro do campo, tentando ter os melhores jogadores disponíveis, no segundo a ideia era literalmente ENTREGAR, com um fim justificando qualquer meio (tanto faz se poupariam ou não, o resultado seria o mesmo). Num caso há uma tentativa de se beneficiar da rivalidade esportiva, no outro, há um PREJUDICADO, e nisso entra uma questão ética, que não decorre na primeira perspectiva.
Isso parece bastante óbvio mas não é o que foi visto. O Internacional foi pintado por determinados jornalistas como “vilão” por simplesmente adotar uma estratégia que visa o seu próprio bem: o clássico de sábado não é um jogo qualquer para nenhum torcedor colorado sendo, portanto, legítimo que a instituição aglutine suas forças nesse sentido. Diferentemente de qualquer outra partida - que não possui nem 1/10 da relevância - é preciso contextualizar o atual momento gremista. É claro que podemos discutir se esta seria a melhor proposta, ou se ela dará certo/errado, no entanto, o tom dessa discussão é colocando justamente neste nível, como de opção interna, visando o melhor resultado a longo prazo. Ainda assim, alguém discorda da afirmação de que com os melhores jogadores mais chances se tem de ganhar? Basicamente foi essa a escolha da direção... (Obs: particularmente um terceiro descenso seria importantíssimo para auto-estima e ambiente colorado, disso não tenho a menor dúvida). Independente da escolha, elas precisam ser ponderadas antes e sem qualquer garantia de triunfo, seja poupando ou não.
Por fim, não era esse o tom (esportivo) que gostaria de dar ao texto mas evidenciar as bobagens que se diz por ai. Talvez falte mais filosofia aos cronistas esportivos que ainda acreditam nas tolices do senso comum da ‘imparcialidade’ e ‘neutralidade’, tão reais quanto unicórnios. Quem disse que a verdade tem dois lados? O que temos são sempre boas razões (Crença verdadeira justificada), bons argumentos, é assim que a epistemologia tem apontado, com a verdade como metafísica (sentido ontológico) perdendo força (lembremos que opinião não precisa de argumentos: posso dizer que o sol é de purpurina, é a minha opinião). Infelizmente, porém, foi justamente isso que faltou em grande parte da imprensa: premissas que sustentem argumentos. Pior, contudo, foi ver acusações comparando coisas completamente distintas mas que em sua superficialidade podem parecer iguais.
Por Alan Rother