Após o Inter conquistar a primeira vitória em um clássico na Arena, por 2 a 1, com gols de Rafael Moura, pelo Gauchão de 2014, tudo parecia indicar que a supremacia vermelha nos anos subsequentes seriam amplas e duradouras. Parecido com o que foi feito pelo Inter pós-inauguração do Beira-Rio, em 1969, quando ficou invicto por 17 partidas (entre 17 de outubro de 1971 a 13 de julho de 1975), o maior período de invencibilidade dos GreNais, o mesmo semelha agora no lado contrário, para desgosto vermelho.
Desde o protagonismo de Rafael Moura, há seis anos, se passaram 12 Gre-Nais sem vitórias interistas em território hostil. A partir da inauguração da Arena em 2013, foram disputados 17 clássicos, com apenas uma vitória colorada, dez empates e seis derrotas. Além de ter apenas um resultado positivo no estádio do rival, o número de gols colorados é baixíssimo, com sete gols marcados e 19 sofridos.
Como mudar essa história? É notório que todos se veem indignados por isso, mas a questão é muito mais que anímica: é psicológica, como disse Chacho, mas essencialmente futebolística. Se avaliarmos ambos os elencos, peça por peça, sem dúvida verificamos que o Internacional encostou no rival desde a catastrófe de 2016, ainda assim, quando analisamos as comparações realizadas pelos jornalistas, a imensa maioria dos mesmos considera o time de Renato superior ao colorado. Adicione nesse bolo um projeto já consolidado, que navega por mais de uma estratégia (pode jogar recuado no erro adversário, sem receio e com a bola, pode ser goleado numa Libertadores e o clima se mantém de tranquilidade), enquanto que Coudet se vê como um recém-chegado, tentando transformar os rumos do 8 ao 80.
É claro que o novo técnico vermelho está incomodado com o péssimo retrospecto, mas, por outro lado, enfrentou um rival que joga junto e possui um projeto de 5 anos. No lado colorado, no entanto, uma bola de neve de baixa confiança, ansiedade e falta de foco no campo parece atrapalhar ainda mais um jejum que, se não interrompido imediatamente, poderá afetar justamente a construção de algo duradouro e ambicioso.
Em vez de tentarmos igualar as coisas com frases de efeitos, de que "o Inter tem um elenco melhor que o Grêmio", como pateticamente feito por Marcelo Medeiros recentemente, precisamos lamber as próprias feridas, procurando encontrar aonde viemos errando: o Grêmio é a cara do malandrinho Renato, se atira toda hora, provoca 2 cartões completamente inventados, coloca-se como vítima de agressões invisíveis na tentativa de provocar alguma expulsão, mas, ao mesmo tempo, oferece a bola para o Inter por 30 minutos, sem que tivéssemos a menor capacidade de marcar um gol. Como exatamente? Por mais que o estilo dissimulado irrite, ele não é um argumento forte suficiente para ser primordial nas derrotas. Por outro lado, é notório que eles possuem uma das melhores duplas de defesa do Brasil, e com essa consistências na retaguarda, se dão ao luxo de jogar somente no erro do Inter, cientes de que assim seria mais fácil do que avançar suas linhas e tentar o amplo domínio de bola, no qual, mais uma vez, foi vermelho, mas que não se traduziu em efetividade alguma.
A escola do Inter de Coudet visa tê-la de maneira impositiva e não aceita falhas básicas - como as inúmeras saídas de bola equivocadas -, assim, saindo do 8 (Odair) ao 80 (Chacho) vivemos um momento de transição onde conseguiremos por momentos jogar da maneira que nosso novo comandante almeja (deixando todos eufóricos), mas, por outro lado, sofreremos o gargalo e a pressão de estar no lado inferior da gangorra. Lembremos antes do jogo que, por incrível que pareça (agora com o jogo encerrado parece sem sentido e tolo) éramos considerado o favorito no GreNal 426 por grande parte dos comentaristas, todavia, se Coudet possui alguma falha - como todos os treinadores possuem - reside justamente no fato de que SEMPRE tentará jogar de uma determinada maneira, não havendo mudanças drásticas mesmo quando o jogo claramente destoa do que parece ser preciso para vencer.
Na Argentina, o Racing campeão de Coudet tomou 6 a 1 do River em sua própria casa por exigir rigorosamente isso, mas é justamente nessa sua maior falha onde poderá residir uma de suas maiores qualidades, a de fomentar um estilo - que repetido e reforçado com peças melhores - tenderá a dar frutos e a ajustar-se mecanicamente até uma confiança máxima entre jogadores, diretoria e torcida. Até lá, no entanto, viveremos dias de altos e baixos, nos imaginando invencíveis mesmo após pequenas vitórias e destroçados nas atuações desastrosas. Para ele (Eduardo Coudet) não faz sentido tentar mudar tudo por um jogo, quando nem tempo há para treinar algo diferente, ou seja, é mera perda de tempo, foco, mas isso não deixa de ter seu preço (e se tivéssemos tentando jogar no contra-ataque?).
Se é esse o caminho que queremos e apostaremos, ou compreendemos ou damos um outro passo, rumo ao corriqueiro, imediato, que não vem dando resultados nem nenhuma perspectiva há mais de anos, mesmo nos GreNais. Não há perfeição no futebol, mas é preciso aprender com os erros. Pottker é insuficiente (talvez por isso Yuri tenha sido anunciado?), Musto parece um amador (Dourado precisa voltar logo) por inúmeros momentos (que tal uma conversa séria sobre suas decisões?), Moisés tem lapsos de descontrole que assustam, assim como se desfazer uma das melhores defesas em 2019/18 mostra-se imensamente arriscado. Cobrar de maneira firme mas construtivamente deve ser o foco de cada colorado, visando justamente a inversão de úm retrospecto que nem os piores times de 90 talvez conseguiram. De momento, parece evidente que precisamos ainda de mais qualidade técnica para bater o rival futebolisticamente, como elemento promordial. Para isso, precisamos mudar o discurso, presidente!
De um lado um time pronto e superior, com um legado financeiro de estabilidade e que segue colhendo seus frutos (infelizmente precisamos encarar essa triste realidade para mudá-la), e nós, seguimos tentando plantar uma semente para colher lá na frente.
E você, o que acha? Deixe sua opinião! (Não somos os donos da verdade e apenas tentamos projetar uma perspectiva crítica-construtiva nesse duro momento)
EDITORIAL