O Inter bem que tentou. Sonhou em impor uma supremacia estratégica com a bola sobre seus adversários, criando e infiltrando nas linhas rivais enquanto sua zaga - extremamente avançada - deixava seus adversários "encaixotados" tendo todas as esferas do time aproximadas em nem 30 metros. Na prática, no entanto, uma defesa completamente risível tecnicamente se via corriqueiramente exposta, exigindo ações individuais inteligentes e eficientes, elementos que Zé Gabriel e Pedro Henrique jamais conseguiram entregar. Sem meio de campo (quase que divididos em dois blocos espaçados entre defesa e ataque), uma estrategia desequilibrada até conseguia avançar com velocidade nas transições, mas, na frente da área, não tinha aproximação nem agilidade para se sobressair, isso sem falar das saídas de bola que se mostraram mais apavorantes do que empolgantes. Nesse ritmo, o descompasso entre desejo e prática era evidente, com uma série de desequilibrios deixando claro: o Inter quer ser propositivo, mas não tem meios para tal.
Repito o que havia comentado na coluna anterior: o Inter tentou, foi fiel ao seu projeto, mas, insistir no erro será muito pior.
Uma boa ideia precisa de elementos para ser reproduzida. Nesse cenário e com poucos recursos - culpa também de gestões falhas nos últimos 6 anos - o Inter pouco conseguiu alterar seu plantel para nomes que o espanhol precisaria. A ideia de um treinador fazendo uma equipe jogar a sua maneira é muito interessante, mas, só funciona quando esse treinador possui peças ou um estilo adaptável, não ortodoxo. No caso de MAR, todavia, ficou claro que é o elenco que deveria se ajustar aos seus modelos, contudo, como fazer sem essas condições técnicas e táticas? Começaram as falhas e o evidente descompasso entre querer e poder.
Nessa estrategia quase suicida de jogar somenta de uma maneira, a gestão de Alessandro Barcellos falhou precariamente ao gastar os poucos centavos nos cofres trazendo um atacante chileno enquanto tinham na retaguarda - já ciente há meses da lesão de Rodrigo Moledo - somente Zé Gabriel e Pedro Henrique como opções para disputarem os jogos decisivos. Vejam bem: justamente no esquema que mais exige dos zagueiros individualmente (pois há menos opções de dobra na marcação, menor cobertura e menos volantes a sua frente) a direção já começou tendo uma péssima avaliação do plantel, colocando sal no café de qualquer projeto. Tirando meia dúzia de jogos em sua largada, Zé Gabriel se mostrou precário e sem qualquer atributo para ser um defensor ao passo que, por outro lado, é assustador como Pedro Henrique tenha seguido no elenco sem nenhum dirigente ou profissional da comissão ter analisado seus treinos. Já no time sub-20 de Fábio Matias, na largada do Gauchão, chamava negativamente atenção suas atuações fraquejantes. O lema "usar garotos da base" não serve quando não há NENHUMA AVALIAÇÃO QUALITATIVA.
Em crise financeira caótica a direção, portanto, apostou certo no projeto mas avaliou mal o elenco, suas particularidades e o momento de implementá-lo. Agora, tudo que foi economizado desde Janeiro será gasto na reposição de UM zagueirto minimanente capaz de não comprometer, enquanto perdemos mais de 2,7 milhões por não avançar de fase, além da provável multa de Miguel Ramirez, na casa dos 11 milhões. O barato saiu muito caro e pela culatra.
É muito simplista agora falarmos que o Inter não tem futuro, que nada adianta, que precisa mudar tudo mesmo que desdizendo todas projeções otimistas, pelo contrário, é justamente agora que precisamos qualificar os passos que deram errado e não generalizar com coisas fora do atual contexto. O Inter chegou e perdeu finais em 2018, 2019, 2020, mas os motivos e os problemas nem sempre foram os mesmos em todas estas etapas (falo isso porque ouvi jornalistas identificados - e que admiro pelo trabalho de maneira geral -após o jogo fazendo terra arrasada por um novo tropeço, explicação que não explica NADA, não qualifica ações, acertos, erros, nada, apenas joga no ventilador. Só faltou dizerem que Deus virou gremista... ). O SCI talvez precise focar, assim, primeiramente em sua reestruturação financeira - para ajustar o elenco em características e qualitativamente na maior velocidade possível - antes de querer jogar como sonha. Até lá é preciso verificar qual estilo de jogo potencializa essas peças até que seus contratos se encerrem e uma reformulação geral seja realizada, ser pragmático é ser razoável, apenas isso.
Defender não é sempre mais fácil do que atacar? sigo com o ditado não porque ele é bonito, mas porque é lógico e funciona no futebol e no próprio Colorado: o SCI precisa agora, sob minha perspectiva, focar em ajustar-se defensivamente, ganhando mínima confiança/competitividade com um estilo menos ortodoxo em campo, tentando ter a posse por certos momentos mas sabendo contra-atacar, tendo como chave um sistema defensivo bem montado, elementos que foram completamente perdidos e, que desde 2018, foram as poucas valências que nos colocaram em condições de brigar minimamente, disputar torneios internacionais e se reequilibrar financeiramente.
Quiça seja a hora de pensarmos a curto prazo, como foi feito com Abel ano passado (na época fiz uma coluna defendendo sua chegada e expliquei os motivos), visando os 45 pontos e uma equipe minimamente ajustada até as quartas da Libertadores. Entendendo os passos necessários nesse contexto poderemos dar um passo para frente e não dois para trás, que é onde estamos indo.
Alan Rother