Hora da reflexão: repetir a postura do Grêmio pré-2015 não nos fará vencer um GreNal

Texto por Colaborador: Redação 25/07/2020 - 00:00

O revés no GreNal 425 marcou o 8° clássico sem derrota pelas bandas do Humaitá. A última vez que batemos o time de Renato foi em 2018, pelo segundo turno do Brasileirão. De lá para cá, foram quatro vitórias gremistas e quatro empates. Assim, como explicar essa diferença quando dentro de campo - e comparando as recentes campanhas (pelo menos desde 2018) - observamos plantéis e estruturas do mesmo nível?

Mais recentemente, sob a tutela de Eduardo Coudet, vimos um Inter superior em pelo menos 4 tempos (inferior somente no 1° tempo do 1° clássico no Beira-Rio, em que Musto foi expulso e no 2° tempo no estádio Centenário), elemento que prova que, no aspecto global, estamos produzindo um jogo até superior mesmo quando no outro lado desafiamos um projeto que vai para seu quinto ano. Isso não é pouco e fornece dicas de que estamos na direção certa, no entanto, retornemos novamente à questão: por que Chacho perdeu 2 grenais em 3?

Primeiramente, não pretendo dar uma única resposta para tudo pois duvido que, como quase tudo na vida, haja respostas únicas e simples que englobem diversos fatores em uma só afirmação mágica transcendental. Há diversos elementos que atuam em uma partida, desde o aspecto mental, físico e até de mera casualidade, como no gol marcado por Jean Pyerre. A ideia, portanto, é tentar encontrar aspectos em que nos diferenciamos do maior rival desde a queda da balança, entre o final de 2015 e 2016. Separando em tópicos, tentarei omitir alguns dos pontos que me parecem importantes para embasar minha conclusão, vamos lá?

ESTRATÉGIA PREVISÍVEL DE COUDET X AUTO-CONFIANÇA GREMISTA

Quase sempre a palavra previsível é vista como negativa, mas, reforço que no contexto em que pretendo utilizá-la a intenção é dar outra perspectiva. Quando saímos da metodologia de Odair Hellmann havia ali outra intenção e “previsão” do que esperar de suas equipes. Um time mais re-ativo e formatado para o contra-ataque mostrava-se adequado ao mediano elenco de 2018 e 2019 mas irritava um torcedor acostumado com times mais ofensivos que via, em contrapartida, o próprio rival e o Flamengo serem elogiados por fazerem o oposto.

Pois dito e feito essa foi a intenção com a chegada de Chacho no Beira-Rio: a de jogar para cima tendo à disposição peças bastantes superiores a de Papito, que lembremos, não tinha Boschilia, Saravia, Marcos Guilherme, Galhardo ou próprio Musto (4 possíveis titulares em anos anteriores). Sendo assim, a direção claramente passou a contratar melhor dispondo de um elenco com menor quantidade em detrimento da qualidade, aumentando a exigência quando se trata de expectativas para 2020.

Mas falando precisamente do GreNal 425, vimos um Inter fazendo o que se espera (e até nos encantou por momentos antes da parada): jogando no campo do adversário, com Coudet espalhando suas peças sob a defesa rival na tentativa de dissipar a marcação adversária, em busca dos preciosos espaços. Tal planejamento é a lógica base das ações coletivas do treinador argentino, que precisa ter dois laterais bastante ativos e, em contrapartida, expõe-se muito mais aos próprios erros quando cometidos.

Ciente disso, Renato passou – devido ao longo tempo com seus jogadores e na montagem da equipe - de um time que só sabia jogar com a bola dois anos atrás para ter uma equipe com mais de uma estratégia: se preciso, o Grêmio ainda sabe jogar com a bola, mas se defender e ocupar os espaços mostra-se mais interessante em detrimento do contra-ataque, não há mais a “vergonha” de se resguardar. Em três grenais tivemos maior posse de bola e finalizações a gol. Então, como explicar o fato de que não existe essa “desconfiança” no lado de lá para um jogo mais “feio”?

Justamente por haver um trabalho consolidado, recentemente campeão, que permeia no ambiente rival um clima de tranquilidade, autoconfiança em que não se faz necessário provar seu valor, refletindo em jogadores mais tranquilos na hora das derrotas e confiantes para fazerem o que for necessário em determinados jogos. O Inter, claramente, não chegou nesse estágio e se desequilibra emocionalmente em todo novo revés, principalmente para eles...

Assim, o Colorado precisava provar o seu valor mas também errar menos, pois ao jogar taticamente espalhado no campo adversário (todo time que se arrisca mais precisa errar menos), um gramado bastante prejudicial a qualquer estratégia tendo como base o domínio de bola e a troca de passes nos tirou produtividade, aumentando os erros e a falta de eficiência coletiva no estádio Centenário.

Até o gol, fazíamos uma partida disputada mas sem criação, exagerando nos cruzamentos sem funcionalidade, consagrando a defesa rival e oferecendo a bola aos rápidos e habilidosos alas e meio-campistas tricolores. Ainda assim, o placar poderia ter sido 0 a 0, mas o que se viu em certos momentos do jogo – e principalmente após o apito do árbitro – foi de se preocupar, mais do que o próprio clássico em si. Esse será, então, o segundo tópico.

INFERIORIDADE PRESSIONA A MENTALIDADE

Depois de explicar o motivo de termos uma única estratégia menos aconselhável (ou menos adequada) na Serra linear durante todo o jogo, chamou atenção o foco da direção do Inter e dos jogadores antes e depois do apito do árbitro Daniel Bins.

Antes do jogo, um Medeiros indignado por jogar fora de casa, extrapolou o bom senso e fez de uma decisão – que é válida para TODOS os envolvidos - uma batalha como se o Internacional estivesse sendo perseguido por todos os lados. A paranoia seguiu-se mesmo quando o próprio árbitro foi definido pela FGF. Tal postura, por acaso, difere do visto pelo próprio Grêmio antes de 2015?

Quando se está embaixo na gangorra, é típico esse tipo de bolha. O Grêmio, por exemplo, acreditava com unhas e dentes que o Inter havia vencido 8 Estaduais em 9 porque o presidente da FGF era colorado. Tudo se resumia a isso. Antes e depois dos jogos, até virou uma brincadeira entre os colorados: ou venciam ou eram roubados. O complô, na cabeça deles, estava pronto. Curiosamente, bastou terem um time superior e a grande teoria da conspiração desapareceu.

Parece que o presidente Marcelo Medeiros esqueceu que vivemos um momento particular de pandemia que obriga o futebol como um todo a buscar situações inéditas, inclusive, forçando-nos a jogar longe do Beira-Rio. O Grêmio terá que jogar no seu CT, neste domingo, e assim poderá ocorrer até a chegada de uma vacina. Ciente disso, a próprio gestão apoiou na CBF uma medida que aceita – com bom grado - que jogos possam ser disputados fora do estado ou cidade natal, visando a não interrupção das rodadas da Série A. Portanto e indo contra o próprio bom senso que o próprio SCI assinou no Rio de Janeiro, preferiu-se em vez de estimular um ambiente de adaptação, ajuste e foco no campo de jogo, criar um estado de guerra e de perseguição tendo o clube como um injustiçado, quando esse não foi o caso, pois perdemos novamente, no campo. E qual foi o discurso depois? O mesmo do Grêmio antes de 2015...

Em diversos momentos times, grupos ou direções vencedoras do Inter passaram por decisões incorretas fora do campo. Em 2008, perdemos Guinazu numa expulsão bastante duvidosa em La Plata, mas a forma como reagimos nos fortaleceu. Em 2010, contra o Banfield, o árbitro passou a mão no Inter de maneira descarada, mas a reação no Beira-Rio foi de uma explosão obstinada de superação. Existem outros e inúmeros exemplos, enquanto também não podemos nos autoenganar que somente somos prejudicados (no GreNal 416 o árbitro não marcou penalidades a favor do rival).

Precisamos ver isso para sairmos de uma bolha e encaramos os fatos: erros acontecem e seguirão acontecendo. Na maioria das vezes não são intencionais a não ser que hajam provas para tal. Até lá, precisamos defender posições fortes quando necessárias e imprescindíveis mas não criarmos um inimigo que não existe todo santo dia. De tanto gritar fogo, quando precisarmos, de fato, chamar os bombeiros, não teremos aonde se apoiar.

Perdemos no campo pelo mérito do rival em quase todos os últimos 8 grenais e se não entendermos que será somente no campo, com a bola nos pés, o meio pelo qual devemos superá-los, seguiremos fazendo o papel de tonto ofendendo metade do mundo após o apito, fazendo entrada descabidas e sem acréscimo ao jogo, vendo o outro lado tranquilo, mesmo com guris com metade da idade, vencendo mais um GreNal sem reclamar de ninguém, assim como fazíamos a menos de 5 anos atrás.

Temos um grupo experiente, de jogadores caros que – na teoria – sabem o que precisa ser feito para vencer, mas parecendo jovens amadores, cometem pênaltis ridículos, tomam cartões descabidos e reclamam de todo mundo, menos de suas próprias flagelações.

Muitos especialistas e ex-jogadores afirmam que o esporte é em grande parte pura mentalidade. Em um jogo em que o psicológico define os caminhos da mente para o foco mais correto, temos visto o Inter repetir os erros do próprio rival em seus anos de derrotas e inferioridade.

É justamente por isso que estar em cima da gangorra, por si só, traz um clima positivo em um clube, fazendo com que uma bola de neve de autodestruição ou confiança abale detalhes do planejamento que – em confrontos tão parelhos – fazem a diferença. Diversos GreNais foram vencidos assim entre 2005 e 2014, e agora precisamos escolher qual caminho queremos trilhar.

Por Alan Rother

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