Desde sua última década gloriosa (entre aproximadamente 2005 a 2011), o Internacional passou de clube exemplar e bem financeiramente para os mais citados quando o assunto é "problemas financeiros".
O quadro atualmente segue longe do ideal, mas parece aceitável quando posto em perspectiva frente os principais adversários do país.
De acordo matéria publicada neste mês por Igor Siqueira, do UOL, com base no levantamento consultoria Ernst & Young, o SCI tem a 5° maior dúvida entre os "grandes" do país, atrás somente de Flamengo, Grêmio, Palmeiras e Santos, avaliada em R$ 631 milhões.
O estudo traz o endividamento líquido dos que formam a elite do futebol nacional, na casa dos R$ 10,4 bilhões ao fim de 2021, uma ligeira redução na comparação com os R$ 11,2 bilhões de 2020. No topo da lista está o campeão brasileiro, o Atlético-MG, que virou o ano com uma dívida de R$ 1,3 bilhão. O pódio ainda tem o Cruzeiro (R$ 1,020 bilhão) e o Corinthians (R$ 928 milhões).
Ao mesmo tempo que pode ser sinônimo de investimentos, o endividamento, quando descontrolado, traz ameaça de inviabilizar e travar a operação do clube. O número total, por si só, chama a atenção, mas é preciso um olhar mais cuidadoso para os balanços financeiros para verificar quem está em uma situação grave e qual o risco que cada clube enfrenta.
O volume total do endividamento foi calculado pela consultoria com o seguinte critério: – Endividamento líquido = passivo total – (ativo circulante + realizável a longo prazo).
Tecnicamente, essa equação soma os compromissos a pagar (passivos) a curto (ano corrente) e longo prazo (anos posteriores). Desse total é descontado o quanto o clube tem em caixa e os ativos — bens/direitos que podem ser convertidos em recursos financeiros — a curto e longo prazo.
Pode ser que um clube com endividamento maior esteja em situação mais tranquila do que outro com dívida, em números absolutos, menor. Trazendo para uma situação cotidiana, o perigo não é comprar um carro de luxo tendo condições de pagar. É entrar na prestação de um carro popular, mais barato, sem poder arcar com as parcelas.
Assim como existem pessoas que se enrolam com cartão de crédito ou impostos, a natureza do endividamento varia de acordo com o clube. O São Paulo tem o sétimo maior endividamento – R$ 642 milhões, sendo R$ 214 milhões com empréstimos. O balanço financeiro indica que ele não conseguiu cumprir compromissos do ano corrente e empurrou a dívida para exercícios posteriores.
“Ao usar apenas um indicador para tirar conclusão, a chance de ter uma análise rasa é muito grande. Se olhar somente o endividamento, não vamos entender se o clube consegue gerar caixa, se essa é uma dívida saudável, se os parcelamentos estão equalizados. É preciso entender mais a estratégia do que a foto de um número, especificamente”, afirma Pedro Daniel, diretor executivo da área de esportes da EY Brasil.
Alguns clubes usaram a força das receitas e um processo de reorganização interna para saírem do buraco em termos de dívidas. O Flamengo fechou 2021 com R$ 323 milhões de dívidas. Um problema? Longe disso. Boa parte está financiada no Profut (R$ 218 milhões). Além disso, a dívida total representa cerca de 30% do que o clube teve de receita apenas em 2021 (R$ 1,082 bilhão).
Como é bom pagador, o Fla consegue operações junto a instituições financeiras que resultam em dinheiro na mão a um custo financeiro muito baixo.
“O Flamengo, nos últimos anos, chegou a aumentar o endividamento líquido. Deixou de pagar? Não. Fez caixa, mais investimentos. Se eu vou comprar o carro, e a concessionária faz a 24 vezes sem juros, posso fazer as parcelas. Fazer o financiamento neste caso é mais interessante”, pontuou Pedro Daniel.
O Palmeiras é outro bom exemplo em relação ao controle de dívida, por mais que o processo de reestruturação interna tenha sido diferente em relação ao Fla. O endividamento líquido palmeirense em 2021 (R$ 434 milhões) ficou em menos da metade da receita total (R$ 977 milhões).
Mas outros elementos dos balanços podem ajudar na compreensão da situação do clube em relação às dívidas. A começar pelas receitas. Isso ameniza um pouco a situação do Atlético-MG no cenário brasileiro, já que o Galo arrecadou R$ 500 milhões em 2021. Ou seja, o índice fica em 2,6 na relação endividamento/receita. Com esse elemento, a situação mais grave se torna a do rival Cruzeiro.
“O problema não é a dívida. O problema é a relação entre dívida e receita. O clube que fica em um corte acima de dois já indica uma situação crítica. É uma situação, se fosse uma empresa regular, de quase insolvência. As soluções aqui passam por reduzir o investimento no plantel e conseguir renegociações”, pontua Gustavo Hazan, gerente da
Confira o quadro geral: