Magrão se defende de acusações e explica: 'só éramos vizinhos... vestiário está excelente'

Texto por Colaborador: Redação 10/08/2024 - 21:06

 O diretor esportivo do Internacional, Magrão, que recentemente se viu no centro de controvérsias relacionadas à sua atuação no clube, deu sua versão dos fatos em entrevista ao ge neste sábado. Ele abordou questões sobre a contratação de Lucca Drummond e as conversas sobre a possibilidade de seu filho integrar o time, negando veementemente o uso de seu cargo para favorecer a entrada de jogadores no clube.

Nas últimas semanas, Magrão foi alvo de críticas nas redes sociais, após o jornalista Thiago Suman divulgar uma série de alegações sobre sua conduta à frente do departamento de futebol do Inter. A principal acusação gira em torno de um suposto conflito de interesses.

Antes de assumir a posição de dirigente, Magrão atuou como empresário de futebol, com passagens por clubes dos Estados Unidos, como o Seattle Sounders e o Inter Miami. Ele chegou ao Beira-Rio em maio do ano passado para assumir o cargo de gerente esportivo.

Durante seu período como empresário, Magrão manteve relações profissionais com os agentes André Pivetti e Michel Reynolds, este último representante de Lucca Drummond. O jovem centroavante de 20 anos foi contratado pelo Inter no início deste ano, após passar 2023 sem atuar na base do São Paulo, e rapidamente foi promovido ao time principal.

Na sexta-feira, a polêmica envolvendo Magrão ganhou um novo capítulo com a divulgação de um áudio em que seu filho, Pedro Karalkovas Rodrigues, atualmente lateral-esquerdo do Seattle Sounders, conversa com Pivetti e menciona ter o aval do pai e do presidente para atuar na base do Inter.

Magrão explicou que esse episódio ocorreu em março e afirmou que, embora seu filho tenha sido aprovado pela coordenação das categorias de base do Inter, ele mesmo se posicionou contra a contratação. Como prova disso, apresentou uma conversa em áudio com Jorge Andrade, diretor de futebol da base.

O dirigente também comentou sobre sua relação com os jogadores e a recente troca de Eduardo Coudet por Roger Machado no comando técnico. Magrão negou qualquer problema no vestiário e afirmou que, apesar da pressão, está comprometido em trabalhar para recolocar o Inter no caminho das vitórias no segundo semestre.

Confira trechos da entrevista:

ge - Em 4 de julho, você disse que daria entrevistas com mais frequência, o que não se confirmou. Coincidiu com o período em que seu nome foi envolvido em polêmicas. O que aconteceu?
Magrão - Falamos que teriam as conversas, mas, no meio do caminho, houve a demissão do Coudet, contratação do Roger. Vocês tiveram outras pautas, essa troca da comissão, jogadores chegando. As pautas que tinham eram polêmicas, situações divulgadas e buscamos esclarecer.

Qual a sua relação com os empresários André Pivetti e Michel Reynolds?
Uma relação de amizade. Morávamos no mesmo condomínio, apenas isso.

Vocês já foram sócios?
Nunca.

Você prestou serviços ao André Pivetti?
Então, quando eu morava no condomínio... Deixei claro, prestava serviços, mas antes de vir ao Internacional. Nunca fiz nada quando estava trabalhando pelo Inter. Foi bem antes.

Você aparece em uma foto de 2022 com Michel Reynolds e André Pivetti na assinatura de contrato de Kevin Santana com o Fluminense.
Quando eu prestava consultoria para ele, estava sempre presente para tentar auxiliá-lo da melhor maneira.

A sua relação com eles de alguma forma influenciou na chegada do Lucca Drummond ao Inter?
Não. A chegada do Lucca Drummond vem após um processo em que o Jorge Andrade (diretor da base), em conversas que tivemos com a base, entendíamos que nosso ano mais forte era o 2007. O de 2007 e 2006. Iríamos colocá-lo para jogar, mas começamos muito mal no Brasileirão da categoria. Ficamos em último e a base foi alvo de críticas.

O Jorge passou para mim potencializar com jogadores do último ano, 2004. Com um porte melhor, mais maduros, para dar sustentação ao time que disputaria o Brasileirão da categoria. Assim surgiu a indicação do nome, como também surgiram as indicações do Wesley, Bruno Henrique, Fabrício. Todas as indicações foram minhas ao clube. Acho que pelo cargo que ocupo de diretor de futebol tenho este direito pela questão técnica. Não só o direito como o dever de fazer a indicação técnica.

O Lucca foi aprovado nos testes da base?
Eu o indiquei para a base. Quem tem de falar se foi aprovado ou não é o Jorge Andrade, o diretor da base. Não vem mais para o meu guarda-chuva de funções no clube.

Quais os atributos que você viu no Lucca Drummond para que pudesse ajudar o Inter, já que ele não tinha atuado ano passado na base do São Paulo?
Como profissional do futebol, queria esclarecer isso. O jogador de futebol, como o Lucca, um cara grande, de um porte maior, a maturação é mais tardia do que o com um porte menor. Eu passei por isso. Sou um cara que não fiz base em clubes. Eu não passava. Sou um cara grande, pareço desengonçado. Dos meus 15 aos 17, 18, sofri muito. Me firmei com 19 para 20 anos no São Caetano.

Temos no Inter hoje algo parecido. Temos o Ricardo Mathias e o Gabriel Carvalho. O Gabriel já está jogando, mas o Ricardo demorará um pouco. A maturação do corpo demora quando você é grande. O Lucca passou pela base do São Paulo, que tem uma formação muito boa. Precisava de um jogador maior para dar a sustentação. Prova disso é que em um treinos vistos pelo Coudet, só ele subiu para o profissional. Jogou acho que três partidas, uma como profissional, e dá assistência contra o Criciúma. É legal esclarecer. Pois tudo que foi dito está no âmbito judicial e preciso esclarecer ao torcedor.

Na sexta-feira, o jornalista Thiago Suman publicou um áudio atribuído ao seu filho, Pedro. No áudio, ele diz que você teria falado com o André Pivetti e que ele poderia vir ao Inter com seu aval e do presidente. O que tem a dizer sobre isso?
É bom esclarecer. Você estará com os áudios. Meu filho foi seleção sub-15. Ele era joia do Palmeiras. Do nada, pela pressão de ser meu filho, começou a cair o futebol dele e decidiu parar de jogar por um ano. Eu o levei para morar comigo, porque nunca tinha. Quando me separei, ele tinha três anos. Eu o levei ao psicólogo e ele começou um trabalho para voltar. Depois, ele vai ao Seattle. Em 2015 ou 2016, o Jorge queria trazê-lo ao Inter, mas não ocorreu.

Em meados de março, o Jorge me perguntou sobre a possibilidade de trazer ao meu filho para atuar na lateral esquerda. Fui categórico e disse a ele que achava ser complicado, justamente pelo Pedro ser meu filho. O Jorge conversa com ele e o meu filho me liga. Falei ao Pedro que, como pai, ok, mas que precisaria acertar com o Jorge. Neste período, sou convocado para uma reunião com o Pablo (Fernandez, técnico do sub-20), o Jorge, o Julinho (Camargo, gerente técnico da base) e o PC (Paulo César de Oliveira, gerente técnico metodológico da base). [Eles disseram] Queremos contratá-lo, mas nem falei que é teu filho. E, mais uma vez, eu falo não.

Quando ele fala no áudio e fala do presidente, eu liguei para perguntar o que tinha falado do presidente. Ele nunca tinha falado com o Alessandro (Barcellos, presidente do Inter). Seria o "presidente da base", o Jorge, que é quem ligava e falava com ele. Da minha parte como pai, ok, mas tinha preocupação por estar no clube, e tem áudio disso (ouça no vídeo acima). Não que seja errado, que fique claro. Há casos aqui e fora de filhos de dirigente que jogaram.

Hoje há um cara voando no Flamengo e na Seleção, o Léo Ortiz. À época, o pai, o Ortiz, era diretor (trabalhava na base do Inter). Teve o Martin, filho do Fernando Carvalho (ex-presidente do Inter). Achei demais o burburinho feito. Parece que cometemos um crime. Não sou muito de mandar áudio, gosto sempre de ligar para as pessoas. Neste dia, em março, estava na minha casa em Torres e mandei um áudio ao Jorge e disse que estava preocupado.

Não pela qualidade do Pedro, mas como diretor, sabia que podia causar algo para ele. Nem pensei que poderiam questionar alguma ilegalidade, mas entendia que seria prejudicial, quando entrasse em uma partida, poderiam falar que estava no Inter por ser filho do Magrão. Ele sai do Palmeiras e vai para fora para tirar o peso.

Você considera que pode haver conflito de interesses entre sua antiga função e o cargo que ocupa hoje no Inter?

Eu não vejo, pois há outros casos. Você verá os áudios com o Jorge. Me preocupo com o meu filho. Sei do meu caráter e a forma como trataria, mas quando o soltassem aos leões no campo, ele seria cobrado. E deixo isso bem claro. A aprovação dele passou por todo mundo. Achamos o lateral-esquerdo que não temos na base, mas eu disse "não, Jorge, não". O presidente (Barcellos) nunca falou com ele. Eu perguntei ao Pedro e ele disse que pensava que o Jorge Andrade era o presidente da base. É isso. Mais esclarecido não tem como ser.

Você não acha que essa situação é ruim para a imagem do Inter e a sua?
Ele não foi contratado. Primeiro de tudo. Talvez eu tivesse que vir a público e falar se fosse. Ele é um menino de 17, 18 anos, empolgado com a oportunidade de jogar no Internacional. Talvez tenha mandado o áudio empolgado com o ok do pai. Foi o ok para não f* a carreira, mas mandei acertar com o empresário e a direção da base. Me preocupei com tudo o que ele passou.

Quem é o empresário do Pedro?
Ele não tem. Várias pessoas ligam para o representarem, mas por eu ser diretor do Inter, qualquer pessoa que colocar pode causar um problema. Por isso está sem. Até já tem o caso do Lucca Drummond, aí vamos contratar alguém e falar que é o representante do filho do Magrão. Não que não tenham interessados em o representarem.

Você foi ídolo como jogador, mas hoje enfrenta um desgaste com parte da torcida. Qual o motivo para isso?
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Acha que esses episódios não têm relação com as críticas?
Não. Estou esclarecendo tudo. O torcedor conhece minha verdade, meu caráter. Estou aqui de peito aberto para esclarecer ponto a ponto. Não há uma ponta solta. Faltam resultados, isso sim. Desde quando cheguei, tivemos três ou quatro decisões, mas não ganhamos, já saiu treinador. Não posso me eximir desta culpa. Faço parte. Fizemos a prospecção que achávamos ser a melhor ao clube e ainda acredito muito. Nos que estão chegando para ajudar. Claro que, sem resultado, após o presidente é quem? O diretor esportivo, no caso eu. Quando vim, sabia desta conta. Vivemos de resultado. Esse extra não vim (a público) porque entendia não ter importância. Hoje vim esclarecer.

Como é sua relação com o vestiário?

Excelente, excelente. Óbvio que é uma relação de cobrança, que busca resultado. Há um limite. Você sabe até onde cobrar, a linguagem no vestiário. Não é a linguagem aqui de fora. Depende do palavrão na rua, é morte. Onde nasci, há coisas que você fala e é a honra. No campo é toda hora, você xinga o árbitro. No futebol, há situações que cabem. Há cobrança, como o presidente me cobra para que o planejamento ocorra e hoje não está.

Há relatos de que alguns jogadores não gostam do seu comando, de que sua relação com o Bustos não era boa...
Você precisa perguntar aos jogadores. Uma mentira contada várias vezes vira uma verdade. Você precisa perguntar se eles têm problema com o Magrão. Aqui no Sul, se fala muito do vestiário. Joguei cinco anos no Palmeiras, um no Corinthians. Os questionamentos da imprensa lá fora são sobre partes tática e técnica. Aqui, se você perde um jogo, o vestiário está rachado. Joguei em times campeões em que o vestiário era uma merda, e perdi em vestiários bons.

O resultado não passa pelo vestiário (...) Vocês falaram que a janela de contratações do Inter foi a melhor. Eu estava presente liderando o pessoal. Ontem eu era o melhor dirigente do Brasil por contratar as pessoas certas, mas as coisas não ocorreram. Eu posso receber críticas e é justo. Nunca me eximi.

Mauricio, Aránguiz e Bustos deixaram o Inter recentemente. Essas saídas têm alguma relação com o comando no vestiário?
Isso não é comando de vestiário. Tem relação com o que cada um quer. O Mauricio saiu por uma questão financeira. Temos uma meta a cumprir. O presidente faz tudo para enxugar as dívidas. Ainda mais com o grupo que montamos. Não sobrevivemos sem vendas. O Mauricio não saiu por não estar bem. Ele era o principal ativo do clube. Precisávamos fazer girar, colocar as contas em dia, pagar salário. A saúde financeira do clube.

Com o Bustos e o Aránguiz foi diferente.

Temos uma meta orçamentária de fazer R$ 135 milhões em negociações. Com a queda na Copa do Brasil, deixamos de faturar. Saímos na terceira fase. Tínhamos planejado alcançar a semifinal. Isso acarretou a venda do Bustos. O Aránguiz é um jogador mais velho. Tive conversas com ele sempre com respeito. Sempre procurei tê-lo em campo, falando com o departamento médico de tê-lo à disposição, mas tinha um edema ósseo e a dor. Se ela passou quando chegou lá (no Chile), não sou eu quem tenho de responder, não sou médico.

O Valencia pediu para ir embora? Ele está incomodado no Inter?
Não. O Valencia é o cara que mais se cobra a fazer gols, a acertar. Ele tem consciência do tamanho dele, do que representa ao Inter e ao futebol sul-americano. O Roger até já falou isso. O Valencia é o cara que a bola precisa chegar em uma condição de velocidade. O Roger trabalha isso.

Para o Wesley render no um contra um, é em função de o Valencia abrir espaço do outro lado. Você vê o giro do Valencia, mas a bola não chega nele. Invertemos. Tinha uma forma de jogar com o Coudet e agora outra com o Roger. Para o Wesley ser o que foi, o Valencia tinha de tirar o defensor, levar dois ao outro lado. Ele pode não ser o cara do gol, mas taticamente nos ajuda muito. No GPS é um dos que mais corre. Não há insatisfação, mas, novamente, (falta) resultado.

Como é sua relação com o Valencia hoje, após aquele episódio na saída de campo ano passado?

Muito boa. Eu não o conhecia e ele não me conhecia. Nos acertamos no outro dia. Nos trancamos em uma sala, tivemos uma conversa muito boa e saímos dali abraçados. Depois do River, ele me abraçou. É isso. O que ocorre no vestiário, fica lá. Isso já aconteceu muitas vezes. Eu quando era jogador, no ímpeto de vencer... Mas ali ficou público porque foi aberto.

Antes de deixar o clube, Coudet disse em algumas entrevistas que estava cansado. Ele pediu para sair ou foi demitido?

Ele nunca pediu para sair. A decisão foi única e exclusivamente da diretoria, do presidente. O presidente entendeu que já estava desgastado, que o Coudet já não conseguia mais os resultados. Foi uma decisão do presidente e precisamos respeitar. O Coudet em momento algum pediu para ir embora. O presidente tem a sensibilidade de entender, de não ter o mesmo brilho, de estar desgastado. Por isso a mudança. Eu disse que ele nunca pediu para ir embora, o presidente também. Se constrói a narrativa. É sempre o corredor do Beira-Rio. Não sei se tem fantasma que perambula aqui e soltam o que houve no vestiário. Até inverdades e se criam mais polêmicas.

O Inter tem alguma pendência com o grupo de jogadores ou ex-treinador? Deve algo?
Salário todo em dia.

Por que o Inter escolheu o Roger Machado?
O Roger é da bola. Sou suspeito para falar dele. É ex-jogador, foi o meu último treinador. É um cara que tenho respeito e carinho muito grande como amigo. Eu fiz o que pude para que viesse. Primeiro: ele conhece a aldeia. Sabe onde é Alvorada, o que o estado passou com a enchente. Tem a sensibilidade de não termos os campos perfeitos para desempenhar o melhor treino. Sabe que o vestiário dele será um cantinho, com dois aquecedores que colocamos.

A qualidade dele desde quando trabalhei só evoluiu. Ele foi campeão no Bahia, no Atlético-MG e teve, principalmente no Bahia, um período muito bom. Tem tudo para dar certo. O sucesso do Inter passará pelo Roger e os jogadores. Sou mais um condutor para que as coisas ocorram da melhor forma. Fizemos uma janela, mas não aconteceu. Pegamos a enchente e o trabalho vai por água abaixo.

 

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