Assistir ao Inter nos últimos dias tem sido uma experiência desanimadora.
Se não bastasse os 90 minutos em Erechim, em menos de meia hora nesta quarta-feira os diálogos entre eu e meu pai já eram de puro desalento: quê diabos este time está tentando fazer em campo?
O Inter sem sombra de dúvidas tem um início assustador, conseguindo a proeza de abrir a temporada - com o maior rival afundado na Série B - puxando para si mais uma crise e pela total falta de perspectiva.
O que mais assusta o torcedor (ainda que falando em um nível pessoal, mas tentando abraçar visões em comum) não é somente os péssimos resultados frente adversários aquém de qualquer nível minimamente razoável, mas uma série de inconsistências que vão se tornando corriqueiras em uma direção entre as mais atrapalhadas dos últimos anos.
Tudo começa com o SCI, ainda em 2021, reclamando da falta de "tempo" para a pré-temporada de Miguel Angel Ramirez, após um calendário realmente espremido devido à pandemia. Um ano depois, o que o departamento de futebol faz? em vez de extender os trabalhos de preparação - com calma e tendo mais espaço para criar um ambiente propício pensando a longo prazo, como o Athletico-PR tem feito - físico e tático ela rasga o argumento de meses anteriores e opta por iniciar com o time principal em nem 20 dias de preparativo. Assim, já começamos a desconfiar que o que existe no Beira-Rio são desculpas mas nenhum senso de como se projetar o que se almeja.
Ademais, se não bastasse o risco por se trazer um treinador com nem 5 anos de carreira, completamente desconhecido sobre a realidade do futebol brasileiro e do elenco vermelho, o SCI agora mostra-se um deserto de ideias, um vazio completo dentro das 4 linhas, algo apavorante.
Após assistir as partidas com força máxima no Estadual parece impossível perceber o que o comandante colorado de FATO deseja como estilo de jogo. Talvez a linha alta defensiva seja a única coisa realmente visível, mas é justamente ai um dos maiores problemas do time, uma defesa completamente atabalhoada, sem proteção ou encaixes de marcação, que tem se mostrado presa fácil para qualquer Zezinho com um par de chuteiras.
Nesse interím de NADA menos NADA (na verdade é nada mais uma série de defeitos), o Inter aumenta uma espécie de "caça às bruxas", que derrete o clima coletivo e qualquer autoconfiança: meia dúzia de jogadores não servem em nenhuma hipótese, somente porque estão há mais tempo (logo, os recém-chegados serão os inúteis dos próximos meses). Boas atuações particulares não fecham os dedos de uma mão. Enquanto isso, a busca por soluções individuais e milagrosas escancaram a nulidade coletiva de um esporte que é, antes de tudo, um nós. Nenhum dos adversários que enfrentamos possuem peças melhores que Heitores, Davids ou Lizieros, mas a consistência e a mínima competitividade coletiva os torna no mesmo nível (ou até melhores). De maneira inversa, afundamos a tudo e todos em um despovoado, que tenta jogar um esporte por vezes conhecido como futebol.
Nesse contexto, não parece minimamente inteligente fazer avaliações individuais visto que, para tal, faz-se necessário qualquer mínima organização, jogo coletivo e ideias em um caminho comum, elementos que não caem do céu ou são decididos de modo singular. O x da questão, porém, é se Medina conseguirá suportar uma pressão em um ambiente onde é completamente virgem, enquanto no seu lado há uma lista de diretores que cada dia dão mais e mais sinais de que só sabem dirigir um clube no Play Station.
Em nem um mês de temporada, o Inter atemoriza seu torcedor, e não faltam motivos para catalogar.
2022 será longo.
Por Alan Rother