Retrospectiva aos imbecis: o dia em que a Libertadores virou papinha de criança

Texto por Colaborador: Redação 06/04/2023 - 17:00

Leia o seguinte relato e tente, por gentileza, adivinhar de que temporada exatamente estamos falando do Internacional: “após x anos, o SCI voltou a jogar pela Copa Libertadores da América, na noite desta X-feira, no interior da X (um pais sul-americano). A equipe ficou no 1x1 com o X, na sua estréia pelo grupo X da competição, resultado inesperado, pois o Colorado era o favorito absoluto, algo admitido até mesmo pelos adversários”.

Agora, já ciente de que estamos falando de 2006 e não 2023, relembre com mais detalhes:

“O Inter, jogando a favor do vento, que era forte, como já havia sido alertado, tentou tirar proveito e começou pressionando, mas sem muita objetividade e proporcionando alguns contra-ataques aos donos da casa. O empate, ao final do primeiro tempo, acabou sendo justo, pois ninguém criara o suficiente para abrir vantagem.

Nos instantes finais o Maracaibo, desesperado, perdendo em casa, passou a levantar bolas com insistência para a área colorada. E foi assim que, aos 43, chegou ao empate. Numa cobrança de falta a bola foi no canto direito e, após defesa de Clemer, sobrou para Maldonado, que bateu dentro da pequena área e empatou. O Inter fora melhor, mas volta para casa com apenas um ponto”.

Talvez os mais novos não recordem com tamanha exatidão mas podemos garantir que o time colorado foi cozinhado vivo após o debute daquele ano. Nenhum elogio a atuação do time, considerada pela imprensa como “vexatória”. Antes, o Inter fazia um gauchão mediano, enquanto perderia a grande final para (sem dúvida) o pior Grêmio dos últimos 20 anos. A obscura certeza já pairava: como um time que não ganha do MARACAIBO seria campeão?

Em 2006, além disso, o clube somava 13 anos sem conquistas importantes, tendo perdido anos antes o Brasileiro – da forma traumática que todos já sabem – além de cair na Copa do Brasil na semifinal para um desconhecido Paulista, sem falar nas Sul-Americanas para o Boca.

Na sequência, para os que ainda romantizam erroneamente o passado, o Internacional faria jogos bastante fracos contra Pumas em pleno Beira-Rio, além de Nacional, no Parque Central, passando com extremas dificuldades nas oitavas de final, quartas e semis. Dá para dizer que, tirando as duas grandes finais, o Inter era um time com grandes momentos, mas que era dominado com frequência, mesmo para times inferiores mas bons coletivamente. Libertad, LDU e Nacional, não marcaram em Porto Alegre por obra do destino, enquanto o mesmo ocorreria em 2010, ainda que com traços diferentes: atuações DESASTROSAS fora de casa eram rotina quatro anos mais tarde, mas um clube já mais autoconfiante, de grande qualidade técnica em alguns setores - e com uma torcida realmente acima da média naquela época – conseguia fazer o dever de casa, mesmo que na sofrência. Receitas diferentes mas que possuíam um ponto em comum: JAMAIS foi fácil ou vimos um show do SCI em grande parte das melhores campanhas continentais.

Em 2010, as atuações do Inter contra Cerro, Emelec e Dep. Quito, isso sem falar da fase eliminatória contra Banfiel e Estudiantes, davam sinais claros de que o time era muito bom tecnicamente, mas não alcançava a famosa “liga”, essencial para potencializar um elenco robusto visando o "encaixe" na hora certa, nos mata-matas. Esse ponto chave no futebol, quase metafísico, ocorre por fatores que nem sempre são totalmente explicáveis, ainda que a torcida e grande imprensa sempre apresentem as suas soluções: contra o Caxias na Serra bastava trazer o Matheus Dias e PH entre os XI. Na volta, bastava ter um centroavante, vivendo em círculos que mantém o padrão de que o de fora é sempre a solução até que… entre no time. Quando o macro e o coletivo não estão afinados, não há casos individuais que resolvam, mas até que isso aconteça, é preciso seguir lutando, sobretudo contra seus próprios demônios. 

Parece claro que o Colorado ainda não dá pinta nem amostras de que será o grande campeão, mas a única certeza que essa afirmação traz é de que sempre foi assim nos anos anteriores. O maior finalista continental, Boca Jrs, com 31 participações, venceu 6 e perdeu 25, evidencia que se hoje qualquer um de nós quiser apostar que o SCI não vai ganhar o tri, as chances são sempre imensamente maiores de acertar. No entanto, o que esse tipo de visão meramente numérica esconde são os contextos e os pequenos detalhes que te deixam maior a cada percalço, nos dados "inacessíveis" pela mera calculadora. O Inter de 2006 ou 2010 não era perfeito ou vencia com o pé nas costas, mas quando superava cada adversidade - como não perder em uma mísera estreia continental para poder se classificar - dava passos importantes que precisam ser observados com perspectiva real, não essa que imagina um time perfeito, ainda mais com o atual elenco limitadíssimo que, felizmente, poderá ser ajustado no segundo semestre, "na hora certa". A única certeza que talvez tenhamos então é justamente essa, a de olhar para o passado e aprender minimamente como as coisas aconteceram, sem romantizar, como costumeiramente se faz ou se quer esquecer, como os cronistas. 

Veja bem: não estamos afirmando que o planejamento da direção é maravilhoso, impecável, que tudo são rosas e nosso time não pode jogar um pouco mais, pois semanas atrás descemos o cacete pela atuação no GreNal. Mas o que se viu na coletiva pós-empate em Medellín foi demais, sendo o mesmo que ouvimos minutos depois do empate em 2006, numa espécie de imbecilização de que o Inter joga e vence apenas quando quer, mesmo quando tem um elenco júnior no banco. Em 2010 tínhamos uma lista de suplentes com Taison, Andrezinho, Giuliano, Eller, Damião, Walter, e com todos esses jogadores não tivemos UMA partida facilitada. Porque diabos teria agora, em 2023? Foi demais, além da conta e irritante. O clube internamente tem razões para se revoltar com essa postura. Estamos aqui justamente dando as razões que provavelmente eles não podem falar, mas é muito mais do que isso, trata-se de ser minimamente justo.

Libertadores é um torneio difícil para qualquer um, mas uma equipe - sempre ao lado da torcida - se torna campeã no decorrer, não estando já pronta ou campeã em Abril. São nas dificuldades surgidas que esse caminho vai sendo construído ou não, mas é um filme em aberto que depende de todo um contexto e até da sorte. Em 2006 e 2010 as equipes campeãs jogaram MUITOS jogos ruins, mas quando o Pumas (talvez até pior do que o DIM) fez 2 a 0 em pleno Beira-Rio, a torcida enlouquecidamente cantou mais alto. Nesse bolo, os treinadores também foram mudando (ou foram sacados) as formações até um acerto maior, não caindo do céu nos primeiros meses do ano. Essa sintonia não era total já que a desconfiança pairava em cada momento de dificuldade devido aos anos de seca. Nas oitavas o time saiu vaiado, sobretudo após ter perdido o Gauchão para mais de 50 mil colorados, com um público horroso naquela noite (vejam as fotos, o estádio estava vazio em plena oitavas). Mas aquele momento, de clara fraqueza, ofertou um salto interno: mesmo quando era para dar tudo errado, nós passamos. Ali, abriu-se um novo horizonte. Grande parte da grande imprensa não quer ver isso, já que vende o mentiroso conceito de que o SCI joga praticamente sozinho, sem rivais, e tudo está apenas nas suas mãos. Mas não é assim pelo simples fato de que nunca foi assim. Qual argumento eles tem para sustentar o contrário? A história da cabeça deles?

Esse horizonte vai ser aberto ou não em 2023? não sabemos e ninguém sabe, a única certeza que podemos afirmar é de que não será fácil, independente de quem estiver no outro lado.

VIA EDITORIAL

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