O que se viu neste 19/3/2022 foi inacreditavelmente revoltante, mas não surpreendente. Já haviam sinais.
Em 2021, após ser vice-campeão brasileiro sem as 4 maiores folhas daquele campeonato – o que exige muita competência até para ser vice – meses depois o SCI terminava há cinco pontos do Grêmio, primeiro rebaixado, em uma das piores campanhas coloradas na história dos pontos corridos. Como se destrói tudo em tão pouco tempo?
Alessandro Barcellos, ao lado de seus colegas de cartilha, em nem dois anos de gestão estão conseguindo se superar na mais caótica e desprezível administração do Sport Club Internacional.
Nada ultrapassa a total incapacidade desses indivíduos em captar leituras mínimas do que se passa no clube e quais seriam as decisões mais próximas do acerto. Mas ofereço uma possível resposta, que habita o seguinte tópico.
Retranca x Jogo Ideal – o discurso do que ‘é o Futebol’
A base “ideológica” futebolística da atual gestão começa aqui, numa visão simplista do que seria o esporte bretão. De uns anos para cá se passou a utilizar adjetivos por parte da mídia - e torcedores - em relação a conceitos que antes eram classificados como simples estratégias. Assim, sob essa perspectiva, o futebol automaticamente se reduziu em dois viéses: proativo, ter a bola e jogar no campo rival (= futebol de verdade e vencedor) enquanto o ‘antijogo’ (e também derrotista) passou a ser sinônimo de retranca, ou reativo. Nada mais infantil do que classificar a realidade em uma simples dualidade, mas foi justamente isso que eles fizeram.
Enquanto antigamente se analisava o futebol não de maneira metafísica (a essência das coisas) mas a nível tático e de estratégia, se aceitava que as equipes poderiam alternar qualquer etapa desses modelos durante os 90 minutos, sem problema algum. Alguns elencos iriam se encaixar mais em um modelo ou outro, mas não sairia disto um discurso explicativo que, consequentemente, resultaria em uma causa da falta ou não de conquistas, ou seja, “venceremos somente graças ao modelo em si”. Nesse ambiente discursivo, bons trabalhos que se encaixaram ao momento do Internacional foram crucificados (como de Odair Hellmann e Abel Braga) enquanto se buscava dar o exemplo de que a bola sempre batia na trave porquê os treinadores eram insuficientes ao “propositivo e vencedor”.
Baseados nesse discurso imaturo, a direção interrompeu todos os processos internos, colocando o clube no caos: não há valência alguma em nenhum aspecto do jogo, o clube se destrói sem nenhuma capacidade de liderança e a caça às bruxas segue solta, ampliando um ambiente de autodestruição.
Percebam que ofereci uma narrativa sem citar um mísero jogador, porque embora o Internacional tenha um plantel nada mais do que mediano, é insustentável que o clube precise de mais para vencer 13 jogos em que – individualmente – era melhor que todos os adversários da Copa do Brasil e Gauchão. Nesse aspecto, um trabalho diretivo alinhado em percepções erradas cega completamente os dirigentes no Beira-Rio, que não conseguem avaliações minimamente coerentes ou factuais.
Era altamente recomendável que 2022 se apresentava como o ano de se fazer o básico, não inventar a roda, o feijão com arroz: em vez de apostar num jogo idealizado seria preciso buscar o primordial para uma equipe se sustentar até uma nova identidade oferecer reais possibilidades de um passo adiante, não um salto gigantesco, como tem sido tentado. A forma como o SCI pretende jogar é arriscada (pois exige menos erros) demais para um clube que não tem qualidade nem confiança para perder, é por isso que Odair Hellmann – logo após assumir o Colorado em 2018 – disse que o motriz de seu trabalho seria a solidez defensiva, porque ele conhecia o local onde estava pisando e sabia com quais meios alcançaria. Em vez de idealizar o futebol o Internacional só alcançou mínimo sucesso recente quando teve cabeças que sabiam interpretar o momento, pensar e agir com lucidez, ou seja, entendiam do ramo.
Deste modo, se a atual direção não sair da bolha e mantiver os discursos inaceitáveis após o Gre-Nal deste sábado, corremos o risco de ver o fundo do poço parecer pequeno.
Por último, o simples desabafo de um sócio desde 2007.
Atentem-se para a realidade, bando de incompetentes: o Internacional conseguiu a proeza de perder para o pior Grêmio do século, não foi para o time de Renato como nos anos anteriores com bons valores individuais, mas para o pior, O PIOR! Foi o maior vexame que presenciei do Inter em casa para o rival, isso é imperdoável. Em 2018, com ZECA, FABIANO, KLAUS, ROSSI, POTTKER, LUCCA, UENDEL e JONATHAN ALVEZ, o Inter foi terceiro do Brasileiro, já tivemos bases imensamente piores do que a atual. O SCI precisa antes de tudo de trabalho coletivo, sem isso, nenhuma individualidade irá se sobressair. Mas no momento isso parece pedir demais. De baixo dos panos eles (dirigentes) falarão que falta sair o X, o Y e o Z para a "nova cara do elenco", enquanto não conseguem liderar absolutamente nenhum processo interno. Tivemos Bustos, Caique, PV, Gabriel, Liziero, David, Wesley, Mendez mais de 2/3 do elenco formado desde o ano passado. Ah, mudou muito? Futebol é antes de tudo um esporte cooperativo, de ações coordenadas, sem isso, não há como se falar de peças individuais!!! Essa etapa é a ponta do iceberg e deve ser focada quando construída uma base sólida por baixo, de sustentação.
Por Alan Rother