A fase é boa no Beira-Rio. Com a vitória de 3 a 0 sobre o Cuiabá, conquistada na segunda-feira (16), o Clube do Povo chegou a três triunfos consecutivos no Brasileirão – e quatro seguidos no Gigante -, atingiu 38 pontos na tabela e entrou de vez na luta pelas primeiras posições do país. Depois do jogo, o técnico Roger Machado esteve no centro da mídia especializada, sendo cotado como o grande mentor e responsável do retorno colorado ao bom futebol. Confira um compilado com as principais avaliações sobre o comandante alvirrubro, que completou nesta terça (18) somente dois meses de trabalho na casamata:
Diogo Olivier - GZH
Não faz muito, jogos assim eram um suplício torturante no Beira-Rio. O torcedor se afastou do estádio por isso. Será que voltará ainda este ano?
Sempre havia um erro medonho, um azar tráfico recorrente, um desequilíbrio emocional, nervos à flor da pele. Uma tentativa de repetir o que claramente não funcionava. Agora, não mais.
O Inter agora ganha divididas. Disputa. Compete. Reduz a margem de erro.
Não é mais lento, pela mobilidade de todos. Roger assumiu na porta do rebaixamento e já briga por G-6. Mesmo que não dê tempo, o que pode acontecer, pelo atraso inicial na competição, uma verdade precisa ser dita.
Roger Machado já salvou o Inter em 2024. O cenário antes dele era pesado.
Alexandre Alliatti - GE
No fim do ano, quando acontecerem as cerimônias de premiação do Campeonato Brasileiro, é provável que os troféus de melhor treinador repousem nas mãos de Artur Jorge (Botafogo), Juan Pablo Vojvoda (Fortaleza) ou, como de costume, Abel Ferreira (Palmeiras). E será justo. Mas há, discreto, sem os holofotes da briga pelo título, um outro nome que merece lembrança: Roger Machado.
A soma do que Roger fez no Juventude e no Inter o coloca entre os bons nomes do campeonato – e da temporada. No primeiro, transformou uma equipe modesta em um time muito organizado. Eliminou o próprio Inter duas vezes: primeiro no Campeonato Gaúcho, claramente vencendo o duelo tático com Eduardo Coudet nas semifinais, e depois na Copa do Brasil. Se o Juventude conseguir se manter na Série A, e provavelmente conseguirá, será, em grande medida, por causa do trabalho iniciado por Roger.
E agora no Inter. Roger pegou um elenco em frangalhos: desnorteado na tática, abalado no mental, defasado no físico – consequência do período sem treinos por causa da enchente que devastou Porto Alegre, mas também da evidente perda de rumo de Coudet após a queda no Gauchão.
Eu havia escrito aqui neste blog, há cerca de um mês, que a luta do Inter no Campeonato Brasileiro era contra o rebaixamento. Eu estava errado. Com menos de dois meses de trabalho, Roger deu novo rumo ao time. A eliminação também na Sul-Americana teve como efeito colateral oferecer ao treinador tempo para treinar. O elenco se recuperou do período sem trabalhos na enchente, voltou a ser competitivo, e aí começou a aparecer o dedo do treinador.
Roger encontrou um novo lateral-esquerdo (Bernabei), remediou o problema da lateral direita com um volante improvisado (Bruno Gomes), fixou uma dupla de marcação no meio (Fernando, jogando muito, e Thiago Maia) e conseguiu fazer a equipe recuperar a fluência ofensiva – uma característica dos melhores momentos com Coudet. Colocou no time titular um garoto de 17 anos (Gabriel Carvalho) e levou ao banco o jogador mais badalado do elenco (Enner Valencia). São evidentes as digitais do técnico no crescimento do time.
Nos últimos cinco jogos, foram quatro vitórias e um empate. O Inter, antes ameaçado de rebaixamento, agora está a quatro pontos da zona de classificação para a Libertadores, e com dois jogos a menos do que a maioria dos rivais. É bastante plausível que esteja no torneio em 2025 – até porque o número de vagas tende a aumentar.
Isso tudo faz desta temporada uma espécie de retomada para Roger. Ele passou mais de um ano afastado do futebol – desde a demissão no Grêmio em setembro de 2022. Antes, havia tido passagens de pouco brilho (ou efetivamente frustrantes) por Fluminense, Palmeiras e Atlético-MG, que de certa forma eclipsaram seu ótimo começo de carreira, quando estruturou aquele Grêmio que, com inegáveis méritos de Renato Gaúcho, ganharia a Copa do Brasil de 2016 e a Libertadores da América de 2017.
Fico feliz de ver Roger de volta à cena, de vê-lo sendo aplaudido no Beira-Rio, como aconteceu nesta segunda-feira, na vitória de 3 a 0 sobre o Cuiabá (uma cena impensável até alguns meses atrás, dada sua relação histórica com o Grêmio). Gosto de como ele vê o mundo, de seu amor pela leitura, de sua postura antirracista – embora considere questionável sua saída do Juventude.
Mas gosto dele especialmente como treinador de futebol: de sua predileção por times que joguem pelo chão, que tenham a posse, que avancem em bloco, mas que também, quando necessário, se adaptem a um estilo mais pragmático (como ele fez no Juventude). É uma visão que ele me explicou, em uma entrevista em 2022, de um jeito que achei muito interessante. Compartilho aqui:
– Eu gosto da estratégia. Gosto do futebol como paixão nacional, mas tenho adoração pelo futebol como estratégia de batalha campal. É como se fossem dois exércitos. A bola é a bandeira que tu precisa fincar no território do adversário, como se fosse uma morte simbólica. Assim como na batalha campal, a gente tem os ataques aéreos e os ataques terrestres. Eu posso pegar a granada, tirar o pino e jogar de mão em mão, até chegar ao território do adversário. Mas também posso pegar essa granada, jogar por cima, e ela pode surtir o mesmo efeito.
É bom ter alguém com uma visão dessas no futebol brasileiro. Acredito que a carreira de Roger não é, até agora, condizente com sua qualidade – como se a prática não alcançasse a teoria. O Inter, por décadas tido como seu rival, pode ser um inesperado ponto de virada para o treinador.
Maurício Saraiva - GE
O maior elogio ao Inter está na manchete. Um clube deste tamanho não pode ter vitória épica sobre quem está no Z-4 e é menor como é o Cuiabá.
Dentro de campo, com naturalidade e superioridade técnica, tática, individual e coletiva, o time de Roger Machado se repetiu e isso também é um elogio. Não houve inovação, surpresa, mudança ou revolução. Houve simplicidade, outro elogio.
Jogadores escalados onde rendem mais, características complementares no meio-campo e setores compactados fazem o combo de mais uma boa atuação colorada.
São três vitórias escudadas em performance. Não houve nada de épico na vitória do Inter. Aqui está a melhor noticia para quem veste vermelho.
Tomás Hammes - GE
O Inter, que chegou a assustar e flertar com a parte de baixo do Brasileirão, hoje mostra um futebol sólido e que confirma a expectativa criada no início do ano. Roger Machado conseguiu montar uma equipe que sofre pouco e, quando tem a bola, envolve o adversário. Crescem as chances de conquistar vaga à próxima edição da Conmebol Libertadores.
Roger, merecidamente, saiu aplaudido de campo e retribuiu o carinho das arquibancadas. O treinador, após um início turbulento, tem um trabalho que faz o torcedor sonhar. São cinco jogos de invencibilidade, com quatro vitórias no período, três consecutivas.
Vini Moura - GZH
A forma como a equipe treinada por Roger Machado troca passes e entra na área do adversário é incrível. Fizemos isso contra os mais diversos adversários.
Há muito tempo não se via torcedores tão orgulhosos na arquibancada do Beira-Rio. Durante a partida, perdi as contas de quantas vezes as pessoas presentes levantaram dos seus assentos para aplaudir de pé as jogadas do time. Além disso, todos os atletas receberam total apoio. Certamente, uma noite para reconectar de fato os colorados com o elenco.
O trabalho de Roger Machado segue evoluindo. É possível enxergar que o Inter consegue agregar mais qualidade coletiva e individual.
O crescimento em todas as áreas não é coincidência. Claro que é importante creditar os jogadores por conta do que estão conseguindo render. Porém, o nível das atuações deve receber a assinatura final de Roger, Paulo Paixão, D’Alessandro e Bisol. A cada jogo estamos mais perto da vaga para Libertadores que era improvável.
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