Em emtrevista ai site GloboEsporte.com, o ex-treinador do Inter Celso Roth, que comandou o clube na conquista do Bí da América em 2010, contou alguns detalhes e histórias da gloriosa vitória alvi-rubra naquela temporada. Confira os principais trechos.
TEXTO:
Saída do Vasco para assumir o Inter: "Naquele primeiro momento, foi muito complicado. Além de eu estar começando um trabalho no Vasco, o desafio de ir para o Inter estando numa semifinal de Libertadores, mesmo que tivéssemos tempo para trabalhar, eu tive uma dúvida muito grande. Porque mesmo que tivesse o tempo de 40 dias, o grupo me aceitaria? Mas eu sou talhado para desafios. Aceitei o convite do Inter. Felizmente, as coisas se encaminharam de uma forma que a gente conseguiu o resultado. Quando consegue o resultado, fica tudo bem.
"Quando eu cheguei a Porto Alegre para assumir o Inter, eu disse aos órgãos de imprensa que seríamos campeões da Libertadores. Porque o grupo, mesmo que estivéssemos em meio de temporada, era muito qualificado. Raras vezes tive oportunidade de trabalhar com qualidade técnica tão alta. Esse negócio que acho horrível de ser bombeiro tem esse problema. Mas eu tenho culpa nisso. Porque chegou um determinado momento da minha carreira que eu coloquei publicamente que os regionais não eram levados a sério. Aí, passei a trabalhar só no Campeonato Brasileiro. Faço mea culpa."
O risco de não ser campeão: "A vitória nunca cumpre o que promete. A vitória é efêmera. A derrota cumpre devastadoramente o que promete. Se eu tivesse perdido a Libertadores, certamente ficaria marcado. Marcado no Vasco, por ter saído, e no Inter, por não ter conquistado a Libertadores. Certamente minha carreira ficaria manchada pelas escolhas que eu fiz. Então esse era o risco da derrota. E a vitória é a vitória. Ela apaga tudo. Só que ela não dura. Ela dura só até o próximo jogo. Só isso."
Reconhecimento pela conquista: "Não. O torcedor do Inter tem imagem muito forte de ter ganho a primeira Libertadores e o Mundial juntos, quando ninguém esperava nada. Na segunda, tínhamos um time tão bom que fomos para o Mundial como favoritos, ou de igual força com a Inter de Milão. Todo mundo tinha certeza que o Inter ia chegar à final do Mundial. Quando não chega, frustra. A frustração leva a esse tipo de sentimento. Não ganhou, não chegou à final do Mundial, a Libertadores não valeu tanto quanto a primeira.
Sensação com o título: "A conquista da Libertadores é uma coisa fantástica. Inexplicável estarmos ali recebendo troféus, campo lotado, torcedores cantando. É indescritível. Inclusive eu tive essa honra de receber do Pelé a minha medalha. O alcance do objetivo, a vitória, fazer com que as pessoas fiquem felizes, sintam orgulho do time delas, isso é fantástico. O dia posterior, expressando esse sentimento através de buzinaços, camisetas, isso é o que a gente mais quer na profissão."
Ápice da carreira: "Sem dúvidas. A conquista do título até o momento é a maior conquista que tenho."
Receber a medalha das mãos do Pelé: "É fantástico. Eu tinha passado pelo Santos, tinha conversado com o Pelé por telefone, não o encontrei na Vila. E viemos nos encontrar no meio do campo do Beira-Rio. Eu falei isso para ele. Ele me deu os parabéns pelo que o Inter estava jogando. Nos abraçamos, nos beijamos, e ele me deus os parabéns dizendo simplesmente isso: "obrigado por resgatar o futebol brasileiro". Essa frase, eu não esqueço. Para mim, tem muito significado isso. A vitória é fundamental, é o que a gente procura. Mas ouvir do Rei do Futebol, isso para mim é fantástico. Tem gente que não dá importância para isso. Eu tenho dito que o reconhecimento de um jogador vale mais do que um título. O reconhecimento do Pelé vale bem mais do que um título."
A equipe de 2020: "Era um timaço. Tinha que arrumar um jeito de botar os três jogadores que estavam se destacando: Giuliano, Tinga e D'Alessandro. Esses três tinham que jogar. Então eu fiz o quê? Coloquei dois volantes, o Sandro e o Guiñazu, mais o Alecsandro na frente. Mas o time ficava com a bola o tempo inteiro sem profundidade. Essa profundidade veio com o Taison. Aí, infelizmente tinha que escolher um para sair. Quem eu escolhi? O melhor jogador da América. Veja se esse time não tinha qualidade técnica?! O Giuliano foi sacrificado, que era nosso 12º jogador. Dentro de uma simplicidade de fazer e juntar jogadores de qualidade técnica, tive essa felicidade de achar a maturidade do time tecnicamente e profundidade com o Taison."
Preparação para final no México: "Nós fomos quatro dias antes para o México. Realmente uma viagem muito longa, desgastante. Conseguimos treinar na véspera e na antevéspera no campo de jogo. Foi fundamental para termos adaptação. É mérito da direção. Futebol se ganha dentro e fora de campo, com os cuidados que a gente tem que ter em todos os detalhes. Essa foi a preparação, além de termos todas as informações, todos os vídeos, estudado o Chivas."
Jogo da volta no Beira-Rio: "O Chivas normalmente tinha o controle do jogo pela qualidade dos seus jogadores. E lá foi o contrário. Quando viemos para cá, o Chivas não jogou como vinha jogando. Nos surpreendeu. Marcou muito o Inter e não tentou jogar. Começou a botar a bola na área do Inter para brigar pela primeira e segunda bola. Tivemos problemas no primeiro tempo. Nos assustou tanto que acabou fazendo gol. No intervalo, eu mudei o esquema. Estávamos jogando no 4-2-3-1. No segundo tempo, nós jogamos no 4-2-2-2. Na frente, junto com o Sobis, eu coloquei o Taison. Deu resultado. Tanto que fizemos o gol de empate. Depois desse gol, tomamos conta do jogo e voltamos a ser o Inter que fomos lá no México"
Como ficou a vida depois do rebaixamento em 2016: "Está normal. Eu nunca deixei de fazer as minhas coisas. A torcida reconhece muito meu trabalho. Sabe que o que aconteceu em 2016 não foi técnico. Aliás, foi técnico, mas tinha razões para ter acontecido. Estamos vendo aí. Existem encaminhamentos de processos até hoje. Eu trabalhei 64 dias no Inter, ninguém consegue fazer nada. Depois que as coisas vieram à tona, o torcedor ficou sabendo. Não tinha como alguém dar a volta para poder não deixar o Inter derivar para aquela situação que já estava alinhada para acontecer antes de a gente chegar ali."