A história do Inter tem em Abel Braga uma de suas figuras mais marcantes. O treinador conduziu o clube às conquistas da Copa Libertadores e do Mundial de Clubes em 2006, além de diversos outros títulos. No entanto, sua relação com o Colorado teve momentos difíceis, como a eliminação na semifinal da Copa Libertadores de 1989, que até hoje o faz refletir sobre suas escolhas.
“Esse jogo contra o Olimpia me marcou muito. Me fez me questionar várias vezes. Eu era jovem e, se tivéssemos passado, seríamos campeões. O Atlético Nacional, que venceu aquela Libertadores, não era o time forte e respeitado que é hoje. A grande dúvida que carrego é por que não joguei mais fechado. Mas eu não era esse técnico de retranca, de jogar com medo. Se fosse, eu não teria ido para cima do Grêmio no Gre-Nal do Século, mesmo com um jogador a menos, e conseguido a virada”, declarou Abel em entrevista a Duda Garbi.
Naquela semifinal, o Inter venceu o Olimpia no Paraguai por 1 a 0 na ida. No jogo de volta, no Beira-Rio, o Colorado empatou duas vezes, mas sofreu o terceiro gol e acabou eliminado nos pênaltis. Para aumentar a frustração, o time desperdiçou um pênalti quando a partida ainda estava em 2 a 2.
Abel também relembrou o início de sua trajetória vitoriosa em 2006, quando assumiu o Inter sob uma exigência clara do então presidente Fernando Carvalho: “Ele me disse: ‘só tem uma coisa, não pode ser tão faceiro’. Eu respondi: ‘é difícil, Fernando. Eu não consigo. Posso adotar uma estratégia mais defensiva sem a bola, mas meu time joga com três atacantes’. Eu sabia que carregava um estigma de ser ‘bi-vice’, e até meu filho ouvia brincadeiras na escola sobre isso. Mas eu dizia: ‘chegar em finais não é por acaso. Tem que ter capacidade para isso’”.
Outra cicatriz que Abel carrega daquela temporada foi a perda do título Gaúcho para o Grêmio dentro do Beira-Rio. “No fim do jogo, estávamos ganhando por 1 a 0, e eles tiveram uma última falta. Meteram a bola na área e tomamos o gol. Saí dali arrasado. Desci a escada, chutei tudo e falei para o Leomir: ‘estamos fora’. Já me via demitido. Até que o Fernando Carvalho entrou no vestiário e disse: ‘o que está acontecendo aqui? Morreu alguém? Eu falei que quero ser campeão da Libertadores’. Aquilo mexeu comigo. Decidi que ia dar a volta por cima, custasse o que custasse.”
A resposta veio meses depois, com a conquista inédita da América e do Mundo.