Quando avaliamos um trabalho precisamos levar em conta que os primeiros três meses não significam sequência ou repetição nos últimos nove. Tanto o comando - mas sobretudo os treinamentos – devem ser realizados em etapas, com cada segmento de uma equipe sendo construído em fases.
Existem inúmeros treinadores excelentes em dar resultado nos primeiros meses, Celso Roth, por exemplo, era mestre nisso. Argel, da mesma forma, moldou sua fama de ‘apagador de incêndios’ em clubes desesperados, quase sempre com bons frutos. Da mesma forma, porém, há o meio termo, com comandantes sendo bons no início e meio, mas sem nunca alcançar um fim, como Enderson Moreira, Jorginho, Alberto Valentim. Na ponta estão, teoricamente, os de longo prazo, que passam por todas as etapas de um trabalho mantendo equipes competitivas e com vários estágios de jogo articuladas, mesmo com altos e baixos (que são regra, em todos os casos).
Primeiramente poderíamos conceituar que o ponto forte dos treinadores de tiro curto são por arrumarem suas defesas, basicamente explorando os contra-ataques e geralmente povoando a meia-cancha. Com estruturas sólidas em equipes instáveis, essa fórmula costuma dar certo até os adversários manjarem certos padrões de jogadas/movimentações, ao ponto de explorá-las. Quando isso decorre, a confiança baixa (mas a pressão aumenta) e tudo começa a desandar novamente, voltando ao ponto inicial.
O intermediário costuma passar pela etapa inicial demonstrando mais elementos futebolísticos: além da "retranca", consegue jogar com transições apoiadas, capacidade de circulação de bola, jogadas ensaiadas, marcação baixa ou alta, mas, da mesma forma, quando o nível começa a se tornar mais exigente, não se sustentam da mesma forma.
Por outro lado, os treinadores de alto nível são os que conseguem avançar em todas as etapas e mesmo quando o time chega num limite (tendo todos os níveis básicos adequados), se reinventam com novas opções táticas, boas trocas ou estratégias para jogos específicos. Esse tipo de trabalho, porém, requer mais tempo, um elenco que se ajuste e certa paciência. No Brasil, todavia, quase todos os clubes vivem entre a fase 1 e 2, sem conseguir se sustentar no passo 3 a longo prazo devido à alta competitividade do nosso futebol, além das inúmeras mudanças de elenco - em um mercado essencialmente exportador - e impaciência.
Andei e divaguei nesse itinerário para basicamente adentrar no caso colorado: em qual modelo Diego Aguirre se enquadra? Sob meu ponto de vista é claramente um treinador para trabalhos iniciais, para tampar buracos em final de temporada ou com vestiários desajustados. Por possuir uma enorme capacidade de liderança, rapidamente suas equipes se integram em seu modelo reativo e extremamente conservador, todavia, ultrapassado os três meses, o que se nota? Uma sequência de limitações ofensivas, soluções repetitivas ou pouco criativas, fadado à estagnação.
Após uma incrível sequência de 7 vitórias (com apenas 1 derrota e 4 empates) em 12 jogos, o Internacional começa a entrar no seu estado normal de comando, somando 1 vitória, 3 derrotas e 2 empates nos últimos seis jogos. Pior do que os resultados, contudo, são os níveis de atuação como um todo: extremamente insatisfatórias para um clube do nosso tamanho.
Com uma transição inócua, lenta, o SCI parece uma carroça do meio para frente: a ocupação do setor de ataque é morosa, com quase nenhuma triangulação, aproximação, inversão ou ultrapassagens, não há dinâmica coletiva alguma. Nesse cenário, se não depender de uma jogada puramente individual em praticamente 99% dos casos, não criamos nada. Atrás, pelo lado inverso, a inserção de dois volantes - e paixonites sem explicação como por Johnny ou Guerrero repetidamente - dão o tom de trocas sem sentido, que seguram uma equipe mesmo em jogos com vantagem mínima ou contra times piores tecnicamente. Administrar o 1 a 0 em casa é quase lei, enquanto, por outro lado, jogar fora de casa sem nenhuma ambição é a máxima do comandante uruguaio. Que coisa mais irritante.
Nesta conjectura, o Inter morre abraçado no limbo da tabela - sem conseguir chegar no G6 nem se distanciar do grupo de baixo - mesmo contra equipes visivelmente mais fracas. Um dado relevante nisso tudo é que somente graças ao Grêmio e sua debilidade impressionante, a régua do Sport Club Internacional e dos colorados só tem sido puxada para baixo, como que nos obrigando a tragar a primeira coisa que nos apareceu.
Fui contra a vinda do técnico Diego Aguirre justamente por saber que seus times são uma repetição insossa rodada após rodada, mesmo que passando por bons resultados em certos momentos. Existem méritos claros no seu trabalho até aqui, no entanto, vencer um Grêmio em farrapos não é suficiente para conquistar títulos, para formar uma equipe com reais capacidades de título.
Por fim, se quisermos conquistas para 2022 em diante parece bastante evidente que necessitaremos de um comandante acima da média, que tenha reais capacidades de potencializar um elenco mediano para bom visando voos mais altos, com propostas. Posto isto, afirmo que não sei aonde se encontra este nome (pois seria preciso vasculhar o mercado, ver as reais possibilidades) e nem foi este o intuito inicial da coluna, entretanto, já sei que com Diego Aguirre teremos um 2022 tão insípido como as atuações e a atual temporada. Se esta for a nossa régua, estamos lascados.
Por Alan Rother
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