Alexandre Chaves Barcellos, segundo vice presidente do Inter, falou sobre os efeitos da pandemia do coronavírus em uma entrevista ao jornalista Hiltor Mombach, do Correio do Povo, em seu blog. A crise atinge o clube justamente quando as finanças começavam a se ajustar depois da gestão Piffero, que colocou a agremiação num rebaixamento inédito, abrindo um buraco deficitário de mais de R$ 60 milhões. O balancete de 2019 viu o déficit despencar para R$ 3 milhões. Com a pandemia do coronavírus e sem futebol, já se o escuta, dos dirigentes, as palavras falência e quebradeira. Confira suas respostas:
Há este risco com o Inter? (falência)
Com o Inter, especificamente, não. Há riscos de mercado, de eventuais atrasos de pagamentos, principalmente em função do período em que vamos ficar sem futebol. Há diversas ações de todas as áreas do clube e que visam renegociar com fornecedores, acordos judiciais, parceiros, além, é claro, de uma busca junto ao Congresso Nacional por uma legislação que tutele os interesses do “sistema do futebol brasileiro”. Nesta crise, não se trata de time A ou B, mas de encontrarmos soluções para toda a máquina do futebol.
O Inter já recorreu aos bancos?
Não é novidade a situação em que encontramos o clube em 2017. Havia, naquele momento, elevado endividamento bancário. Em nossa gestão, temos trabalhado no sentido de honrar todos os compromissos assumidos, sem perder de vista a saúde financeira. Neste sentido, temos mantido diálogo aberto e permanente com os bancos parceiros, para que possamos encontrar soluções que permitam manter o fluxo de caixa viável na pandemia.
Em que situação o futebol pode ser retomado?
Nossa prioridade, obviamente, é a saúde de todos. Temos testemunhado inúmeros artigos que preconizam maior ou menor relaxamento do isolamento social. O clube acredita que é possível retomar algumas atividades com protocolos de segurança que temos construído em sintonia com as instituições públicas de saúde. Nossa postura será de seguir as orientações dos órgãos governamentais e observar todas as normas de segurança para proteger nossos atletas e colaboradores.
Especulou-se a realização do restante da Libertadores em sede única, no Uruguai. O Inter aceitaria?
Qualquer competição esportiva necessita de igualdade de condições entre os participantes. Além disso, inúmeros fatores outros envolvem patrocinadores, logística, torcedores, sócios e redes de televisão e que precisam ser equacionados. Não somos refratários a novas ideias, todavia essa me parece inexequível.
Quanto se projeta de diminuição de receita, já que a previsão orçamentária era de R$ 397 milhões?
Como estimar redução de receita sem qualquer cenário no horizonte de volta das competições em situação de normalidade? Isto é difícil, todavia, já divulgamos alguns cenários que nos levam a indicativos de perda neste ano de R$ 100 milhões, o que será auferido, com um juízo maior de certeza, quando do retorno às competições. O que podemos afirmar, neste momento, é que as perdas serão muito consideráveis e vão demandar, de todos os envolvidos no futebol, um novo pacto, pois os danos se protrairão ao longo dos próximos 2 ou 3 anos.
Já há aumento da inadimplência dos sócios, que bateu nos 25%. O Inter tem estimativa de desistência?
O clube sabe que o momento é difícil para todos, inclusive para os sócios. É uma condição de mercado, não específica do Inter. Entretanto, acreditamos muito na nossa torcida, pois em muitos momentos de nossa história, extremamente complicados, tivemos inadimplência. Isto nos permite acreditar que agora o cenário se mostre um pouco pior pela extensão da crise e da falta de dinheiro no mercado. Temos convicção de que o nosso torcedor e sócio continuará ao nosso lado, apoiando como sempre fez; basta lembrar da época em que estávamos sem o Beira-Rio (2013/2014) ou quando passamos pela série “B”. Nossos marketing, administração e relacionamento social estão extremamente atentos a esse fato e com ações futuras já programadas e destinadas aos sócios.
Há um ranking apontando que o Inter tem a 5ª maior dívida de curto prazo entre os clubes da Série A, de R$ 250 milhões. Haverá negociação com os credores?
O clube tem sido bastante transparente no campo das finanças. Quando assumimos em 2017, com elevado endividamento, sem estrutura adequada de gestão e na Série B, com pesadas perdas de receitas, conseguimos manter ao longo do tempo diálogo transparente e permanente com nossos credores para honrar as obrigações assumidas pelo clube. Vínhamos, agora, importante ressaltar, em um momento de evolução financeira, com crescimento consistente das receitas em todos os níveis do clube no ano que passou e a redução proporcional dos compromissos em relação à geração de caixa. Obviamente, a pandemia criou uma dificuldade adicional e uma situação de mercado adversa. Entretanto, esta condição é para todos e, em função disso, o Inter acredita que a transparência e o diálogo continuarão sendo fundamentais para a criação de alternativas que viabilizem ao clube continuar honrando os compromissos assumidos.
Como está a negociação com a Turner?
Conforme já noticiado, a postura da Turner na mesa de negociação tem sido inflexível. Há grande dificuldade dos oito clubes envolvidos nesta contratação de anteverem uma solução por transação. Todavia, esperamos soluções para esse problema em um curto espaço de tempo.
Houve essa repactuação no contrato de televisão Globo. Especula-se que o Inter estará deixando de arrecadar neste momento R$ 16 milhões. Isto confere?
Conforme já referido, qualquer projeção de redução de receita neste momento é prematura e frágil. Vai depender muito do tempo que levarmos para voltar à normalidade das competições e em que condições. A Globo apenas postergou pagamentos, não reduziu valores.
Especulou-se que a Conmebol daria um adiantamento aos clubes que disputam a Libertadores. Chegou grana?
Tudo que foi anunciado pela Conmebol em relação aos clubes tem sido cumprido.
A Fifa se manifestou sobre a possibilidade de flexibilizar a janela de transação de jogadores?
Das reuniões que pude participar no CNC, como representante do Inter, este assunto está permanentemente em pauta e acredito que poderá haver, sim, uma flexibilização do período da janela.
Numa hipótese de o futebol retornar em setembro, quanto tempo demoraria para o Inter se recuperar do tombo? Um, dois, três anos?
Isto dependerá das condições em que voltarmos e das regras negociadas e acertadas entre todos os envolvidos no mundo do futebol, além da compreensão dos legisladores e do executivo federal. Mas se pode afirmar, com pouca chance de erro, que podemos estar falando em um período não inferior a dois anos.
Como está vendo o comportamento da CBF?
Mantemos diálogo aberto e permanente com a CBF. A CBF, muito pela própria desunião do clubes, tem sido vetor fundamental na organização de reuniões, proposição de pautas, elo de ligação para as demandas legislativas; enfim, tem auxiliado, dentro do quanto pode.
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