Em 2002, o Inter enfrentava um dos momentos mais dramáticos de sua história, lutando contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Foi nesse cenário de pressão que o presidente Fernando Carvalho fez um movimento decisivo ao chamar Cláudio Duarte, o "Claudião", para tentar salvar o time da queda. A missão era clara: salvar o Inter do rebaixamento, e a resposta foi uma vitória histórica no Mangueirão contra o Paysandu, em Belém, que se tornou um dos momentos mais lendários da história recente do clube.
Cláudio Duarte, que assumiu a equipe em uma situação desesperadora, recorda como a tensão era palpável. "Faltavam quatro ou cinco jogos e a situação estava pesada. Fizemos o melhor jogo contra o Cruzeiro, em casa, mas perdemos de 1×0 com gol de cabeça do Luisão. Demos um banho neles, mas perdemos", relembra. A derrota parecia decretar o fim do sonho de permanência na elite, mas o destino, de maneira surpreendente, ainda guardava uma chance.
"Mas aí fomos saber do resultado do Paysandu contra o Juventude. E aí o Paysandu se livrou. Pensamos: ‘Ainda resta um fio de esperança’. Nos reunimos ainda de madrugada depois do jogo do Cruzeiro e mudou tudo", contou. O plano, agora, era claro: vencer o Paysandu e torcer por uma combinação de resultados favoráveis. O time viajou para Belém no dia seguinte, sem a possibilidade de treinar adequadamente devido à falta de estrutura no local. "Lá, nem campo conseguimos para treinar. Treinamos em um campinho de grama de 30 por 40 metros. Só para dizer que treinamos. Não iria adiantar nada treinar agora", disse.
A vitória por 2×0 sobre o Paysandu, combinada com outros três resultados paralelos favoráveis, garantiu a permanência do Inter na Série A. "As histórias sobre esse jogo, são lendas", afirmou Claudião, referindo-se à importância desse resultado para a salvação do clube.
Apesar das muitas especulações que surgiram na época sobre uma possível compra de jogadores do Paysandu, Claudião nega qualquer envolvimento. Rumores de que o goleiro titular do time paraense teria sido subornado surgiram logo após o jogo, mas o ex-treinador do Inter descarta essas acusações, atribuindo o episódio a um mal-entendido. "Eu não tenho conhecimento sobre isso e acho muito improvável que tenha acontecido", afirmou.
O episódio do "acerto" envolvendo o ex-dirigente Arthur Dallegrave, que teria saído para fazer um "acerto" com o goleiro do Paysandu, ainda é lembrado como parte da mitologia dessa histórica permanência. "Ele fez uma sacanagem. E os caras do Paysandu tiraram o goleiro titular do time pensando que ele tinha sido comprado. O cara se ferrou. Mas o goleiro reserva entrou e fechou o gol", contou Claudião.
Embora o resultado tenha sido garantido, o clima de incerteza e a pressão continuaram até o fim. "Era para ter sido uns três ou quatro no primeiro tempo. Aí no segundo tempo, com chuva, o Librelato faz 1×0 e depois numa falta o Fernando Baiano faz outro", recorda. A combinação de resultados positivos para o Inter foi o que selou a permanência do clube na Série A, encerrando o pesadelo do rebaixamento.
Em um ano onde o Inter viveu momentos de tensão e incerteza, a vitória no Mangueirão se tornou um marco. Para Claudião, a lenda daquela noite em Belém segue viva na memória dos torcedores colorados, como uma história de superação e, segundo ele, um dos momentos mais inesquecíveis de sua carreira.