Com a paralisação dos eventos esportivos por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus, os clubes de futebol passaram a conviver com dificuldades financeiras. E se o futebol profissional já sofre com o corte de custos, as categorias de base dos clubes podem ver a verba minguar ainda mais. Por isso, o Movimento dos Clubes Formadores do Futebol Brasileiro (MCFFB) mostrou preocupação com medidas que têm sido especuladas para a categoria em meio à pandemia da Covid-19.
"A gente ouve algumas conversas. Eu não posso te afirmar, mas eu já ouvi de alguns clubes que estão encerrando [a categoria de base]. A gente já tem notícia de que clubes fizeram demissões de profissionais. Ou estão suspendendo as atividades por tempo indeterminado, mas também se a gente for pensar num percentual, ele é baixíssimo", afirma Eduardo Freeland, gerente das categorias de base do Flamengo e presidente do Movimento dos Clubes Formadores do Futebol Brasileiro.
Criado em 2012, o MCFFB é composto pelos executivos da base e representantes dos principais clubes brasileiros e discute a postura desses clubes em assuntos de interesse comum.
Em tempos de pandemia, a discussão é sobre qual o tratamento a base terá quando o futebol retornar a ser disputado. E uma das preocupações passa pela evolução dos jogadores, já que sem grana, muitos clubes podem ter de recorrer à base para ter jogadores disponíveis quando o futebol voltar.
"É claro que a evolução do atleta passa por treinamento e obviamente por competir. Então dizer que não freia não seria o mais correto. Claro que a paralisação interfere [na evolução dos atletas]. Eu entendo que dá uma pausa. Então, quanto melhor os clubes usarem essa pausa para aprimorar outras possibilidades no processo formativo do atleta, melhor. Claro que futebol é essencialmente prático, mas a gente pode usar recurso para aprimorar alguns outros aspectos, principalmente o cognitivo, o entendimento e tudo mais do atleta", explicou Freeland.
Assim, o MCFFB entregou uma carta à CBF e às federações estaduais, na qual afirma que só defenderá a volta dos treinamentos e das competições oficiais "quando protocolos de medidas preventivas puderem garantir a saúde e segurança às crianças, aos jovens e aos demais profissionais vinculados aos clubes e ao futebol de base".
Atualmente o grupo conta com dirigentes de 46 clubes, entre os quais os quatro grandes do Rio de Janeiro, os quatro grandes de São Paulo, os dois maiores do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais e da Bahia.
Confira a carta na íntegra:
O Movimento dos Clubes Formadores do Futebol Brasileiro (MCFFB) se solidariza com as mais de 13 mil mortes de brasileiros e brasileiras e, assumindo a sua responsabilidade na formação integral de centenas de jovens nas entidades esportivas nas quais atuam, vem, por este comunicado, posicionar-se em relação ao momento do futebol mundial devido à pandemia gerada pelo COVID-19.
O MCFFB enfatiza que só defenderá a volta dos treinamentos e das competições oficiais quando protocolos de medidas preventivas puderem garantir a saúde e segurança às crianças, aos jovens e aos demais profissionais vinculados aos clubes e ao futebol de base.
Diante desse cenário, e visando preservar a continuidade da grande responsabilidade social assumida em benefício de milhares de jovens que iniciam a trajetória esportiva, todos os mais de 50 Clubes que formam hoje o MCFFB vem, à unanimidade, manifestar a sua enorme preocupação em relação ao prejuízo irreparável que pode ser suportado por todos esses atletas e pelos profissionais envolvidos na sua formação caso sejam adotadas medidas precipitadas que resultem no cancelamento sumário das competições estaduais e nacionais nesse momento.
Para além dos danos competitivos, menos importante, tais medidas, adotadas sem uma diretriz consensual fruto de um esforço coletivo, poderão gerar uma desmobilização em clubes e atletas, culminando em demissões em massa e na perda de espaços seguros para a formação de jovens para e através do futebol - o que seria um prejuízo sem tamanho à prosperidade de curto, médio e longo prazo do nosso maior ativo cultural, o futebol brasileiro.
Deste modo, visando contribuir para auxiliar a reflexão de Clubes, Federações e apoiadores neste momento de incertezas, buscamos conscientizar o público e as entidades envolvidas na tomada de decisões para a necessidade de elaboração de um plano que permita preservar os profissionais e atletas envolvidos nas categorias de base do futebol brasileiro.
Portanto, buscando propor alternativas e mitigar as diversas especulações pelas quais o futebol de base vem passando nas últimas semanas, o MCFFB se coloca à disposição dos órgãos responsáveis nas esferas Municipal, Estadual e Federal para pensar nos melhores caminhos para a base - alicerçados e alinhados em conhecimento científico, às melhores práticas mundiais e aos direcionamentos dos órgãos responsáveis nas esferas pública e administrativa - com apoio de Clubes, Federações e Confederação.
Ressaltamos que esse é o momento de apoiar o futebol de base, não só pelo nível de excelência demonstrado por treinadores, preparadores físicos, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, entre muitos outros profissionais envolvidos, como também para manter a esperança de milhares de jovens ativos em retornar às atividades na busca por seus objetivos, gerando neles uma expectativa positiva o que favorece a saúde mental num momento tão delicado vivido por todos e evitando, assim, a falta de perspectiva e possíveis comportamentos disfuncionais.
Acreditamos fortemente que a divisão de base não apenas deve ser preservada, como poderá se converter em uma das molas propulsoras do futebol brasileiro pós-pandemia.
Isso porque, responsável por em média 5% do orçamento dos clubes, este setor servirá de apoio aos planteis profissionais, seja pelo acúmulo de jogos, seja pela necessidade de diminuição de custos, e poderá ainda gerar significativa receita pela negociação de seus jovens atletas já que o futebol de base do Brasil é o maior exportador de jogadores do mundo.
São nos jogos mais difíceis que se mostra o talento brasileiro em prol dos objetivos coletivos, dentro e fora dos campos. O futebol de base e todos que fazem parte direta ou indiretamente dele precisam (e vão!) jogar juntos para virar este jogo.
Movimento dos Clubes Formadores do Futebol Brasileiro
Fonte: UOL/Lei em Campo22/11
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