Passados 16 anos da estreia do maior ídolo Colorado, Fernandão certamente não sabia, mas já veio ao mundo pronto para fardar o manto alvirrubro. O atacante precisava de nossa camisa, que sempre o reconheceu como legítimo dono. A braçadeira de capitão, idem. Com ele, repousavam, estavam seguras. Assim se sentiram desde o primeiro encontro, ocorrido no clássico Gre-Nal de número 360.
Apresentado menos de duas semanas após o Clube do Povo conquistar o Tetra do Rio Grande, Fernandão precisou esperar por quase um mês até ter sua situação regularizada para a estreia. Neste ínterim, o Clube do Povo trocou de técnico, com a saída de Lori Sandri para a chegada de Joel Santana, e acumulou insucessos no Campeonato Nacional. Foi encarando cenário de grande pressão, portanto, que o atacante vestiu, no dia 10 de julho de 2004, há 16 anos, a camisa do Inter pela primeira vez. O adversário? “Apenas” o maior rival.
Após empate sem gols no primeiro tempo, Joel decidiu abrir o time ainda no intervalo, retirando o zagueiro Wilson para a entrada do cabeludo Fernando, que na ocasião vestia a camisa 18. Com a troca, Bolívar, que passara a etapa inicial na ala-direita, foi recuado para a zaga. Granja, por sua vez, passou a ocupar o corredor, enquanto o substituto ficou encarregado da armação, municiando a dupla de atacantes formada por Sobis e Danilo. Ousada, a mudança se provou correta logo aos oito minutos, quando Vinícius completou cruzamento de Alex e mandou, de cabeça, para as redes tricolores. O Inter abria o placar!
Empurrado pela torcida e percebendo seu rival acuado, o Inter passou a ocupar ainda mais o campo de ataque, pressionando intensamente. Como consequência, aos 33 minutos Danilo recebeu bola na direita, pedalou para cima da marcação e acionou o pivô de Fernandão. Do camisa 18 a bola seguiu até Marabá, que lançou Alex, livre.
Mais rápido do que os carros que corriam ao seu lado na Padre Cacique, o garoto paranaense deixou a marcação para trás com facilidade, ganhando espaço para usar sua famosa perna canhota. Com ela, alçou na área, buscando o segundo pau. Precisa, a bola foi parcialmente cortada pelo gremista Cocito, mas, para a infelicidade do marcador, sobrou com Élder Granja, que teve tempo para ajeitar a redonda com carinho e levantar na marca do pênalti.
Gigante, Fernandão cresceu ainda mais e, esbanjando presença de área, mandou testaço no canto da meta adversária. De tão forte, o arremate não pôde ser acompanhado por câmera alguma. O que ficou registrado, em contrapartida, foi a explosão dos mais de 23 mil colorados e coloradas presentes no Beira-Rio, que vibraram muito com o gol de número 1 mil do maior clássico do Brasil. Um tento histórico, a princípio ignorado por seu predestinado ator.
No momento em que tocou o chão novamente e percebeu que marcara o gol, o abençoado artilheiro se emocionou e, tapando o rosto, ajoelhou-se no gramado. Certamente, a lágrima que teimava em escorrer não pôde ser contida quando ouviu Sóbis, eufórico, anunciar a importância do momento que protagonizara: “Tu marcou o gol mil do Gre-Nal!”. Inesquecível, o tento foi também o último marcado na gélida tarde de outono em Porto Alegre, primeiro dos 77 anotados pelo Eterno Capitão defendendo o Clube do Povo.