Através de sua coluna no portal InfoMoney no início do mês, o economista e especialista em Gestão & Finanças do Esporte, Cesar Grafietti, analisou as situações de Atlético-MG, Botafogo, Corinthians e Cruzeiro que já chegaram ou se aproximaram da casa de R$ 1 bilhão em dívidas acumuladas, enquanto o Internacional viu a sua bater nos R$ 600 milhões..
Com base no cenário caótico dos quatro clubes, Grafietti apontou os caminhos que outros clubes devem seguir para não fazerem parte do “Clube do Bilhão” do futebol brasileiro. Vale lembrar que a dívida do Fluminense está na casa dos R$ 700 milhões (até o final de abril, o clube publicará o balanço financeiro anual). Confira o trecho do texto em que o economista lista algumas medidas necessárias para que os clubes não acumulem uma dívida bilionária:
“Pandemia contribuiu para que clubes como Cruzeiro, Botafogo e Atlético Mineiro acumulassem R$ 1 bilhão em dívidas. Como sair dessa situação? Não restam alternativas. Na verdade, os clubes sempre se apoiam na alternativa mais difícil que é dizer que aumentarão as receitas e com isso sobrará dinheiro para pagar as dívidas. Todo mundo conta com a conquistas, especialmente de Copa do Brasil e Libertadores para ajudar na entrada de caixa com as premiações.
Convenhamos, situações como a do Palmeiras em 2020 são raras. E justamente porque há clubes bem estruturados como Palmeiras, Flamengo e Grêmio, além de outsiders menos endinheirados, mas que montam equipes competitivas, como foi o Santos na Libertadores de 2020, apostar no aumento de receitas por conquistas é arriscado. Nem se fala em Bilheteria e Marketing, cujo efeito de crescimento se observa a longo prazo.
A solução natural é reduzir custos. Diminuir elenco, ser mais eficiente nas contratações, que precisam ser baratas e de qualidade – existe um expediente que os clubes brasileiros usam pouco mas é muito eficiente que se chama “análise de desempenho” ou “scouting” #ficaadica – e cortar custos de tudo que é forma.
Estruturas operacionais mais enxutas, uso de sistemas de gestão que permitam monitorar a saúde financeira do clube. Ações básicas e simples, mas que demandam vontade política.
Como por exemplo, cortar custos de áreas sociais. Sim, as quadras de tênis e piscinas que tanto consomem dinheiro. Porque ninguém quer aumentar a mensalidade do sócio a valores que sejam necessários para tornar as estruturas sustentáveis. Sem contar os diversos “projetos olímpicos” que nascem antes de estarem financeiramente equacionados, e depois se transformam em problemas que dependem do futebol para se sustentar. Isso quando sobra dinheiro do futebol, coisa rara.
As receitas podem aumentar? Podem, claro. Há muito a fazer na busca pelo dinheiro do torcedor. Mas nem na Europa há clareza de como “monetizar” esse torcedor quando o tema é conteúdo redes sociais e tantas outras novidades, e os clubes ainda estão tateando, mesmo em economias com renda substancialmente maior que a brasileira.
Logo, o segredo para não entrar no Clube do Bilhão errado é cuidar dos custos antes de tudo. Respeitar o trabalho de quem diz “não” ao invés de glorificar os que repetem os erros de sempre, contratando, prometendo, gastando mas deixando a conta para outros pagarem. Especialmente o torcedor”.