Nessa quarta-feira (16), a Reunião Anual de Negócios (ABM) aprovou testes com substituições permanentes adicionais para casos de concussão real ou suspeita no futebol a partir de janeiro de 2021. Especialistas ouvidos pelo Blog Lei em Campo aprovam mudança, mas reforçam que futebol precisa avançar ainda mais.
"O protocolo do futebol está muito atrás de outros esportes. Ele não combate o problema da concussão de maneira efetiva. Outros esportes já apresentaram soluções mais comprometidas para o problema. Para isso, é preciso mudar regras. A substituição temporária, para uma melhor avaliação do atleta em choque, é uma decisão importante", diz Andrei Kampff em seu blog no UOL, jornalista e advogado especializado em direito esportivo. Ele reforça que "é preciso avançar na discussão, e a necessidade de médico independente é algo fundamental nesse processo."
Em reunião virtual, a International Football Association Board (IFAB) concordou com a implementação de protocolos que serão a base para os testes. Os membros concordaram que, em caso de uma concussão real ou suspeita, jogador em questão deverá ser retirado da partida para proteger a sua saúde. A equipe não poderá sofrer desvantagem numérica e a substituição não será descontada do número que cada uma tem direito por jogo.
O principal objetivo da medida é:
Evitar que um jogador sofra outra concussão durante a partida;
Enviar uma mensagem de que, em caso de dúvida, o jogador é retirado, mas não há desvantagem numérica ou tática, priorizando o bem-estar do atleta; e
Reduzir a pressão sobre a equipe médica em realizar uma avaliação rápida e muitas vezes incompleta.
O anúncio feito nesta quarta (16 de dezembro) veio depois de um ano de consultas detalhadas com especialistas em concussão médica, médicos de equipes, representantes de jogadores, treinadores, organizadores de competições, arbitragem e especialistas na regra do jogo sobre o tema.
As confederações e associações que se interessarem em adotar a regra deverão ser inscrever junto à IFAB e Fifa. Os organizadores das competições deverão garantir que os protocolos oficiais sejam seguidos em sua totalidade e que um feedback seja enviado.
Hoje o futebol brasileiro segue o protocolo da FIFA. E ele não ataca de maneira efetiva o problema.
Depois dos repetidos casos de choque na Copa de 2014, a FIFA passou uma orientação sobre o que fazer em lances como esse. Aqui é importante destacar: é uma diretriz, não é um protocolo obrigatório como nos esportes americanos.
Ela diz que o médico da equipe é que vai determinar a continuidade do atleta, mas do lado de fora do campo. São três minutos de atendimento dentro do gramado, e o jogador precisa ser levado para fora de campo. O prejuízo técnico - jogar com um menos - também acelera o atendimento e não ajuda numa avaliação mais correta.
Ele tem um tempo muito curto para diagnosticar a perda de consciência, o andar desnorteado do atleta e fazer as perguntas-chave. Depois de analisar tudo isso, o médico precisa decidir se o atleta tem condição ou não de continuar. Se o médico constatar algo anormal, no vestiário um novo exame deve ser feito, e dura cerca de 10 minutos.
A conclusão é de que a determinação do futebol ainda deixa jogadores em risco e, segundo especialistas, precisa ser aprimorada.
A FifPro, sindicato dos atletas profissionais, já pede desde 2018 a substituição temporária. Além disso, o sindicato pede um médico independente nas partidas para ajudar a decidir se um jogador com suspeita de concussão deveria continuar em campo, em vez de deixar a decisão para os médicos dos times. A entidade mostra preocupação porque, embora tais procedimentos sejam empregados com sucesso em diversos esportes, ainda não foram adotados pelo futebol profissional.
Outra entidade que mostra preocupação é a Federação Americana de Futebol, que apresentou um pedido para que a NWSL (a liga feminina de futebol) conduza um programa-piloto pelo qual sejam permitidas as substituições temporárias por conta de concussão. O argumento da Fifa para não deixar um time substituir um jogador que bateu a cabeça é a tática: um técnico poderia levar vantagem com a medida.
UOL / Lei em Campo / Gabriel Coccetrone