Texto por Colaborador: Redação 29/09/2023 - 03:00

No primeiro capítulo da semifinal da Copa Libertadores, o Internacional enfrentou o Fluminense no Maracanã na noite de quarta-feira (27). O jogo eletrizante finalizou com empate em 2 a 2 e agora a definição da vaga na final será na quarta-feira (04), às 21h30min, no Beira-Rio. 

Após o confronto de ida, trazemos algumas análises de cronistas espalhados pelo país. Confira algumas avaliações:

DIOGO OLIVIER (GZH)

Pelo contexto de jogar com a um a mais durante todo o segundo tempo, dava para ter vencido e matado o confronto. Pode ficar aquele gosto de que o cavalo passou encilhado, mas é semifinal de Libertadores, Maracanã lotado, adversário de qualidade e um atacante com faro de gol absurdo: Cano. Então, apesar de virar para 2 a 1 e ceder o empate no velho problema da bola aérea, o Inter não pode se lamentar. Passou incólume pelo caldeirão. Onze contra 11, criou várias chances de marcar. Agora será o Flu a enfrentar as Ruas de Fogo e o Beira-Rio.

O objetivo não era voltar vivo ao Beira-Rio? Pois o Inter voltou. E muito vivo.

DOUGLAS CECONELLO (GE)

Era possível se imaginar quase tudo na véspera do primeiro confronto entre Fluminense e Inter, pela Libertadores. Afinal de contas, estariam frente a frente dois times que há tempos alimentam loucas ilusões de uma grande conquista, comandados por técnicos que não se acomodam nas trincheiras do pragmatismo -- bem pelo contrário, costumam sair em campo aberto com o peito estufado, independentemente do cenário, mesmo quando armados apenas com uma pistola de água.

Era possível imaginar, por exemplo, que Coudet poderia tentar surpreender os tricolores justamente buscando picotar o jogo, e assim fugindo de suas características. Ou que Fernando Diniz seria menos dinizista que o habitual, equilibrando a sua equipe para fazer um jogo menos impetuoso e mais baseado na paciência. Pois bem. Tudo isso resultou em exercícios premonitórios absolutamente vazios, montes de confetes arremessados na noite carioca. Porque há determinados momentos em que o cidadão simplesmente não consegue fugir da sua índole. Quando o instinto é imperador, como bem sabe o cachorro de campanha que até tenta se aguentar, mas sempre acaba disparando atrás da ovelha.

Desde o apito inicial, o que se presenciou no Maracanã foi uma das mais belas, deliberadas e inconsequentes (e talvez bela justamente porque deliberada e inconsequente) troca de golpes dos últimos anos no futebol continental. Porque Fernando Diniz simplesmente optou por mandar John Kennedy a campo (junto com Ganso, Arias e Keno e Cano e Romerito e Assis e Fred e Telê Santana), mesmo que o seu meio de campo acabasse tão povoado quanto o Atacama numa noite de segunda-feira, enquanto Eduardo Coudet investiu em um verticalismo kamikaze que fazia a defesa tricolor vazar por todos os lados e sempre buscava Enner Valencia, o maior cometa em atividade na América do Sul.

Com pouco mais de dez minutos, quando chances mútuas já haviam sido empilhadas, com Fábio e Rochet convertidos em santos precoces, Germán Cano abriria o placar para o Fluminense, em jogada que começou com falha acintosa de Renê, mais onipresente que Pelé -- o lateral teve participação em todos os quatro gols do confronto. E exatamente neste ponto do jogo, enquanto os alheios espalhados pelo continente estavam em êxtase, os tricolores e colorados presentes no Maracanã entravam em colapso emocional, pois qualquer placar parecia verossímil.

A expulsão de Samuel Xavier e o gol de empate colorado, logo na sequência, transformaram o Maracanã na maior caixa de silêncio que já comportou 60 mil pessoas. E o segundo tempo transcorreu influenciado por estes eventos. Primeiro, o Inter massacrou, fez 2 a 1 com gol de Allan Patrick, com impressionante molejo para quem joga de smoking, e poderia ter encaminhado a classificação. Mas o Fluminense tinha um plano, que funcionou com o sempre elétrico Arias, e numa dessas empreitadas o escanteio acabou nos pés de Cano, o homem que faz do gol uma redundância.

O empate injetou pólvora nos corações tricolores, que não abdicaram de tentar buscar a vitória mesmo com um jogador a menos, para que o futuro (que é já na semana que vem) parecesse menos improvável, enquanto o Inter, já com alterações compreensíveis, mas discutíveis de Coudet pensava, com razão, mais no resultado do que nas circunstâncias. Porque assim como houve uma noite no Rio haverá uma noite em Porto Alegre.

Cada qual a seu modo, tricolores e colorados acabaram a noite meio aliviados e um tanto decepcionados. Todos os outros torcedores, exceto aqueles indiretamente envolvidos, agradeciam pelo nosso transtorno -- nossos nervos esticados servindo para o deleite continental. Absolutamente linda e profundamente tóxica, a Libertadores tem esse poder de eleger seus próprios sacrifícios em favor do entretenimento geral da América do Sul. Às vezes, somos os escolhidos.

CARLOS EDUARDO MANSUR (GE)

Sempre que confrontado com alguns dilemas para escalar o time, Fernando Diniz opta pela alternativa mais ousada. No Maracanã, foi ao limite juntando Marcelo, Ganso, Arias, Keno, Cano e Kennedy numa semifinal de Libertadores. Do outro lado, o Internacional de Eduardo Coudet tampouco foi a campo para fazer o tempo passar à espera da volta no Beira-Rio. O resultado foi um jogo atraente, de tantas alternativas que se torna difícil identificar as sensações que tricolores e colorados levam do 2 a 2.

Porque antes do jogo, provavelmente, seria muito mais provável que os gaúchos se satisfizessem mais com um empate do que os cariocas. Mais ainda após o Fluminense marcar primeiro, com Cano. No entanto, após um primeiro tempo de chances dos dois lados, a expulsão de Samuel Xavier modifica o cenário. O Inter empata antes do intervalo e, na volta do descanso, protagoniza 20 minutos de grande domínio, quando constrói uma virada que parece definitiva. É quando as sensações, outra vez, se invertem. Há motivos para o tricolor celebrar o 2 a 2, conseguido em mais um grande gol de Cano. Enquanto os colorados lamentam não terem administrado bem a vantagem. Se a decisão ficou para a segunda partida, a marca do jogo de ida foi a coragem com que os dois times encararam o primeiro confronto.

O ótimo jogo não significa que tenha havido apenas virtudes. O Fluminense pressionava bem a saída de bola colorada, mas quando não conseguia um desarme no campo ofensivo, parecia desequilibrado defensivamente com uma formação bastante leve: fosse na proteção à frente da defesa, com Ganso ao lado de André, fosse no lado esquerdo, onde as dificuldades de Marcelo sem bola outra vez apareceram, em especial no segundo gol.

Sem tanta pressão no meio-campo, havia tempo para que os meias do Internacional acionassem Enner Valencia, bem mais veloz do que a linha defensiva do Fluminense. O equatoriano foi um perigo constante. Por outro lado, o time de Coudet tinha problemas para defender um rival com muitas variações ofensivas. Por vezes, a equipe de Diniz fazia a saída de bola com André junto aos zagueiros. Em outros momentos, via Ganso e o volante realizarem o primeiro passe dentro da área de Fábio, enquanto os zagueiros avançavam pelo lado do campo.

Marcelo era um homem livre quando o Fluminense atacava. Tornava-se ora um meia pela esquerda, ora um armador pelo centro do campo, sem contar as tantas vezes que atravessava até o lado direito. Em dado momento, Arias e Keno permaneciam abertos. Em outros, agrupavam em torno da bola. Tudo isso impunha ao Internacional dificuldades defensivas. Era um jogo agradável entre dois times que atuavam melhor com bola do que sem ela.

O tricolor teve ótimos momentos movendo a bola, trocando passes, evoluindo no campo. No entanto, ao perder um homem, ficou mais evidente que o técnico precisaria reordenar sua defesa. Ele optou por esperar o intervalo para fazê-lo e, mais tarde, numa coletiva um tanto impaciente, desqualificou uma ótima pergunta sobre o tema. Quando respondeu, explicou que preferia mexer no intervalo a colocar um homem frio a poucos minutos do fim da primeira etapa. Fazia sentido, o que prova o quanto era boa a pergunta que irritou Diniz. Era natural a curiosidade, ainda mais que, num destes caprichos do futebol, o gol de Hugo Mallo saiu entre a expulsão e o intervalo.

No vestiário, Diniz tirou Ganso para que Alexsander fizesse dupla com André, dono de grande atuação. E recompôs a lateral direita com a entrada de Guga. O sacrificado foi Kennedy. Em teoria, abrir mão de um atacante veloz, capaz de atacar a profundidade, poderia significar mais conforto para que o Internacional avançasse no campo. E, de fato, os gaúchos controlaram as ações no início da segunda etapa. Mas Diniz preferiu manter Arias e Keno pelos lados, além de não abrir mão de Cano. Mais adiante, a grande finalização do argentino para o 2 a 2 provaria o quanto é difícil tirá-lo. Ainda mais em jogos desta natureza.

 

CRISTIANO MUNARI (GZH)

Renê errou na bola que gerou o escanteio, mas escanteio é do jogo, né. Depois disso, a falha do segundo gol do Fluminense é toda do Vitão que perde a referência na marcação do Nino, que cabeceia sozinho pro Cano desviar.

Inter deixa o Maracanã com a sensação de que podia ter encaminhado a vaga na final hoje. Com 2-1 o jogo tava mais para o 3-1 que para o empate. O 2-2 é um resultado ruim pela superioridade colorada depois da expulsão do Samuel Xavier.

FÁBIO GIACOMELLI

Foi um grande jogo. A rotação diminuiu, de modo normal, no quarto final da partida. Mas um belo jogo de futebol. O empate - apesar de bom pra decidir em casa, deixa um gostinho estranho. Inter poderia voltar com a vitória. Mas, agora, é tudo no Beira-Rio.

Num resumo sobre as mudanças, acho que o Coudet errou. Foi cedo demais. Por segurança, pra salvaguardar Alan Patrick, que tivesse tirado só ele. Maurício, apesar de uma atuação sem grande destaque, municia melhor o ataque. Lucca, ali naquela função, não conseguiu render nada.

Maurício, pra mim, se estivesse mais ligado, poderia ter feito a diferença. Talvez, também, tenha saído 10 minutos antes. Mas foi um jogaço de bola!

Fui assistir os melhores momentos do jogo, agora com os batimentos cardíacos em estado de normalidade. É impressionante o quanto o Inter cresceu na Copa. Está nítido que estes jogadores querem muito. Um erro aqui e outro ali. Normal. Será mais um jogaço na volta. Seremos.

@VINICIUSOF (ESPN)

O que a bola aérea defensiva do Inter é ruim não tá no mapa. De longe o pior defeito do time do Coudet (que já era ruim neste quesito com o Mano).

O Inter tem 6 dias pra treinar essa porra a exaustão. Bola parada já impediu pelo menos 3 vitórias do Inter nessa Libertadores.

MARINHO SALDANHA (UOL)

Poderia ter vencido? Poderia. Mas o empate leva a decisão pro Beira-Rio, onde o Inter é muito forte. Sigo otimista. O Fluminense é um grande rival. Mas não imbatível.

O segundo tempo jogou na nossa cara como somos dependentes do Alan Patrick. Sem ele, o time não tem encaixe ofensivo. Errou Coudet na troca. Mesmo cansado, precisa estar em campo. Só se há razão médica, que não sei.

Se antes da semifinal propusessem assim: 'Jogo único no Beira-Rio, quem ganhar passa. Vocês topariam? Acho que sim né. Foi isso que disse o Coudet, e concordo totalmente. O Inter está em vantagem por decidir em casa. É pouco? Sim, é. Mas quem é é, e quem não é, deixe de ê.

Sobre arbitragem, VAR e tal... É o de sempre. Erra, acerta, acerta, erra, cada um tem uma interpretação. É vencer o jogo de volta, em casa. É nisso que a energia precisa estar focada. Não no árbitro.

MAURÍCIO SARAIVA (GE)

O Fluminense esteve perto de fazer 2x0 quando mandava no jogo no primeiro tempo. O Inter esteve perto de ir a 3x1 depois de virar no segundo tempo já com um homem mais.

Fluminense e Inter alternaram períodos de supremacia na partida e tiveram que resistir a duas atuações individuais terríveis, uma de cada lado. Felipe Melo saiu no intervalo depois de errar todos os gestos defensivos que tentou. Renê ficou até o final errando muito, o segundo empate nasce de um erro bisonho do lateral-esquerdo colorado.

Dois times vocacionados para o ataque, corajosos, mas que também sofrem em ações de defesa. Prefiro ver a jarra meio cheia do jogaço e o leve favoritismo que o Inter carrega agora a partir do fator Beira-Rio.

BIBIANA BOLSON (HINCHA)

Foi um baita de um jogo. Por erros individuais, não conseguimos sair com a vitória do Maracanã. Mas fizemos a parte mais difícil, colorados. Acreditem. O primeiro jogo foi jogado sob a pressão de um time forte, com 67 mil pessoas no estádio. Pressionamos, criamos, fomos até o fim.

A gente torce pra um clube que nos enlouquece. Esse é o nosso Inter. Nunca foi fácil. Nunca será fácil. Vamos fazer um jogo ÉPICO em Porto Alegre, confiem nesse time. Confiem no nosso técnico. Hoje o jogo era do Flu! E saimos com um empate!!!!!

MILLY LACOMBE (UOL)

Não foi um jogo, foi uma ópera. A gente teve uma abertura, que foi um transe do Fluminense que durou até a expulsão. Depois a gente teve um segundo ato que foi do Inter. Fez o gol, voltou para o segundo tempo para matar o jogo, teve um gol anulado, mas em seguida fez outro e virou. E o que a gente via era um Fluminense completamente perdido, parecia que o Inter iria fazer mais dois, mas aí o Fluminense, como em uma boa ópera, vai para o ataque, consegue o escanteio e acha o gol. Eu diria que esse empate foi uma vitória do Fluminense.

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