Segundo estudo, independente de novo modelo adotado pelos clubes, desigualdade financeira será reduzida pela metade

Texto por Colaborador: Redação 13/05/2022 - 00:39

Mesmo que ainda não haja acordo entre os clubes e os grupos pela nova Liga de Clubes, um levantamento feito pelo jornalista Rodrigo Capelo, do GE, aponta que as novas fórmulas discutidas pelos clubes para transmissão do Brasileirão irão reduzir a desigualdade financeira pela metade, segundo as simulações, quando comparada aos últimos acordos realizados individualmente após a implosão do Clube dos 13. 

Tendo em vista que os direitos de mídia são a maior receita do futebol, não apenas no Brasil e que os atuais contratos da Série A, assinados com a Globo, vigoram até 2024, o que se discute hoje é o modelo que valerá a partir de 2025.

A diferença em relação à última negociação é que, desta vez, a comercialização coletiva pode elevar o faturamento do futebol brasileiro, mas deve haver entendimento sobre a divisão dessa verba.

Inspiradas nas maiores ligas europeias, as métricas usadas para ordenar os recursos lembram esquemas táticos. 50-25-25 e 40-30-30 são sequências de números que entraram para o vocabulário futebolístico – em discursos de cartolas e nas discussões em redes sociais.

O que todos esses números significam? Quais são os principais motivos de discórdia? O que o Brasil pode aprender com referências estrangeiras, como Inglaterra e Espanha? O ge obteve com exclusividade os números que dirigentes atualmente usam como base para a negociação.

A primeira proposta

A Liga do Futebol Brasileiro (Libra) – fundada pelos cinco clubes paulistas na primeira divisão e pelo Flamengo – leva em seu estatuto uma proposta de distribuição dos recursos da transmissão. Ela foi formulada com a assessoria da empresa Codajas Sports Kapital.

O dinheiro seria repartido em 40-30-30, assim:

40% iguais para todos os clubes;
30% segundo a colocação na tabela;
30% conforme o sucesso comercial.

Na performance, a proporção seria a seguinte:

1 6,00
2 5,67
3 5,33
4 5,00
5 4,67
6 4,33
7 4,00
8 3,67
9 3,33
10 3,00
11 2,67
12 2,33
13 2,00
14 1,67
15 1,33
16 1,00
17 0,50
18 0,50
19 0,50
20 0,50

A maneira mais fácil de compreender o quadro acima é considerar que, qualquer que seja a quantia em dinheiro, a premiação do campeão seria 12 vezes maior do que a dos quatro rebaixados. Em relação ao 16º colocado, a diferença seria de 6 vezes, e assim sucessivamente.

Esse quadro vale somente para os 30% de performance e não corresponde à diferença final entre a receita de cada clube.

No último terço, cinco itens foram considerados:

Média de público no estádio;
Base de assinantes de pay-per-view;
Número de seguidores e engajamento em redes sociais;
Audiência na televisão aberta;
Tamanho da torcida.

Por fim, a Libra previu no estatuto o repasse de 15% do valor arrecadado pelo Campeonato Brasileiro com a transmissão para a Série B.

Na contramão desse modelo, os dirigentes de outro grupo, intitulado Forte Futebol, passaram a fazer oposição abertamente e nos bastidores. Em carta aberta, os opositores defenderam a adoção de 50-25-25 para equilibrar a distribuição da verba da transmissão e criticaram itens do último terço, como o uso das redes sociais e o tamanho das torcidas.

Eles também demandam que a diferença em arrecadação entre o primeiro e o último colocado, considerando todos os itens, não passe de 3,5 vezes – parâmetro do futebol espanhol. A meta ao longo do tempo deveria ser baixar esse índice para 1,6 vez – este, do futebol inglês.

Por fim, esses dirigentes requerem que 20% das receitas obtidas pelo Brasileirão sejam repassadas aos clubes da Série B – em vez de 15%.

A divergência entre esses dois grupos, Libra e Forte Futebol, motivou a renegociação de todos os critérios. Nos bastidores, representantes da Libra e da Codajas tentam a adesão de novos clubes para a liga. O desafio deles é conciliar as sugestões e necessidades de insatisfeitos e indecisos.

Como é hoje

Antes e depois do Clube dos 13 – entidade que centralizou os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro entre 1987 e 2011–, o futebol brasileiro passou a cada negociação por um processo de concentração dos recursos da televisão entre os clubes de maior torcida.

Em 2019, entrou em vigor um modelo "híbrido". As negociações foram realizadas de maneira individual, sendo cada clube responsável por vender seus direitos, mas a divisão da verba foi decidida de maneira pré-determinada, a obedecer a fórmula 40-30-30.

Por causa das circunstâncias da negociação, que teve concorrência entre Globo e Turner na televisão fechada, as plataformas seguem regras diferentes. TV aberta e fechada se enquadram na divisão "europeia", enquanto o pay-per-view considera a base de assinantes e valores mínimos garantidos negociados, caso a caso, entre emissora e clubes.

Esse modelo permitiu que o futebol brasileiro equilibrasse um pouco a distribuição do dinheiro, à medida que clubes chegados da segunda divisão passaram a participar do mesmo sistema que os de maior torcida, mas o pay-per-view ainda acirra a desigualdade.

O ge organizou os dados abaixo com base nos balanços dos clubes referentes a 2019, primeiro ano do atual modelo. Valores lançados para transmissão foram refinados para considerar só o Brasileirão. Em 2020 e 2021, a contabilidade foi prejudicada pela suspensão de campeonatos, causada pela pandemia. Por esse motivo, esses anos não serão utilizados.

Em resumo, em 2019, a diferença esteve em:

1º ao 10º – 3,0 vezes
1º ao 20º – 8,9 vezes

Se o futebol brasileiro adotasse o 40-30-30 com os cinco critérios, da maneira como a Libra previu em seu estatuto inicial, o primeiro lugar arrecadaria 3,6 vezes o que receberia o último. Se a opção for pelo 50-25-25 com apenas três critérios, essa diferença cai para 3,0 vezes.

As diferenças entre cenários são mínimas. Nota-se que as hipóteses que consideram 50-25-25 são mais equilibradas, pois têm a maior parte do dinheiro dividida de maneira igualitária entre os clubes. Porém, mesmo no 40-30-30, a discrepância em relação ao modelo atual diminui muito.

Neste momento, dirigentes têm feito demandas para ajustar essa fórmula. Alguns querem trocar a média de público pela ocupação do estádio, pois atuam em locais com menor capacidade. Outros querem priorizar a quantidade de seguidores em redes sociais ou o engajamento.

Qualquer que seja o modelo escolhido, abre-se ao futebol brasileiro a oportunidade de reduzir a desigualdade financeira, grosseiramente, pela metade. A diferença entre a maior e a menor cota, hoje acima das seis ou oito vezes, ficaria entre três e quatro vezes em todas as simulações.

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