Após o levantamento do "O Globo" que colocava a torcida colorada como a 8° maior do país, com 2,2% do público nacional, O GLOBO/Ipec trouxe dados sobre o ranking das torcidas "mais negras do Brasil", com o Saci fazendo jus à sua história.
Mesmo atrás do Grêmio no ranking em âmbito geral, o levantamento deixou evidente o peso histórico das duas equipes gaúchas. Mais democrático desde sua fundação, o Colorado registra 1,9% de negros, contra 1,1% do rival.
Do outro lado, Grêmio e Santos aparecem como os clubes com a maior presença de quem se autodeclara branco. A equipe do Humaitá é só o 13º lugar entre os negros (1,1%). Entre os brancos, a torcida tricolor fica em 5º (5,7%). A questão regional também obviamente pesa nesse caso, mas o desequilíbrio na pesquisa é maior que no rival, o Internacional (detalhes abaixo).
INTER E SUA LIGAÇÃO POPULAR EXPLICARIAM DIFERENÇA
Segundo o historiador Raul Pons, em seu blog "Futebol & Outras Histórias", diferentemente do maior rival, o Internacional, desde 1928 já contava com atletas reconhecidamente negros. O primeiro foi Dirceu Alves. E logo chegariam mais: Mocinho, Venenoso, Tupan, Natal... O Rolo Compressor, esquadrão imbatível dos anos 1940, tinha Alpheu, Nena, Ávila, Tesourinha, Adãozinho (com exceção de Alpheu, todos com convocações para a Seleção Brasileira). E nessa época a festa que a torcida fazia na arquibancada, lançando confetes, serpentinas e soltando fogos à entrada do time em campo, era considerada "coisa de crioulo" pelos rivais, que já chamavam o Internacional de "Clube dos Negrinhos". Mas aos poucos a torcida gremista passou a copiar a festa, dando origem à faixa produzida por Vicente Rao, no comando do Departamento de Propaganda e Cooperação, "Imitando o Negrinho, hem?".
A década de 1940 reforçaria a identidade popular do Internacional, seja dentro do campo, seja em sua torcida. No dia 8 de abril de 1944, na Timbaúva, o Colorado bateu seu rival de forma dramática por 2x1 e conquistou o pentacampeonato da cidade. Segundo Martim Aranha, ex-presidente gremista, após a partida Antenor Lemos fez um discurso de saudação aos seus atletas, ainda no gramado da Timbaúva, onde teria utilizado pela primeira vez a expressão "Clube do Povo". Em 24 de junho de 1945, na Baixada, o Internacional venceu o Grêmio por 4x1. Após o jogo, extensa passeata de torcedores colorados saiu da Baixada em direção ao centro da cidade, carregando bandeiras, flâmulas e cartazes humorísticos e de exaltação ao clube, no clássico onde provavelmente foi desfraldada a faixa "Imitando o Negrinho, hem?". Também foi na década de 1940 que se reforçaram as expressões racistas contra o clube.
Ainda nos anos 1940, o clube passa a ser identificado nas charges de Pompeo com o personagem Doutor Marmita, um típico "malandro" porto-alegrense.
Nos anos 1950 o Internacional, nas charges de SamPaulo, começa a ser representado como um homem negro.
O chargista Alberto, do Jornal do Dia, passou a representar o Internacional como um "guerreiro africano", em um desenho bastante preconceituoso.
O chargista Marco Aurélio também optou por representar o Internacional e sua torcida como um homem negro.
Portanto, a partir da década de 1940 o Internacional e sua tocida passam a ser cada vez mais identificados com a comunidade negra. E as referências a colorados como macacos começam na mesma época. Coincidência? Essa atitude também era institucional. Em 20 de agosto de 1972, no clássico disputado no Olímpico pelo Torneio Cidade de Porto Alegre, a direção gremista mandou colocar uma faixa com a frase "Maior macacada do Rio Grande" sobre o espaço onde ficariam os colorados.
Por fim, o Grêmio foi o último time a aceitar a raça, visto que em seus estatutos constava uma cláusula que dizia que ele perderia seu campo, doado por uns alemães, caso aceitasse pessoas de cor em seus quadros.