O jornalista Leo Urnauer, do site Onefootball, fez um interessante levantamento de por onde andam os últimos campeões brasileiros pelo Inter, conquistado de forma invicta em 1979. Tendo como protagonistas craques como Paulo Roberto Falcão, Valdomiro, Mário Sérgio e Mauro Galvão, o colorado disputou 23 partidas, obtendo 16 vitórias e sete empates, com 40 gols marcados e apenas 13 sofridos.
Ao longo do tempo, quatro vice-campeonatos nacionais (1988, 2005, 2006, 2009) por pouco não quebraram um jejum de 40 anos sem a maior conquista nacional. Todavia, os anos 70 foram brilhantes para o Inter, talvez até melhores que na década passada. Até 1979, o Colorado havia conquistado oito de nove títulos estaduais, todos contra o maior rival, o Grêmio, além de dois Brasileiros, em 1975 e 1976. Depois de dois anos mornos, aconteceu então o ano da glória.
E até estes anos mornos tiveram sua serventia. Sem chance de título no estadual de 1979, o técnico Zé Duarte aproveitou para testar alguns atletas da base. Entre eles estava Mauro Galvão. No fim do Gauchão de 1979, a diretoria do Inter demitiu Zé Duarte e contratou Ênio Andrade. De cara, o novo técnico privilegiou o talento no meio-campo com o trio formado por Falcão, Batista e Jair.
Logo quando chegou, Andrade uniu o grupo e tratou de acabar de vez com a tensão que pairava sobre o Beira-Rio. Enquanto o técnico dava sua cara ao time e implantava o esquema tático 4-3-3, Gilberto Tim dava show tanto na preparação física dos atletas quanto no entusiasmo. Falando em atletas, o Internacional dispunha de um elenco forte e que havia ganhado os reforços de Benítez, Cláudio Mineiro, Bira e Mário Sérgio, além de contar com jogadores de puro talento como o jovem Mauro Galvão (de apenas 17 anos), o atacante Valdomiro e os meio-campistas Batista e Falcão. Tais nomes davam à equipe uma mescla de habilidade, força, experiência e juventude, tudo na medida certa. Determinados a apagar o fiasco no torneio estadual, os alvirrubros tinham no Brasileiro a grande chance da virada e de mostrar que o soberano de tempos dourados ainda estava vivo.
Fortalecido, o Inter começou bem o torneio. Terminou a primeira fase na ponta do Grupo G com três empates e seis vitórias, uma delas sobre o Grêmio por 1 a 0, gol de Jair. Na segunda fase, 11 pontos em sete jogos (a vitória à época dava dois pontos) e classificação garantida. A terceira fase foi impecável: três jogos e três vitórias. As semifinais estavam a caminho, contra um considerado "favorito do torneio Palmeiras" e um ainda invicto Vasco, na grande final.
Passado inúmeras gerações, esses personagens podem ter se perdido no imaginário ou serem desconhecidos para os mais novos. Por isso, relembramos cada um dos heróis do tri, feito até hoje não alcançado pelo maior rival, somando alguns outros aspectos a matéria de Urnauer.
Time base: Benítez; João Carlos, Mauro Pastor, Mauro Galvão e Cláudio Mineiro; Batista, Jair e Falcão; Valdomiro (Chico Spina), Bira e Mário Sérgio. Técnico: Ênio Andrade.
Ênio Andrade
Chegou ao Colorado no meio de 79 para rerguer a equipe após a perda do Gauchão para o Grêmio naquele ano. Referência para muito dos treinadores atuais, Ênio Andrade sairia do Inter em 80 para treinar o Tricolor gaúcho onde foi campeão do Brasileiro de 1981. Ele ainda venceria o torneio pela terceira vez, quando comandava o Coritiba em 85. Treinou depois Palmeiras, Corinthians e Cruzeiro. Teve outras duas outras passagens pelo Inter. Faleceu em 1997 em Porto Alegre aos 68 anos.
Estilo: técnico nato, estrategista, pleno nas táticas e vencedor. Andrade foi um dos responsáveis pela reviravolta do Inter em 1979 e por fazer do Colorado o primeiro campeão brasileiro invicto. Com pulso firme e o elenco na mão, conduziu com maestria um esquadrão equilibrado do começo ao fim
Benitez
O goleiro paraguaio chegou ao Beira-Rio em 1977 para substituir o ídolo Manga. Foi emprestado ao Palmeiras em 78, mas voltou ao Inter no ano seguinte para conquistar o Brasileiro. Largou o futebol em dezembro de 1983 após chocar a cabeça contra um adversário e sofrer uma contusão na medula. Virou empresário de futebol e dirigente do São José, de Porto Alegre, desde então.
Estilo: muito seguro e ágil, o paraguaio fechou o gol do Internacional na campanha do Brasileiro e foi um dos destaques da equipe na competição. Foi uma das maiores revelações de seu país naquele final de anos 70, foi titular da Seleção Paraguaia e só não teve uma carreira mais longa por causa de uma grave lesão em uma partida disputada em 1983, pelo Inter, no interior gaúcho.
João Carlos
Foi o lateral-direito do tri, apesar de atuar também na zaga. É o pai dos gêmeos Diego e Diogo que jogaram pelo Inter no início dos anos 2000. Atualmente, está aposentado por invalidez.
Estilo: era zagueiro de origem, mas foi improvisado na lateral por Ênio Andrade e não comprometeu. Jogou sério, fez ótimas partidas na reta final e venceu o duelo com Joãozinho, do Cruzeiro, quando todos pensavam que ele levaria um baile do habilidoso cruzeirense.
Mauro Galvão
Era o novato daquele time. Revelado pelas categorias de base do clube, tinha apenas 18 anos em 79. Consolidou uma carreira de muito sucesso, inclusive com convocações para a Seleção Brasileira. Foi campeão brasileiro novamente quando defendia o Grêmio em 95. É também ídolo do Vasco, onde conquistou outros dois títulos do Brasileiro, além da Libertadores de 1998. Depois da aposentadoria, virou técnico e dirigente de futebol.
Estilo: com apenas 17 ano, foi a maior revelação do clube naquele final de década. Muito habilidoso, ótimos nas saídas de bola e especialista em desarmar os adversários com carrinhos leais e impecáveis, Galvão mostrou que seria um dos principais zagueiros do futebol brasileiro por muito tempo.
Mauro Pastor
O xará de Galvão foi também seu companheiro de zaga. Chegou da Ferroviária em 79. Ficou no Inter até 1984 e depois rodou por times de menor expressão no Brasil. Vive hoje com sua família em Araraquara, no interior de São Paulo.
Estilo: experiente, bom no jogo aéreo e muito leal, completava com perfeição a dupla de zaga colorada naquele ano de 1979. Jogando ao lado do garoto Mauro Galvão, Pastor passou muita tranquilidade ao jovem talento e manteve a retaguarda vermelha intacta em várias partidas do torneio. Mostrou muita frieza nos momentos decisivos.
Cláudio Mineiro
Lateral-esquerdo da equipe, também atuava pela direita quando necessário. Tinha como principais características o chute forte e a cobrança de falta. Após a aposentadoria, virou treinador de futebol. Vive hoje no Mato Grosso do Sul.
Estilo: muito bom na marcação e no apoio ao ataque, foi soberano na lateral-esquerda da equipe entre 1979 e 1980. Fez falta durante a disputa da Libertadores e perdeu algumas partidas da reta final.
Paulo Roberto Falcão
Falcão é sempre lembrado como um dos grandes jogadores brasileiros de sua geração. Era o destaque e capitão daquele time histórico do Inter. Marcou o gol do título na final contra o Vasco (confira o vídeo) vencida por 2 a 1. Já havia conquistado o Brasileiro de 75 e 76 pelo time gaúcho. É considerado por muitos o maior jogador da história do Colorado. Fez parte da marcante Seleção Brasileira de 82 e, depois do Inter, virou ídolo na Roma. Após aposentar-se dos gramados, foi comentarista de TV e é treinador de futebol (sem clube no momento).
Estilo: Tinha uma visão de jogo plena, ótimo passe, perfeito na armação e ótimo no drible, no chute e na finalização. Foram mais de 390 jogos pelo Inter, três Campeonatos Brasileiros e cinco Campeonatos Gaúchos.
Batista
Outro dos remanescentes do bicampeonato de 75-76. Era o motorzinho do time. Ajudava na defesa, mas também chegava ao ataque com qualidade. Depois de deixar o Inter em 81, passou por Grêmio e Palmeiras. Defendeu a Seleção Brasileira nas Copas de 78 e 82. Atualmente, é comentarista de TV.
Estilo: depois de ser coadjuvante de luxo nos títulos de 1975 e 1976, vivia o auge da carreira naquele ano de 1979 e foi um dos pilares do meio de campo do Inter. Com boa capacidade física, conseguia marcar e apoiar o ataque com a mesma vitalidade e regularidade. Saía jogando com categoria e iniciava vários contra-ataques mortais. Fundamental na conquista.
Jair
Conhecido como o Príncipe Jajá, também fez parte do bicampeonato de 75 e 76. Mas teve seu auge em 79 quando foi artilheiro do time na campanha invicta com nove gols. Ele abriu o placar na final contra o Vasco por 2 x 1. Era um meia de grande habilidade. Depois, foi campeão da Libertadores e do mundo pelo Peñarol. Hoje é empresário em Porto Alegre.
Jair: perito em cobranças de falta e muito habilidoso, “Jajá” jogou muito em 1979 e marcou vários gols essenciais na conquista colorada. Sabia cadenciar o jogo quando preciso e engatilhar ataques rápidos também.
Mário Sérgio
Outra das grandes estrelas daquele time. Destacava-se pela grande habilidade e criatividade no meio de campo. Era conhecido como “Vesgo” pelo hábito de passar a bola para um lado enquanto olhava para o outro. Brilhou também com as camisas do Grêmio, do Flamengo e do Vitória. Faleceu no trágico acidente da Chapecoense em 2016. Em 2009, foi vice do Brasileirão como técnico do Inter, ajudando a classificar o clube para a Libertadores da América do ano seguinte, da qual o Colorado foi campeão.
Estilo: o meia foi o grande armador do Inter naquele título de 1979 e ainda marcou vários gols durante a campanha vitoriosa. Dava passes magníficos e com precisão milimétrica, driblava como poucos e ajudava na marcação do meio de campo quando o adversário retinha a bola
Bira
Era o centroavante da equipe. Veio do Remo, onde era ídolo, e foi criticado na época porque optou por assinar com o Inter e não com o Flamengo. Apadrinhado por Falcão e Batista, destacou-se na campanha e foi peça fundamental no Beira-Rio para a conquista do tri. Mora hoje em Belém onde trabalhou como treinador e como comentarista de uma rádio.
Estilo: depois de brilhar pelo Remo, foi jogar no Internacional e se deu bem no ataque do time. Não era habilidoso, mas se colocava bem na área, dava passes preciosos para os companheiros e costumava marcar seus golzinhos.
Valdomiro
Um dos maiores nomes da história do Inter, chegou ao Beira-Rio em 68. Foi campeão brasileiro ainda em 75 e 76, além de ter conquistado outros dez campeonatos estaduais (oito de forma consecutiva). É o quarto maior goleador da história do clube, além de ser o jogador que mais vezes vestiu a camisa colorada. Destacava-se pela velocidade e cobranças de falta. Atualmente, o ex-atacante mora em Criciúma e tem uma escola de futebol para crianças.
Estilo: ponta-direita, era um dos maiores garçons do time. Foi ídolo e o único a vencer genuinamente o octacampeonato gaúcho (1969-1976), além do tri brasileiro (1975/1976/1979). Seu estilo era técnico. Driblava e cruzava com precisão, além de cobrar faltas com categoria, anos antes havia marcado o segundo gol da vitória sobre o Corinthians, pela final do Brasileiro de 1976.
Chico Spina
Reside atualmente em Porto Alegre. Após parar com a bola, não conseguiu se desvincular do futebol. Atualmente, trabalha como agente Fifa.
Estilo: ninguém conhecia Spina nem ouvia falar muito sobre ele até a primeira partida da final do Campeonato Brasileiro de 1979. Com dois gols, o atacante destroçou o Vasco em pleno Maracanã e praticamente selou o tricampeonato nacional do Inter.
Fontes de pesquisa: Redbull / onefootball / imortaisdofutebol.com