Em entrevista ao Fim de Papo, do UOL, o presidente do Inter, Alessandro Barcellos, afirmou que o clube não tem como seguir jogando normalmente o Brasileirão em meio à catástrofe no Rio Grande do Sul. Ele descartou a possibilidade de deixar o estado nesse momento.
O dirigente do Inter relatou a dimensão do impacto da enchente no Colorado. "Tenho vários funcionários sem casa, atletas que tiveram que se mudar de Porto Alegre porque não tinham mais como sair de casa nem como receber alimento, com crianças, com bebês", afirmou Alessandro Barcellos.
'Foi tudo submerso': "Para ter uma ideia, nosso CT e o CT do Grêmio foram totalmente alagados. Posso falar mais ainda pelo nosso: as estruturas foram todas elas afetadas tanto do ponto de vista do campo esportivo, dos gramados, quanto do ponto de vista da sede de academia, de departamento médico, fisioterapia, enfim, foi todo ele submerso e isto terá que ser reconstruído. No estádio, a mesma questão, a parte térrea do estádio, toda zona mista, área de competições, vestiário, toda ela foi alagada e terá que ser recuperada também. Num primeiro momento, sem a gente poder entrar lá e enxergar exatamente o tamanho para poder fazer alguma projeção mais próxima da realidade, a gente não tem esse levantamento ainda, vai demorar um pouco para acontecer. Na última enchente, demorou-se 32 dias para a água baixar. Se a gente fizer uma estimativa muito superficial, supondo que isso demore mais uns 30 dias, estou aqui fazendo uma projeção sem nenhuma base muito técnica, porque nem os técnicos têm essa certeza, você ainda terá que ter mais uns 60 dias no mínimo para colocar as coisas em ordem, então nós estamos falando não menos do que 90 dias".
'Atletas tiveram que se mudar de Porto Alegre': "Não dá nem para medir agora um prejuízo financeiro, será bastante considerável. A CBF acenou com alguma coisa do tipo, olha, nós vamos dar uma ajuda, nós vamos tentar ajudar internacional, mas confesso que nós não chegamos a tratar disso, não não tivemos ainda nem a oportunidade de chegar nesse ponto porque a gente tem funcionários do clube que estão sem casa, vários, não são um nem dois, eu tenho outros tantos funcionários que tiveram que sair [de suas casas], tenho atletas que tiveram que se mudar de Porto Alegre porque não tinham mais como sair de casa nem como receber alimento, com crianças, com bebês, e tiveram que buscar nas cidades próximas aqui uma situação um pouco melhor. A gente não conseguiu tratar de temas como esse, mas sem dúvida nenhuma deverá ser tratado em algum momento, acredito que a partir de uma etapa de reconstrução que virá logo, a gente espera que esse seja um tema fundamental".
Sobre a oferta de estádio e CT de outros clubes: "A gente recebeu, sim, e acho que as pessoas fizeram com a intenção também de apoiar, mas a gente não cogita isso nesse momento. Esse momento é um momento que a gente precisa estar aqui junto. A gente não consegue chegar para um grupo de jogadores, de atletas que estão envolvidos — muitos deles na linha de frente, tem jogador nosso que estava com a água pelo peito tirando pessoas idosas nas costas de dentro das habitações, tem jogador nosso que estava fazendo comida nos abrigos, tem jogador nosso que estava tentando tirar essas pessoas daqui hoje — e pedir para eles irem a algum lugar para jogarem futebol sem considerar esse contexto. Evidentemente que as coisas vão passar por uma segunda etapa de reconstrução e a gente vai ter que avaliar em algum momento, como eu falei, aqui são no mínimo 90 dias, mas neste momento crítico que nós estamos vivendo, a gente agradece, mas não considera isto uma solução".