Ame ou deixe-o? Após largar o SCI em 2020, Eduardo Coudet retornou ao Beira-Rio para tentar salvar uma temporada de poucos momentos empolgantes. Chegando com um estilo completamente oposto ao de Mano Menezes, seria o argentino uma escolha certa na última cartada de Alessandro Barcellos? o que podemos esperar de Chacho nestes próximos meses de Inter e no duelo contra o River Plate? Tentamos responder essa questão no Conversa de Boteco, de colorado para colorado.... Confira as análises:
ARIEL
Era difícil defender o trabalho do Mano Menezes em 2023. Após um bom ano de 2022 onde ele conseguiu dar ao time algumas "fortalezas", a temporada atual é decepcionante do início ao fim.
Neste contexto, era quase impossível ter esperança, tendo em conta a maneira como vinha atuando, sem desempenho e com resultados aquém em todo o ano, fazer frente diante do River.
O Inter foi irregular e teve dificuldades diante de qualquer adversário, mesmo mantendo praticamente todas as peças do elenco que teve vários destaques no ano passado.
Sendo assim, a saída do Mano diante dos resultados negativos desde o Estadual, e principalmente na eliminação da Copa do Brasil era apenas uma questão de tempo, tendo em conta a campanha ruim no Brasileiro.
O nome do Coudet me agrada por alguns aspectos, mas como qualquer outro técnico, tem também os seus defeitos.
Gosto do estilo mais ousado e corajoso do Coudet, para tentar tirar o "marasmo" em que o Inter se encontra, de tentar dar algo a mais para uma equipe que vinha jogando muitas vezes por uma bola, sem controle de jogo algum, e sem conseguir algumas vezes nem finalizar ao gol como ocorreu várias vezes nesse ano.
O próprio Coudet demonstrou algo interessante em sua primeira passagem, mesmo com um elenco modesto, se via uma ideia e um padrão de jogo treinado e automatizado, com marcação sob pressão por alguns momentos, com posse de bola, com velocidade, enfim, com variações, algo que com o Mano raramente vimos.
De negativo, lembro que o treinador argentino fazia opções que não concordava nem ao menos entendia, como Musto de volante, Zè Gabriel ao invés de Moledo, partidas onde demorava demais para trocar e a equipe sentia o peso no final, questões mais de decisão e leitura de jogo, na qual nem sempre me agradava...
Também no aspecto do vestiário, as entrevistas pós jogo eram muito ruins, colocando sempre a culpa no elenco, e poucas vezes sendo auto crítica ou ao menos, defendendo o grupo que vai a campo.
Concluindo, me parece que a ideia pelo nome de Coudet seja nesse aspecto tático, de tentar dar uma cara mais positiva e prepositiva ao Inter, mais arrojada. No entanto, temo que a mudança possa ter sido um pouco tarde demais para poder fazermos frente ao River, e salvar a temporada.
ISRAEL
O ano de 2023 sob comando de Mano Menezes foi muito abaixo das expectativas em resultado e também em desempenho, não fizemos um jogo (90 minutos completos) bom este ano até agora, nem mesmo no Gauchão. No máximo que tivemos foram tempos de 45 minutos bons, e ainda assim dá para contar na mão porque nao foram mais de 5 em todo o ano.
Jogadores desconectados, marcação baixa esperando o adversário, fora de casa sempre jogando para empatar e por uma bola, nada de desempenho coletivo e triangulações de jogadas, dependiamos apenas da individualidade dos jogadores.
E por falta do coletivo e conjunto, muitos jogadores que fizeram uma boa temporada 2022 afundaram este ano, era mais do preciso a mudança de treinador.
Fico feliz com a chegada do Coudet, treinador que gosta de ver o time jogar seja em casa ou fora, reveza momentos de marcação alta e outros com recuo pra dar descanso pro time. Algumas caracteristicas do nosso elenco são distintas do que ele pensa (zagueiros que saiam jogando precisaremos mais um, laterais ofensivos, Renê não tem tanto esta virtude, atacantes de lado não costuma ser como ele joga). Mas são situações que espero ele ajuste.
Outra vantagem é já conhecer o futebol brasileiro e também o River que enfrentaremos na libertadores, espero que voltemos a jogar futebol e fico confiante com o retorno do Coudet!
ALAN
Sob minha ótica o Internacional faz um 2023 medíocre por erros de planejamento crassos, sobretudo de cima para baixo e que recaem em todas as esferas de trabalho. Inicialmente, o maior equívoco foi na montagem do grupo: ao se desfazer em excesso de jogadores de determinado gabarito, que mesmo em momentos individuais ruins mantinham uma certa competitividade interna, o SCI desestruturou o dia a dia de treinamento, a mínima disputa interna, algo essencial em um esporte tão competitivo e em novo cenário mais exigente com as SAFS. Somente essa explicação no meu ponto de vista pode sustentar e decifrar como uma equipe que mantém os mesmos XI de um ano para o outro pode desabar de rendimento após nem 45 dias depois.
Aliado a isso, tivemos uma comissão técnica mal planejada fisicamente e com elenco sem qualidade básica para repor peças cruciais do time, como no ataque e meio de campo. Pronto, a direção desestruturou todos os alicerces para garantir uma estrategia que fosse aumentando de nível conforme a exigência, porque jamais a possuiu nem menos intermanente. Mesmo com tudo isso, de modo algum absolviria o trabalho de Mano Menezes na temporada, ainda que me pareça crucial determinar a relevância de cada posto hierarquicamente, com Alessandro Barcellos repetindo - nos seus 3 anos de gestão praticamente - os mesmos erros de sempre, de inícios insuficientes e tentando recompor o grupo no meio do ano, enquanto torneios são jogados no lixo e formações remontadas sem nenhum tempo de implementação.
Dito isso, tentarei agora avaliar a escolha de Eduardo Coudet: havia outra opção atualmente no mercado? A escolha pela troca de comando - que era um tanto óbvia e deveria ter ocorrido logo após o GreNal - neste momento da temporada, com praticamente nenhum tempo de inserção revela/reforça o que foi dito acima: o SCI é um clube dirigido de maneira quase sensorial, na tentativa e erro. De um lado o Inter sairá de um time que mirava a sustentação defensiva para tentar jogar com pressão alta e posse enquanto, no sentido inverso, concebe uma base de time envelhecida.
Em 2020, quando Chacho foi contratado, traduzi para o site uma matéria de diversas fontes argentinas dando conta seus métodos de treinamento, e chamava atenção sua alta média de lesões: com treinos sempre em alta rotação, Coudet terá certamente um maior número de baixas graves. Pouco acostumado a trabalhar no Brasil a longo prazo (sempre sai antes), não consegue mudar sua perspectiva pessoal para algo mais maleável ao contexto. Foi justamente isso que fez com o que o trabalho dele no Inter em 2020 afundasse. No início, com um plantel descansado, o coletivo funcionava e tínhamos uma equipe eficiente, todavia, quando as baixas começaram a se somar e o preparo físico decair exponencialmente, o que se viu foram atuações medíocres, tão ruins quanto o time de Mano, bastando lembrar da sequência final contra Goiás, Bahia, Católica, Corinthians, Coritiba e sobretudo Grêmio na Libertadores, que foi a epítese do que não deveria ter sido feito. Em vez de atuar de maneira estratégica, Coudet quis - já com um XI bastante enfraquecido - duelar aquele clássico somente ao "seu estilo" e sem se adaptar minimamente ao time de Renato, que o engoliu como era de costume.
Assim, sua chegada visa basicamente tentar avançar no mata-mata, outro tipo de torneio que não costuma se dar tão bem, caindo na Copa Argentina com o Racing, Gauchão, Copa da Espanha e recentemente Copa do Brasil com o Galo, todos contra adversários bem mais fracos. O motivo é justamente essse: sua dificuldade em sair do padronizado idealmente e optar - nos momentos certos - em sair do "quadradinho". O Inter de 2020, quando começava a ficar previsível, ele saiu, sem conseguir oferecer mais nada, enquanto o mesmo elenco se adaptou ao sistema de Abel um mês depois. Assim, com tão poucos dias de treino, se Coudet tentar fazer um Inter a sua cara e não priorizar a inteligência tática e de estratégia, reconhecendo os pontos fracos do River Plate (sobretudo defensivos) e moldando minimanente o Colorado, vejo o duelo com problemas, especialmente com uma defesa alta e exposta para o perigosíssimo ataque argentino. Todavia, se ele conseguir implementar e focar essencialmente na contra-pressão (que é uma de suas melhores características e que Mano não conseguia efetivar), aliando a um sistema que possa ser adaptado aos comandados de Demichelis, poderemos ter reais chances, o que praticamente inexistia com o ex-treinador. Mesmo assim, repito minha avaliação de semanas atrás: se tivermos que atuar com uma meia cancha com Campanharo, John ou De Pena (pouca intensidade e pegada), não há técnico que se salve com um nível tão pobre.
Por fim, como Coudet ficará idealmente apenas 4 meses no Gigante, parece improvável que seus intermináveis chiliques aflorem, diminuindo um ambiente sempre tenso, já que somos um clube pressionado há anos. Com bons inícios de trabalho, "quizá" o ex-técnico millonário possa usar sua experiência contra o rival de Buenos Aires, algo que iremos precisar, além de muita sorte. Em relação ao Brasileiro, estamos há apenas 3 pontos do G4, com um panorama ainda bastante viável em relação a uma vaga na Libertadores, que precisa ser alcançada até dezembro.