Eduardo Coudet é o avanço natural de status e exigência de um ciclo que se iniciou no fundo do poço em 2017 e culminou com o Inter voltando a disputa pelos títulos, como ocorrido no Brasileiro de 2018 e na Copa do Brasil / Libertadores 2019. Com muitas dívidas e confiança no ralo, por mais que a falta de uma grande conquista seja evidente, tão clara quanto é que se organizar a um ponto mínimo de competitividade não é tão fácil quanto parece, e se assim fosse, o Inter teria 15 finais de Copa do Brasil, 10 de Libertadores e uns 25 vices nacionais, o que não acontece aqui nem em nenhum outro lugar.
Partindo do princípio que é no encerramento da temporada onde os ajustes de fato são realizados, o Colorado inicia 2020 com um acerto dos mais importantes: um treinador a altura do clube e no momento certo. Se buscarmos na história – pode ser nos últimos 10 anos – quantos grandes treinadores de fato (daqueles indiscutíveis, do que existe de melhor do mercado) tivemos? Desde Tite, nenhum. O próprio Abel em 2006 veio como um azarão. Ademais, quanto tempo o próprio Tite teve para implementar um trabalho a longo prazo? Nem 2 anos permaneceu, enfatizando da pior maneira a máquina de destruição em massa que tem sido o SCI quando o objetivo é trabalho sério e profissionalismo.
Recentemente, com um elenco bastante limitado, Odair Hellmann fez um bom trabalho, sem exigir tanto financeiramente. Poderia ter sido melhor? Sem dúvida, mas para o momento foi um acerto que acabou batendo na trave por limitações suas, do grupo e méritos alheios. Mesmo assim, cobrar que o Inter tivesse contratado um Eduardo Coudet – ou quem sabe um Sampaoli – em 2017 ou 2018 não parace razoável, pois o clube não era atrativo financeiramente nem conjunturalmente. Assim, precisamos olhar as decisões com o contexto, para não nos perdemos demais nem exigirmos que o clube faça o que não poderia.
O tempo no futebol é o grão-mestre mas com enorme potencial ludibriador. Enquanto a formação de um elenco requer 2, 3 e até 4 anos (como no caso do Liverpool, atual melhor time do mundo), a temporada corre semana a semana e os julgamentos são imediatos. De 3 em 3 meses gênios táticos viram incompetentes na casamata, sendo trocados como se tivessem vareta mágica, por não conseguirem apressar a saída ou chegada de jogadores com um toque e subordinando jogadores desconectos - ou sem totais capacidade - de uma hora para outra.
Falando sobre tempo, retorno ao caso colorado, para citar que ai estará um dos desafios do novo comandante alvirrubro: a falta dele. Com um calendário caótico, o planejamento com estadual parece ser o mais inadequado possível, enquanto clubes como o Athletico-PR largam em vantagem preparando sua equipe principal para a reta final do ano, deixando sua base crescer e experimentar o nível profissional independente do resultado. A torcida colorada aceitaria perder um Gauchão com um time de garotos? Duvido. Já começamos atrás, ainda mais com pré-Libertadores.
Além do tempo e do planejamento, à falta de recursos e os problemas financeiros nos cofres impõem uma realidade dura: contratamos as peças possíveis e não as desejáveis, como Flamengo, Palmeiras e até o Grêmio tem feito na atual janela. Todos esses serão rivais diretos e vivem melhor momento estrutural porque fizeram o dever de casa em anos anteriores. Também largamos atrás nesse quesito.
Somando os problemas do tempo, planejamento e da falta de recursos, temos a pressão avassaladora da torcida, por momentos completamente autodestrutiva como o que foi visto no segundo turno do Brasileiro. Como democrata, respeito todos os colorados que vaiaram e protestaram (pacificamente) contra o time na evidente queda de rendimento após o vice da Copa do Brasil, mas ressalto minha tristeza e desacordo. Não se trata de ser mais ou menos torcedor, mas de entender um comportamento e seu reflexo direto. Tentarei explicar.
Usando a lógica, vemos que o Inter até a metade da temporada fazia um ano quase que perfeito. Enfrentou rivais melhores (como River, Grêmio) sem sair derrotado, bateu o então líder do Brasileiro (Palmeiras) e Cruzeiro (mesmo em decadência não havia sido derrotado pelo River nas oitavas semanas antes) e então o clube perde uma final (havia alcançado apenas 2 em mais de 30 anos) e a postura da torcida é de que todos são incompetentes, preguiçosos e não servem mais. A nítida falta de confiança abalou a todos e o rendimento piorou ainda mais. Uma equipe que havia permanecido no G4 jogando metade do primeiro turno com time reserva desabou e a torcida, em vez de apoiar ou se mostrar ainda mais ao lado, preferiu ofender e xingar tudo e a todos. Lembro de discutir com meu irmão sobre o assunto e chegamos a conclusão de que apenas no Brasil esse tipo de conduta ocorre, pelo menos nesse grau. O Liverpool perdeu duas finais continentais e sua torcida manteve o estádio cheio, apoiando, jamais vaiando seus jogadores por perderem decisões. O Borussia Dortmund foi goleado pelo Bayern inúmeras vezes e nos jogos seguintes recebeu um apoio ainda maior (tal comportamento é quase regra). O motivo desse tipo de postura então ficou claro, é meramente cultural.
Perder no Brasil é sinônimo de fracasso completo, enquanto que nesses dois países (Inglaterra e Alemanha) faz parte do esporte e a lição é tentar melhorar, juntos, nos momentos subsequentes. É possível perceber uma infantilidade no imaginário brasileiro de que a derrota ocorre meramente pela falta de aplicação, vontade, preguiça, o que é completamente inverso a qualquer equipe que chega a uma final. Faz sentido perceber que 1, 2 ou 3 jogadores tenham esse tipo de postura em um grupo de 30, agora acusar de um jogo para o outro que todos são vagabundos ou vaiar durante o jogo piora ainda mais a situação, sendo um reflexo desse tipo de comportamento.
Ainda assim, o pior dessa atitude não é simplesmente piorar o quadro (como ocorreu com o Inter nos jogos em casa no segundo turno, pelas estatísticas) mas ver que a longo prazo se reflete no planejamento estrutural. Não conseguimos digerir derrotas e aprender com elas, consequentemente, vivemos buscando soluções rápidas e que parecem de imediato melhorar um quadro específico.
Portanto, tentando finalizar e não alongar ainda mais, nesse bolo todo, existe uma estrutura chamada Sport Club Internacional que precisa evoluir em todos esses quesitos para oferecer a seu novo técnico o melhor possível. Coudet não foi campeão no Rosário – e fez um grande trabalho – não conseguiu trabalhar no México e só venceu no Racing (com revezes em todas copa domésticas). Com um início tão difícil não é impensável imaginar tropeços em sua primeira temporada de adaptação ao nosso futebol, e será ai que precisaremos avaliar qual caminho seguir, seja a nível diretivo ou para nós, meros torcedores. Coudet é um dos maiores acertos do Inter mas não ganhará nada sozinho.
Por Alan Rother -> Desde já peço desculpas por qualquer erro ou imprecisão gramatical, texto escrito e revisado com pressa, de igual, fica aqui meu desejo de Feliz Ano Novo para TODOS os amigos que sempre nos acompanham!