Inter e Grêmio refazem as contas e procuram soluções para uma severa falta de fluxo caixa nos próximos meses. A situação é tão dramática que atrasos no pagamento dos salários de jogadores e funcionários dos dois clubes não estão descartados.
“É difícil fazer qualquer previsão, pois sequer sabemos quando vamos voltar a jogar. Por enquanto, estamos conseguindo suportar os pagamentos, mas não sabemos até quando vai ser possível. A situação é dramática”, enfatiza o 1º vice-presidente colorado, Alexandre Chaves Barcellos, em matéria do Correio do Povo, nesta quinta-feira (19).
No Grêmio, a realidade é idêntica: “Estimamos uma perda entre R$ 20 e 25 milhões nos próximos três meses, dependendo do cenário. Vamos ter que repactuar contratos com fornecedores e acordos já existentes”, informa o presidente gremista, Romildo Bolzan.
Ambos os dirigentes lembram que os cofres dos clubes dependem dos jogos. Só pela Libertadores, Inter e Grêmio receberiam 2 milhões de dólares nas próximas semanas − 1 milhão de dólares para cada jogo em Porto Alegre na fase de grupos. Outra receita importante vem dos associados.
Os clubes ainda não fizeram cálculos da inadimplência que virá tanto pela crise econômica quanto pela falta de jogos, mas preveem uma perda importante. “O mundo será diferente daqui a 90 dias ou 120 dias, quando essa crise do coronavírus acabar. Não sabemos quantos desempregados ou empresas quebradas teremos, mas não serão poucos”, lamenta Alexandre Chaves Barcellos.
“Os clubes com capacidade de endividamento terão alternativas. Quem não tiver, viverá sérios problemas. Estamos discutindo várias soluções e vamos ver como as entidades vão se comportar. Questões como o Profut, impostos e prorrogações de pagamentos terão que ser analisadas”, disse Romildo.
Para piorar e aumentar essa bola de neve, a janela de transferências do meio do ano, que é a mais volumosa no velho continente, não deve ser de grandes negócios. O diretor-gerente do Borussia Dortmund, Hans-Joachim Watzke, afirmou que o futebol alemão se encontra "na maior crise de sua história" diante da pandemia do coronavírus. O dirigente fez uma declaração na semana passada, deixando claro seu temor pelo futuro: "Todos nós temos que fazer isso juntos em solidariedade e discutir as derivações correspondentes (...) No entanto, dependendo do que for decidido, o futebol profissional alemão está na maior crise de sua história."
Os 222 milhões de euros que o Paris St. Germain transferiu para o Barcelona por Neymar há cerca de três anos são provavelmente um recorde para sempre. A crise atinge o mundo inteiro do futebol com a mesma severidade. Já se teme que alguns clubes vão à falência. Definitivamente, não é possível que haja dinheiro disponível para transferências de milhões, especialmente neste inverno. "Certamente haverá transferências, mas não nos últimos volumes. As reservas de caixa simplesmente não existem devido ao nível de juros no passado, especialmente na crise. Não sabemos como a situação está se desenvolvendo na Espanha, Itália ou Inglaterra. No que diz respeito a Corona e Brexit, vejo especialmente os britânicos ameaçados de duas maneiras ”, teme Gregor Reiter, especialista em falência e direito esportivo alemão.
Se as nove rodadas restantes das duas ligas alemãs não forem mais disputadas, segundo informações do "SID", danos econômicos de aproximadamente 770 milhões de euros resultarão da falta de renda. Direitos de TV, patrocínio e venda de ingressos. E os custos de funcionamento dos clubes permanecem - uma situação extremamente precária. O CEO do Bayern, Karl-Heinz Rummenigge, também vê dessa maneira. Se o pagamento pendente dos detentores de direitos televisivos não se concretizar, muitos clubes pequenos e médios enfrentariam problemas de liquidez: "Há uma quantia grande em três dígitos para a 1ª e a 2ª ligas no incêndio". No Brasil, o quadro é praticamente idêntico mas até mais grave, devido as más gestões, enorme legado de dívidas e quase nenhuma visão de longo prazo. Quanto maior o tempo sem jogos, maior será o estrago.