O jornalista Rodrigo Capelo, especializado especializado em negócios do esporte, avaliou nesta semana as contas do Internacional da temporada 2022, com alertas que mantém uma rotina no Beira-Rio.
Mesmo com o discurso de Alessandro Barcellos em sua campanha, fato é que o SCI não melhorou novamente o cenário.
Se por um lado, receitas continuam a ser aumentadas, o que melhora a capacidade de honrar compromissos e fazer investimentos. Por outro, problemas em relação ao endividamento também vêm sendo agravados.
A dívida aumentou mais uma vez e chegou a praticamente R$ 660 milhões. Mais da metade é devida no curto prazo – ou seja, a pagar em menos de um ano. Mesmo com o aumento das receitas, é justo dizer que o clube colorado ainda se enquadra em uma crise financeira.
Essa crise causa adversidades. Só em 2022, foram desperdiçados R$ 79 milhões com despesas bancárias, juros e multas sobre dívidas. Este valor poderia ter sido aplicado no futebol, se o clube não viesse carregando um endividamento tão alto com instituições financeiras.
Ainda se deve levar em consideração o contexto político. Alessandro Barcellos entrou em seu último ano de administração, em 2023. No primeiro, o dirigente esboçou o início de uma recuperação financeira. No segundo, pode-se concluir que os problemas persistiram e se agravaram, apesar de avanços pontuais. O que acontecerá no terceiro?
A julgar pelo fato de que a Copa do Brasil já acabou, com eliminação nas oitavas de final, restam ao Inter o Campeonato Brasileiro e a Libertadores para salvar o ano em vários aspectos: esportivo, financeiro e político. Barcellos precisará de alguma sorte para demonstrar que, desta vez, as notícias positivas podem se sobressair às negativas.
Panorama
Quando uma pessoa tem dívidas que correspondem quase ao dobro do que ganha em salários no ano inteiro, fica fácil notar que ela passa por problemas financeiros. Esta é mais ou menos a situação do Internacional, cujas dívidas superam em muito as receitas de uma temporada.
Esse cálculo se faz para dar uma noção sobre a capacidade de pagamento. O problema não é ter dívidas, desde que haja condições para honrar os compromissos no prazo combinado. E o Inter, se não está entre as piores crises do futebol brasileiro, também não vai nada bem.
A relação entre receitas e dívidas do Internacional
Receitas
Direitos de transmissão e premiações são puxados pela performance em campo, e neste aspecto o dirigente colorado foi um tanto infeliz na temporada passada. O Campeonato Brasileiro é prestigioso, mas tem pagamentos variáveis muito menores do que a Copa do Brasil. Como o Inter foi muito bem nos pontos corridos e muito mal no mata-mata, deixou um dinheiro considerável na mesa;
O departamento comercial e de marketing gerou praticamente a mesma quantia, na comparação entre 2021 e 2022. Neste item são incluídos patrocínios, publicidades e licenciamentos;
A reabertura plena dos estádios, com o fim da pandemia, facilitou o aumento nos ganhos com bilheterias do Beira-Rio. O quadro social, com mais de R$ 60 milhões arrecadados, continua a ser uma vantagem perante programas de associação do resto do país;
Transferências de atletas se mantêm como um ponto de destaque do Internacional, com valor líquido próximo aos R$ 100 milhões. A diferença fundamental nesta linha é que, dez ou vinte anos atrás, o clube tinha enorme superioridade em relação a adversários nas vendas. Hoje, está empatado ou abaixo dos maiores negociadores.
O perfil do faturamento do Internacional em 2022
Dinheiro e performance
A ineficiência do departamento de futebol colorado era um problema recorrente, até poucos anos atrás. Fazia-se pouco resultado diante do dinheiro que era aplicado no elenco. No ano passado, com o segundo lugar no Brasileirão, já não dá para criticar com tanta ênfase o trabalho.
Tampouco se dá para elogiar demais. Com R$ 226 milhões em folha salarial – um item que agrega salários, encargos trabalhistas, direitos de imagem e de arena, premiações e deduções de natureza previdenciária –, o Inter tem o sexto maior gasto do país e um time competitivo.
A considerar quanto se gasta, a eliminação na primeira fase da Copa do Brasil se torna ainda mais grave. Mesmo as quartas de final da Sul-Americana poderiam ter sido superadas. Em ambas as competições, os adversários que saíram vitoriosos eram menos caros e qualificados.
Dívidas
Pior do que o aumento do endividamento como um todo é o perfil dele. Eis um assunto que incomoda colorados há quatro anos, desde que as dívidas de curto prazo saíram do controle e chegaram a um patamar que coloca a direção do clube sob intensa pressão no cotidiano.
O Internacional fechou 2022 com R$ 357 milhões a pagar no curto prazo – em menos de um ano, portanto no decorrer de 2023. Para um clube que fatura menos de R$ 400 milhões e ainda tem todos seus custos para pagar, antes de pensar nas dívidas, a situação segue crítica.
Não há solução fácil. Sem dinheiro para pagar todo mundo dentro dos prazos combinados, a diretoria colorada renegocia prazos com credores, busca novos créditos com instituições financeiras, enfim, faz o que pode para manter o clube funcionando. Sem que a solução definitiva apareça.
O perfil do endividamento do Internacional por vencimento
Dívidas bancárias são aquelas com instituições financeiras, que carregam juros e comprometem receitas, pois contratos precisam ser dados em garantia. No caso do Internacional, o clube concedeu 20% dos recebíveis por direitos de transmissão e 15% dos valores a receber de seus sócios;
Parcelamentos fiscais reúnem uma série de programas de refinanciamento lançados pelo governo ao longo dos últimos anos. O mais antigo é o Profut. Recentemente, o clube fez novas renegociações com a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e entrou no Perse, para obter descontos e alongar novamente os pagamentos de impostos não recolhidos;
Obrigações trabalhistas correspondem a salários, imagens e encargos correntes. Não são necessariamente dívidas por atraso, no sentido popular da palavra, mas referentes ao próprio ano. Um exemplo, para facilitar o entendimento: salários de dezembro são pagos somente em janeiro, mas viram o ano dentro dos passivos, pois o balanço fecha em 31 de dezembro;
Em "outros", estão fornecedores, agentes e clubes. Como o Internacional tem o costume de comprar direitos federativos e econômicos de jogadores, essa é uma linha que sempre esteve em destaque. E ela aumentou no ano passado, com o acréscimo de novos credores. Uma curiosidade: deve-se mais a empresas e empresários (R$ 51 milhões) do que a clubes (R$ 13 milhões);
Contingências apontam valores que podem ser desembolsados no futuro, por causa de ações judiciais movidas contra o clube. O departamento jurídico avalia a probabilidade de derrota nos processos em andamento, e o financeiro provisiona valores para aqueles em que a perda é "provável". Esta dívida só vira um problema de fato no dia em que a ação chega ao fim.
O perfil do endividamento do Internacional por tipo em 2022
Via GE