Texto por Colaborador: Redação 30/06/2022 - 10:00

O renomado jornalista Rodrigo Capelo, do GE, avaliou o quadro das finanças do SCI em 2021, resumindo a situação da seguinte maneira: de recuperação mas ainda longe de solução para crise.

De acordo com relatório divulgado nesta quarta-feira (29), a gestão de Alessandro Barcellos reduziu ligeiramente dívidas e melhorou o perfil delas, em relação a prazos, mas cenário ainda é desafiador para o cartola, que prometeu sanear o clube. 

Embora a performance em campo tenha sido decepcionante - com eliminação na terceira fase da Copa do Brasil, oitavas de final da Libertadores, 12º lugar no Campeonato Brasileiro - quando o assunto é finanças, Barcellos & Cia se saíram melhor. 

Panorama

A primeira comparação trata do faturamento (tudo o que foi arrecadado em cada ano) e do endividamento (o que havia a pagar no último dia de cada exercício), pois dá uma noção da gravidade da situação financeira. Não há problemas em dever muito, desde que se tenha dinheiro.

No caso do Internacional, percebe-se que o agravamento da dívida foi estancado. Ela parou de aumentar e até reduziu um pouco. Adiante, o detalhamento ajudará a dimensionar por quê (gráficos no rodapé da matéria).

Ao mesmo tempo, receitas subiram. Essa boa notícia deve ser entendida com moderação, pois existe uma particularidade da contabilidade, causada pela pandemia, que explica parcialmente essa expansão.

Receitas

Nos direitos de transmissão e nas premiações, unidos na mesma linha de arrecadação, está a maior força do Internacional – como é comum a quase todo clube de futebol no mundo.

Também está aí um motivo para cuidado. Como o Brasileirão de 2020 foi encerrado apenas em 2021, parte relevante de seus pagamentos, oriundos da televisão, foram contabilizados no balanço do exercício seguinte. Isso reduziu o faturamento de um ano e aumentou o de outro.

A diretoria colorada descreveu esse valor em seu relatório, junto do balanço: R$ 31 milhões. Este é o número que equilibraria os faturamentos de ambos os anos, deixando-os próximos um do outro.

Houve avanços e recuos, noutras áreas. Marketing e comercial aumentaram sua contribuição sobre as receitas em R$ 16 milhões, linha que inclui patrocínios, publicidades e licenciamentos.

Diretamente com a torcida, houve um decréscimo de R$ 5 milhões na arrecadação com o quadro social, enquanto o Beira-Rio gerou muito pouco por causa da pandemia, que o impediu de abrir seus portões durante boa parte da temporada. Não havia como ser diferente.

Por fim, nas transferências de jogadores, o Internacional chegou a R$ 70 milhões líquidos (descontadas participações de terceiros sobre os direitos econômicos). Praxedes e Vinicius Tobias foram as duas vendas que tiveram a maior participação nesse número.

Orçado versus realizado

Outra maneira de avaliar a jornada da administração colorada em 2021 está na comparação entre orçamento (com projeções feitas pela diretoria antes de a temporada começar) e balanço (com resultados alcançados).

Nas receitas, quase tudo saiu conforme planejado. O marketing se superou, enquanto houve frustração na área social, em relação às expectativas. No todo, não houve diferença significativa.

 A folha salarial reúne todos os itens que correspondem à remuneração do futebol: salários, direitos de imagem, encargos trabalhistas, premiações, direitos de arena e deduções. Entre todos os custos, este é o que possui correlação com o campo, pois reflete a qualidade do elenco.

O Internacional manteve essa linha sob controle, muito próxima do que havia sido planejado para a temporada. Em comparação a outros clubes, a folha colorada foi a sétima maior de 2021.

No resultado financeiro, estão itens não esportivos, como juros sobre dívidas e variações cambiais. Esta ainda é uma área que causa problemas para as contas da associação, na medida em que dívidas estão altas, e as taxas aumentaram de maneira geral no ano passado.

Por fim, o resultado líquido ficou dentro do esperado. O Inter terminou a temporada praticamente no zero a zero – lembrando que, como receitas de 2020 foram contabilizadas em 2021, o resultado foi influenciado por elas. Em circunstâncias normais, o clube teria deficit (prejuízo).

Dívidas

No endividamento, a direção conseguiu melhorar razoavelmente o perfil dele, principalmente no que diz respeito ao vencimento. As obrigações de curto prazo (a pagar em menos de um ano) foram reduzidas pelo segundo ano consecutivo. Isso reduz a pressão sobre o caixa.

Apesar do avanço, o valor que está sendo exigido no decorrer de 2022 por credores ainda é alto. São R$ 252 milhões no total. Diante de uma conta operacional (receitas e despesas, descritas acima) que está apertada, dar conta de todas essas cobranças é um desafio imenso.

Para entender a mudança no perfil, uma das razões está na parte fiscal, ou seja, impostos que o Internacional não pagou no passado. Nessa administração, o clube firmou novos acordos com o governo para refinanciá-los, com a maior parte dos débitos incluídos no longo prazo.

Na área trabalhista, a diretoria colorada reduziu ligeiramente o que estava em aberto, entre salários, direitos de imagem e encargos correntes (correspondentes ao presente).

Empréstimos e financiamentos foram também reduzidos, ainda que em quantia baixa – de R$ 139 milhões em 2020 para R$ 128 milhões em 2021. Esta dívida é nociva, pois vem carregada de juros e tem receitas dadas como garantia. O alento é que os vencimentos foram alongados:

R$ 55 milhões a pagar em 2022
R$ 31 milhões a pagar em 2023
R$ 29 milhões a pagar em 2024
R$ 12 milhões a pagar em 2025

No gráfico abaixo, a última coluna, "outros", representa fornecedores, clubes e agentes. Por ser um clube habituado a comprar os direitos federativos e econômicos de atletas, enquanto reforços, o Internacional tem um valor incômodo a pagar nessa área – que, em 2021, foi reduzido.

Futuro

É comum ouvir de profissionais do futebol que, em mandatos de três anos, todo presidente tem uma curva de aprendizado parecida. No primeiro ano, ele tenta se situar das crises variadas. No segundo, o cartola entende a função e começa a colocar algum plano em ação. No terceiro, quando começa a acertar, acaba a sua administração.

Alessandro Barcellos chegou à presidência com o discurso de que sanearia o Internacional. Não era para menos. O clube – que foi destaque em faturamento e administração por quase uma década, entre os anos 2000 e 2010 – vivia e ainda está em crise financeira.

Após seu primeiro ano de administração, ao reunir vários indicadores econômicos, não dá para dizer que o dirigente foi muito bem, nem muito mal. Seu mérito foi o de seguir o orçamento, reduzir o endividamento e melhorar seu perfil, em relação aos prazos para pagamento. Tudo em valores baixos, insuficientes para melhorar significativamente o quadro.

O desempenho esportivo em 2021 não ajudou, nesse sentido. Com a folha salarial que o departamento de futebol tinha à disposição, era possível conseguir a classificação para a Libertadores de 2022, que ajudaria a elevar receitas por meio de premiações e bilheterias.

Barcellos ainda tem um ano e meio de administração pela frente. Por um lado, ele será desafiado a melhorar o desempenho do futebol sem gastar mais. Por outro, o time já foi eliminado da Copa do Brasil e largou em desvantagem nas oitavas de final da Copa Sul-Americana, competições que rendem premiações relevantes. O cartola definitivamente terá de se superar.

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