Após uma temporada completamente decepcionante, o Internacional, enfim, deu motivos para o torcedor ao menos abrir um sorriso. Considerado grande azarão neste domingo no embate pela 15° rodada, os comandados de Aguirre surpreenderam e aplicaram uma implacável goleada de 4 a 0, com espaço até para mais. Consistente em todos os setores a esquadra alvirrubra parecia outra equipe daquela que, há dias atrás, empatou com o Cuiabá e caia diante do Olimpia. Na sequência do placar mais elástico alvirrubro contra o Rubro-Negro como visitante, confira o que de principal se disse na imprensa (local e nacional) sobre a impactante vitória interista.
CARLOS GUIMARÃES - R. GUAÍBA
É inevitável correr risco contra um time contra o Flamengo. O jogo era pra ser esse. É se fechar e contra atacar. Então, a proposta funcionou. Com prática, não com o desejo pela estética.
Mesmo que muitos não gostem, é o jeito que o Inter melhor joga: bloco baixo, muita marcação, competição o tempo todo e contra-ataque. E concentração o tempo todo. Sem parar, no máximo do foco e do físico. É o jeito que o time melhor funciona, mesmo que corra riscos.
É inacreditável, mas tem torcedor que não comemorou o resultado porque o time jogou fechado e no contra-ataque. Foi 4x0 contra o Flamengo no Maracanã. Não importam os efeitos, importa a estética.
Tem uma coisa que aprendi com dois mestres da análise, Ruy Carlos Ostermann e Cláudio Cabral: quando se aplica uma goleada, trata-se, obrigatoriamente de uma boa atuação. Não existe tocar 4 e jogar mal. E também aprendi que existem resultados que são incontestáveis.
MAURO CEZAR - UOL
Desde o "perder é normal" Fla não era derrotado pelo Inter. E foi humilhado.
O Flamengo estava cercado de euforia. O Internacional inundado por problemas e eliminações. Como vem acontecendo nos jogos do time de Renato Gaúcho Portaluppi, houve goleada, mas ela foi colorada. O campeão brasileiro foi humilhado no Maracanã.
Desde o jogo marcado pelas frases de Abel Braga, então técnico rubro-negro ("perder para o Inter em Porto Alegre é normal" e "o Beira-Rio é o estádio mais bonito") o Flamengo não perdia para os colorados. Eram três vitórias e dois empates, que se somam ao maior vexame do campeão brasileiro em 2021.
FILIPE DUARTE - GZH
Inter executou de maneira perfeita sua estratégia no1ºT. Fechado atrás, atrapalha a troca rápida de passes do Flamengo e, quando tem a bola, agride de forma muito eficiente. Edenilson, Patrick e Yuri Alberto repetem as grandes atuações da última temporada.
Goleada memorável do Inter! Não foi uma atuação plástica, mas eficiente. Time de Aguirre baixou as linhas, segurou a pressão do Flamengo e foi certeiro para construir uma goleada surpreendente de 4 a 0 no Maracanã
Renato tem muitas qualidades como treinador, mas é um péssimo perdedor. Depois de levar 4x0, reclamou da arbitragem, disse que Inter "jogou por bola parada" e que muitos adversários do Flamengo terão uma semana cheia para treinar. Rival não tem mérito nunca? É seu grande defeito
RAFAEL DIVERIO - GAÚCHAZH
Errei.
Rodrigo Lindoso fez uma partida sólida demais, complementou Dourado na marcação e até apareceu na frente, quase fez gol.
Melhor pro Inter, que sai do Maracanã de alma lavada e ânimo renovado pro Brasileirão.
DIMITRI BARCELLOS
Que atuação surreal do Inter, cara. No coletivo e no individual. Expectativa no chão que diminuiu ainda mais quando saiu a escalação. E 4 a 0 podendo ser mais. Incrível. Agora é usar esse resultado e desempenho pra embalar e ter um Brasileirão digno.
MAURÍCIO SARAIVA - GE
O primeiro gol de Taison na sua volta foi lindo. O Inter faz uma atuação no limite do empenho e da organização contra um Flamengo que se comporta como se fosse proibido marcá-lo. Derrota merecida.
Daniel fez a defesa do ano. Padrão Banks. Pena que depois, como parece ser lei entre os goleiros brasileiros, ficou no chão como se tivesse uma lesão que de fato não tinha.
Atuação colorada estrategicamente impecável. O Flamengo desmoronou em todos os sentidos. Começou o jogo numa soberba clássica, o Inter jogou desafiado por todo descrédito que ele mesmo provocou e dá resposta incrível.
CRISTIANO OLIVEIRA - GUAÍBA
4x0 não é a diferença técnica do Inter para o Flamengo. Mas foi a diferença de seriedade.
Um Inter eficiente e sério. Um Flamengo displicente, espaçado e envolvido.
RENATO MAURÍCIO PRADO - UOL
Não fez bem ao Flamengo a semana livre para treinos com Renato Gaúcho. Diante de um Internacional muito bem postado defensivamente e letal nos contra-ataques, a primeira derrota da era Portaluppi, no rubro-negro carioca, foi dolorida: 4 a 0, uma goleada categórica, em pleno Maracanã. Mas afinal o que mudou das sete vitórias consecutivas, seis delas com grandes exibições, para o desastre completo diante do Colorado?
Pra começar a qualidade do adversário que, apesar da má fase que atravessa, ainda tem jogadores com qualidades suficientes para decidir, como Edenílson, Taison, Yuri Alberto, Patrick, Cuesta etc. e um técnico competente, Diego Aguirre, capaz de estudar o rival e saber explorar suas fraquezas - e as muitas jogadas construídas nas costas de Filipe Luís não aconteceram à toa.
A contribuir ainda para a surpreendente goleada gaúcha, houve uma noite especialmente infeliz dos principais jogadores do time carioca: Gabigol, sobremaneira, parecia que tinha acabado de comer uma feijoada: lento, sem reflexos e com péssima pontaria. Para culminar uma atuação digna de nota zero, acabou expulso, por aplaudir ironicamente o juiz, após levar cartão amarelo. Atitude inaceitável. Dos chamados "quatro avançados", como os chamava Jorge Jesus, salvou-se apenas Éverton Ribeiro. E, como já diz o velho dito popular, uma andorinha só não faz verão.
Mas o que teria treinado, afinal, Renato, durante a tão esperada semana livre? Da maneira como o time se postou em campo, algumas mudanças ficaram claras - e são preocupantes. Por exemplo, William Arão deixou de recuar para fazer a saída de bola com os dois zagueiros. Tal papel coube a Filipe Luís, ao lado de Gustavo Henrique e Léo Pereira. Uma escolha no mínimo duvidosa, típica de quem gosta de viver perigosamente...
Pior: Arão não atuou também como primeiro protetor da zaga. Esteve quase sempre mais avançado, numa faixa de campo em que, ao menos nessa partida contra o Inter, não foi nem armador, nem volante. E Diego, como cabeça de área, já se viu nos tempos de Rogério Ceni, não funciona.
Filipe Luís, por sua vez, teve uma de sua piores apresentações com a camisa do Flamengo. Mas é aceitável deixa-lo jogar sem proteção? Está aí algo que Renato precisa rever, rapidamente. Quando o time pressiona o adversário em seu próprio campo, a zaga fica menos desprotegida. Mas dessa vez o Inter, na maioria das vezes, evitou sair jogando de sua própria área. E, expostos, ao combate mano a mano, os dois zagueiros rubro-negros e Filipe Luís se viram em clara desvantagem.
Houve soberba, nos primeiros 15 minutos, quando o Flamengo controlava as ações e chegou a criar algumas oportunidades para marcar, desperdiçadas por preciosismo? Talvez. Mas o fato é que, após sofrer o primeiro gol, em momento algum, o rubro-negro pareceu capaz de reverter a vantagem. Ao contrário, foi ficando cada vez mais exposto e poderia até ter sofrido mais gols.
A goleada no Maracanã significará a redenção para o Inter? Difícil garantir que sim. Mas é um bom começo. E quais são as previsões para o Flamengo? Não creio que sejam desanimadoras. Perder, como perdeu, no Brasileiro, onde há tempo suficiente para recuperação, não chega a ser tão grave e pode ter sido um importante sinal de alerta para o que vem por aí na Libertadores e na Copa do Brasil.
Se o Flamengo entrasse de salto alto contra o Olímpia, no Defensores del Chaco; ou contra o Grêmio, na Arena; e levasse uma goleada como essa, a classificação nos dois torneios de mata-mata estaria fatalmente comprometida. Por incrível que possa parecer, perder como perdeu do Colorado, pode ser útil para o que vem pela frente. Desde que Renato Gaúcho e seus comandados tenham aprendido a dura lição.
JUCA KFOURI - UOL
Sabe aquela sensação de ver um jogo entre a seleção feminina de basquete dos Estados Unidos contra qualquer outra?
Guardadas as proporções é a mesma de quando se vê um jogo do Flamengo contra a maioria dos times brasileiros.
Talvez com a diferença de que elas não esnobam a cesta e eles parecem preciosistas demais, com um toque a mais, a busca do gol bonito e não apenas do gol.
E certamente com a diferença de que não há hipótese delas perderem, diferentemente do que se dá tão frequentemente no futebol.
Fato é que o Colorado incorporou o espírito gaúcho e passou a mandar no jogo no Maracanã, como se dispostos a amarrar seus cavalos no Obelisco da avenida Rio Branco outra vez, como em 1930, para festejar a vitória de Getúlio Vargas.
Mas se 90 anos atrás chimangos e maragatos se uniram, hoje tinha um gaúcho do lado carioca que não admite perder para o Inter, de nome Renato.
Ah, o futebol!
Se não bastasse, Daniel também jogava muito ao evitar, de novo, o gol carioca, uma vez dos pés de Michael, outra dos de Pedro.
Só faltou Paolo Guerrero fazer o quinto gol. E foi por pouco que não fez.
O Colorado renasceu ao ensinar ao Flamengo uma lição de humildade, além do gostinho adicional de derrotar o gremista que comanda o Mengo.
Sempre lembrando que grandes times também são goleados, até o Santos de Pelé era — e nem por isso deixava de ser campeão ao fim dos campeonatos.
Só que mesmo que o Flamengo vença os dois jogos que tem a menos ficará a quatro pontos do Galo.