Através do seu blog non portal ge, o jornalista Rodrigo Capelo analisou o cenário financeiro do Colorado com base no balancete referente ao terceiro trimestre. Confira a análise na íntegra:
"Eleito há uma semana, Alessandro Barcelos tem uma boa noção dos problemas financeiros que enfrentará na administração do Internacional. Até porque, antes de virar oposição ao antecessor Marcelo Medeiros, o dirigente foi seu vice-presidente de finanças.
Para que a torcida também tenha a dimensão dos problemas, o ge prossegue com a minissérie sobre as finanças dos clubes. Desta vez, com base nos balancetes fechados em 30 de setembro de 2020, equivalentes ao terceiro trimestre. Uma visão parcial da temporada em andamento.
Receitas
Na arrecadação, o quadro tem explicação mais próxima das frustrações em campo do que propriamente da pandemia do coronavírus. Entre janeiro e setembro de 2020, o Internacional faturou R$ 196 milhões. Redução de R$ 63 milhões sobre o mesmo período de 2019.
Em televisão, linha com o maior decréscimo na comparação acima, estão as "premiações" da Copa do Brasil. Entre aspas porque esse dinheiro tem origem nos direitos de transmissão vendidos pela CBF e distribuídos aos clubes por meio das recompensas por performance.
Em 2019, ao término de setembro, o Internacional já tinha disputado até a final da competição contra o Athletico-PR. O prêmio por consolo pelo segundo lugar havia sido registrado. Em 2020, a eliminação nas quartas de final para o América-MG acabou com a esperança.
As frustrações esportivas cobram um preço caro por causa das expectativas desmedidas. No orçamento para a atual temporada, a diretoria colorada contava que o time chegaria pelo menos até a semifinal da Copa do Brasil e às quartas de final da Libertadores. Sem uma coisa, nem a outra, faltou dinheiro para arcar com as despesas.
Nas demais fontes de receitas, a pandemia do coronavírus impacta diretamente a bilheteria. Não há como arrecadar com o Beira-Rio com os portões fechados. Esta situação é comum a todos os clubes.
No mais, não há notícias muito ruins. E nem boas. Patrocínios foram mantidos no mesmo patamar, transferências de atletas renderam a mesma coisa. Em "outros" está, principalmente, a loteria. Que não enche a barriga de ninguém no futebol brasileiro faz muito tempo.
O problema do Internacional, portanto, tem muito mais a ver com ambições desproporcionais da administração de Marcelo Medeiros do que com problemas extraordinários. A "culpa" não é da pandemia.
Despesas
Marcelo Medeiros foi obrigado a reduzir pela primeira vez em todo seu mandato os gastos colorados. No total, o Internacional contabilizou R$ 248 milhões entre despesas operacionais e deduções sobre receitas. Com uma diminuição de R$ 36 milhões em relação ao mesmo período, fechamento do terceiro trimestre, da temporada anterior.
Algumas despesas caem naturalmente numa situação atípica como a de 2020. Sem competições para disputar por vários meses, não há custos com transporte, hospedagem etc. A comparação não é perfeita.
De qualquer maneira, os esforços da administração em reduzir gastos se percebem na folha salarial. Um item que inclui salários, encargos trabalhistas e direitos de imagem, principalmente. A redução em relação a 2019 é um sinal de que a diretoria tentou poupar recursos.
O maior problema, tratando-se do presente colorado, é que as despesas foram cortadas em proporção menor do que caíram as receitas. Como alguém que começa a cortar luxos do cotidiano para ajustar as contas, mas não consegue porque perdeu ainda mais renda.
Até setembro, o Internacional registrava um deficit (prejuízo) de R$ 75 milhões. Ainda que existam dentro deste número itens com importância meramente contábil, sem desembolso de dinheiro, não há como minimizar o impacto negativo causado por contas no vermelho.
Dívidas
O que acontece quando há prejuízo? Aparecem dívidas novas. A análise então deixa de olhar para o presente e começa a tratar do futuro.
Também muda um pouco a maneira de interpretar os números. A partir de agora, o quadro mostrará qual era a situação exatamente em 30 de setembro. Comparada, claro, às datas anteriores.
O Internacional aumentou seu endividamento mais uma vez no terceiro trimestre. Havia R$ 590 milhões a pagar para credores diversos no término deste período. Em números totais, a situação vai se agravando a cada três meses. O valor atual é o mais alto da história colorada.
Há duas maneiras de entender a gravidade desse número. A primeira é o recorte por prazo para pagamento. Neste caso, a administração de Marcelo Medeiros teve relativo sucesso no terceiro trimestre. O clube encerrou setembro com R$ 364 milhões a pagar no curto prazo, em menos de um ano. 62% do total. Estava pior no segundo trimestre.
Apesar da melhora no perfil, essa dívida de curto prazo continua a ser o problema mais grave. Em especial para quem está chegando agora, como o novo presidente Alessandro Barcelos.
E os jogadores vendidos? Ainda há dinheiro para receber de outros clubes pelos direitos federativos e econômicos deles? Sim, mas não muito. Em setembro, havia R$ 50 milhões em créditos no curto prazo. Muito menos do que o necessário para pagar as dívidas urgentes.
Nesse cenário, não há o que fazer. O Internacional precisará renegociar prazos e condições com credores, enfrentar alguns em cobranças judiciais e extrajudiciais, buscar dinheiro em outras frentes para dar conta dos compromissos inadiáveis. O montante total é impagável.
Como a diretoria de Marcelo Medeiros conseguiu reduzir a dívida de curto prazo entre junho e setembro? Com a tomada de empréstimos bancários com prazo superior a um ano.
Quando você separa no balancete colorado apenas os empréstimos com vencimento no longo prazo, encontra R$ 5 milhões ao término de junho e R$ 64 milhões em setembro. Ou seja, os dirigentes deram contratos como garantia e anteciparam recursos que pertenciam a administrações posteriores para aliviar a crise. Problema para quem vem depois.
Na segunda maneira de entender esse endividamento, estão as dívidas classificadas por natureza. Em "fornecedores" estão prestadores de serviços, fornecedores de mercadorias e de materiais esportivos. Em "empréstimos", bancos e empresas que toparam antecipar recebíveis.
Nas "contas a pagar", direitos de imagem e aquisições parceladas de atletas. "Provisões para contingências" são valores cobrados em ações judiciais sem desfecho previsto. "Impostos" são autoexplicativos."