O advogado especialista em futebol, Marcos Motta, concedeu entrevista ao portal GaúchaZH nesta terça-feira (12), onde demonstrou confiança na realização do Campeonato Brasileiro ainda neste ano mas com ressalvas em relação aos estaduais. Sócio-fundador de um grande escritório de advocacia, que tem como clientes Neymar do PSG, Motta foi categórico: a bolha "estourou" e no pior cenário possível. Confira suas principais avaliações:
Volta aos treinos: “Não podemos confundir volta aos treinos com volta aos campeonatos. Tem clubes que voltariam agora e tiveram proibição dos governos. O futebol funciona como uma roda. Neste momento, não está girando. Mas é importante verificar por quanto tempo esta roda ficará sem girar e quais são os impactos”, comentou o advogado quando foi perguntado sobre à volta aos treinos.
Retorno das competições: “A volta ao treino pode ser um indicativo que existe alguma possibilidade. Os Estaduais estão cada vez mais prejudicados. Eu acho que estes terão bastante dificuldade em encontrar datas para retorno. O Brasileirão ainda dá para salvar. Mas não se pode fazer nenhum tipo de movimento sem ter alguém para assumir a responsabilidade por este retorno. Todos têm de ser ouvidos, mas com validação expressa das autoridades de saúde”.
Impacto no futebol: "No início, houve uma correria para fazer algum tipo de projeção. Ali se operou três cenários: curto, médio e longo prazos. O curto ainda é administrável, o médio reputamos como complicado e o longo é catastrófico. O problema é que as previsões começaram a ser revisadas quase diariamente."
Prazos divulgados sobre possíveis retornos: "Estes prazos que foram estipulados lá atrás não fazem mais sentido, o que torna a situação bastante difícil em termos de contratos e contratações. Ou seja, houve uma ruptura em todo o mercado do esporte e principalmente no entretenimento. Sempre lembrando que estes dois mercados estão em segundo lugar no ranking de impacto sofrido pela covid-19, só atrás de hospitalidade e turismo, que tem uma conjugação direta com esporte e entretenimento. A primeira discussão que apareceu no nosso escritório foi consulta sobre cancelamentos e adiamentos de eventos. Tivemos questões que envolveram campeonatos, contratos de atletas, direitos de imagem, patrocínios, fornecedores, transmissões ao vivo. Isto impactou toda a cadeia produtiva."
Impacto econômico: "Recebemos um estudo de que existem mais de 120 mil contratos suspensos no mundo na área do entretenimento, envolvendo mais de 5 mil marcas. O mercado está todo impactado, e é claro que isso terá reflexo no mercado de transferências. Em janeiro, dei uma aula presencial no curso de administração esportiva do Real Madrid e disse que nós temos a tendência de viver em uma bolha no futebol. E esta bolha ia estourar. A única pergunta que deveria ser feita é em que circunstâncias isto aconteceria. E estourou na pior possível, em uma pandemia. Acho que os clubes que estiverem mais estruturados e conseguirem uma fluidez nas suas contas vão conseguir respirar melhor quando houver o retorno. Vai ser um impacto muito grande, tanto na ponta compradora, quanto na ponta vendedora. O mercado já vinha se ajustando, mas agora houve uma ruptura total."