Perder é a maior força do futebol: de 64 edições da Champions League, o Real Madrid, maior campeão europeu, passou em branco 51 vezes. Para vencer 1 Champions, o Real Madrid precisou perder em praticamente 10 delas. Vamos entender isso?
Um dos melhores técnicos da atualidade chama-se Jurgen Klopp, campeão europeu, alemão, comandante do Liverpool. Klopp em sua carreira de pouco mais de 18 anos, tem 5 títulos (considerado os importantes, sem as supercopas, torneios praticamente de pré-temporada) em mais de 30 disputados (Liga Europa / Champions, Copas Nacionais e Ligas). Fazendo um cálculo por cima, tem um aproveitamento de 16 %, assim, perdeu em 84% das vezes que disputou em sua trajetória como técnico.
Quando jovem, Jurgen assumiu o Mainz, que estava na segunda divisão alemã, batendo na trave 2 vezes (ficando em 4° duas temporadas seguidas) antes de conseguir o acesso no 3° ano, na terceira colocação. Na divisão principal, levou o modesto alvirrubro germânico a Liga Europa, mas na sequência, pasmem, acabou rebaixado na temporada seguinte. Após 8 anos na Coface Arena, o Borussia Dortmund apostou no carismático comandante - com zero conquistas e sem chegar a uma final - para liderar uma equipe jovem, barata, visando a reestrurutação a longo prazo. Quando falamos a longo prazo, geralmente no Brasil imaginamos 1 ou 2 temporadas, mas no velho continente um trabalho é organizado visando no mínimo 4, 5 anos ou temporadas.
Em Dortmund, nas suas primeiras temporadas, Klopp conduziu o clube as 6ª e 7ª colocações, tendo apenas quebrado sua seca em sua 3° temporada (número que o persegue até hoje), ao surprender e levar os aurinegros ao título alemão após nove anos de seca. Assim, após o bi em sequência e uma dolorida derrota na final da Liga dos Campeões para o maior rival (Bayern) anos depois, Klopp se despediu levando o clube apenas a 7ª colocação da Bundesliga e perdendo a final da Copa da Alemanha. Finalizando seu ciclo com 3 títulos em 8 anos.
Para finalizar a trajetória de um dos treinadores mais vitoriososo do momento, no Liverpool, sua temporada inicial foi fraca, ficando apenas em oitavo na Premier League; e na sequência, em 4°, 2° e 2°. Nesse caminho, entretanto, goleadas sofridas para City (5x0), Tottenham (4x1), isso sem citar a decepcionante derrota contra o Sevilla, por 3 a 1, na final da Liga Europa, seriam, no Brasil, fulminantes para sua carreira, mas em um país onde o planejamento é sério, todo o processo é reavaliado e caminham em uma única direção. Mesmo assim, na sequência, "the normal one" perdeu outra final continental, dessa vez para o Real Madrid, antes de alcançar a glória. Portanto e resumidamente, o atual técnico campeão europeu perdeu 13 competições para vencer 1 após 4 anos.
Guardiola, seguramente o mais vitorioso dos técnicos da atualidade, não alcança uma "mísera" final continental há 6 anos, mesmo tendo os elencos mais caros e trazendo as peças que quer, elemento chave para a rápida impressão de seus trabalhos. Quando assumiu o Man City, deixou claro seus métodos após temporadas iniciais com tropeços:
"Sir Alex Ferguson, meu ídolo, não ganhou o título por 11 anos. O Liverpool não o vence há 25. Sobre o último mês, tenho que aceitar, os resultados não têm sido bons. Mas temos que melhorar o que eu acredito, e não mudar. Quando isso não funciona, você tem que ser forte. Tenho que aceitar as opiniões dos ex-jogadores, da mídia, dos fãs não ganhar, mas eu desejo e espero que eles vão me dar um pouco mais de tempo."
Concluindo, o que queremos demonstrar aqui, com argumentos e estatísticas é que no futebol saber lidar com a derrota e decepções é corriqueiro e chave para entender o processo da construção de um trabalho. Trabalho esse que requer uma uniformidade complexa (categoria de base, contratações, pagamento em dia e finanças com algum potencial de investimento, estrutura, filosofia de jogo adequada ao elenco, liderança, preparo físico, entrosamento, psicológico, fisiologia, sorte, etc) de cima para baixo e que na grande maioria das vezes leva um tempo para acontecer, além de um tempo indeterminado para vencer. Por momentos, um trabalho que não respeite essas bases (Leicester recentemente, Paulista em 2005, Flamengo em 2009, próprio Inter em 2010 e tantos outros exemplo) podem acontecer e seguirão ocorrendo, mas encontram no Brasil e na América do Sul terra fértil pelo amadorismo geral dos clubes, que não conseguem se organizar olhando mais que duas míseras temporadas, enquanto suas torcidas desesperam-se por soluções tradicionais mágicas, nivelando para baixo as hegemonias e aumentando a chance dos rivais menos favorecidos, mesmo que incompetentes e sem planejamento.
Assim, a ideia aqui também é passar uma mensagem de reânimo aos torcedores. Perder uma final é dolorido, mas chegar até lá é quase tão difícil quanto vencê-la. Nem tudo está errado pelo revés de quarta passada e se avaliarmos com prudência, o Inter ainda não está totalmente pronto para chegar lá. Com investimento baixíssimo, dívidas altas, pressão acima do comum frente ao rival em ascensão, é surpreedente o clube estar tão competitivo em tão pouco tempo, com tão pouco. Manter-se brigando no topo tem que ser a meta e nesse ritmo, com aumento da qualidade técnica e competitiva ano após ano, maiores serão as chances de conquistas, mesmo que com tropeços no caminho (como exemplificado acima com os melhores do planeta).
Enfrentar os momentos de dificuldades e compreender as derrotas te oferecem a possibilidade de ajustes, moldando o caráter de um grupo obstinado, como dito por Jurgen Klopp após seu primeiro título continental:
“As pessoas estão questionando você - e todos somos influenciados pelo mundo externo.
"Então, quando você não ganha nada, você não pode dizer: "Eu sou realmente um vencedor, o único problema é que não dei certo ainda ", então isso ajuda cada pessoa.
“Do outro lado, para passar pelos momentos mais sombrios juntos é muito importante, você tem que perder muito para perceber que não é um perdedor, porque é só o que as pessoas dizem sobre isso, você só tem que perceber que isso aconteceu, mas você ainda pode ser um vencedor.
“Todas essas coisas nos deixaram mais fortes e eu estou feliz por poder manter esses garotos juntos que passaram por todas essas coisas.
PARA REFLETIR
Avaliamos muito as certezas de que possuíamos antes da final, e do que pensamos agora. Pense bem: antes da partida, nenhum jogador do time servia? Todos eram ruins e deviam ser mandados embora?
Sem dúvida foi um péssimo jogo em todos os sentidos, mas por outro lado, 50 mil pessoas acreditavam e projetavam uma possível vitória quando a bola rolou, com o Inter sendo até considerado favorito por alguns analistas pelos números de ambas equipes na temporada.
Com isso, citamos Aristóteles sobre as características do homem sábio de acordo com o filósofo. Para ele toda virtude está entre os dois extremos. Isso costuma ser chamado na doutrina de Aristoteles do Justo meio. Assim, tentamos passar a mensagem de que para avançar no próximo ano, precisamos partir de uma base já montada e realizar os ajustes. Começar sempre do zero, será o maior erro, e será a repetição dos anos anteriores de derrotas.
Lomba, Bruno, Moledo, Cuesta, Edenilson, Lindoso, Dourado, Nico, Guerrero, Dale, Sobis, Nonato, Patrick, Danilo Fernandes... e poderíamos citar outros nomes, são bons jogadores, e podem nos ajudar ainda no futuro a construir uma equipe que seja aprimorada na próxima temporada, e que siga na luta pelos primeiros lugares no returno do Brasileiro.
Fiquem ligados -> Em nossa próxima coluna estaremos analisando a questão de como o planejamento de pré-temporada (de Inter x CAP) influenciou na reta final da Copa do Brasil.
ALAN & ARIEL
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