Texto por Colaborador: Redação 30/09/2020 - 21:15

A queda de rendimento do Inter desde o empate diante do Bahia, dia 6/9, tem sido nítida e clara, com o SCI somando 3 derrotas e 2 empates nos últimos 7 jogos. Todavia, nem sempre os resultados refletem necessariamente o rendimento, visto que a competitividade ou consistência defensiva muitas vezes garantem pontos, mais até do que atuações “vistosas”. No entanto, o caso colorado no momento é de uma precariedade assustadora: semana a semana o rendimento desaba em todos os aspectos, físico, tático, técnico, anímico e psicológico, demonstrando dificuldades básicas de criação, saída de bola e finalização. Como explicá-los?

Por mais que o Internacional tenha perdido quase todos os clássicos em 2020 em muitos deles houveram traços de esperança: na Arena estávamos no ápice e não vencemos pelo detalhe, no 1° do Beira-Rio mesmo com dez dominamos e deixamos de empatar, enquanto que paralelamente uma campanha segura no Brasileiro e na Libertadores abriam caminho para uma temporada com reais chances de título (liderança no Brasileiro e na Fase de Grupos traduziam, verdadeiramente, o contexto e a produção da equipe), até setembro, quando os ventos mudaram.

Confesso que jamais havia me irritando tanto em um jogo do Inter como no GreNal da Libertadores, no Beira-Rio. Geralmente costumo me irritar com pequenos lances, mas depois acompanho normalmente, tentando perceber traços do time que me agradem ou não. No segundo clássico continental, porém, foi aborrecimento do primeiro segundo ao apito final, tamanha patética atuação alvirrubra em um jogo que manchou nossa história para sempre como “patriarca” em clássicos decisivos fora do território gaúcho. Nesta terça, após a igualdade frente o América de Cali, mais do que irritação, o desempenho vermelho causou-me preocupação, me levando a tentar encontrar justificativas.

Primeiramente, gostaria de ressaltar que não compartilho tais conceitos sobre os problemas atuais presumindo “certeza absoluta”, ou seja, é isso e só pode ser isso, como quando uma luz se queima e as opções são simples e de fácil resolução. Assim, ao tratarmos de uma coletividade, que possui inúmeros aspectos a serem levados em conta, muitas vezes uma questão X se soma a Y, e parcela de Z, sendo uma soma de tudo. A ideia, assim sendo, é sair de concepções simplistas de mais e ver os problemas na raiz. Vamos lá?

Antes de tudo parece-me importante compreendermos que cada trabalho é diferente em inúmeros aspectos, ou seja, por mais que Chacho repita todos os procedimentos feitos em seu Racing - recentemente campeão argentino -, não há possibilidade real de uma cópia integral do que foi feito em Avellaneda ser transportada ao Beira-Rio, com tudo começando a sair da mesmíssima forma. Com elencos diferentes, contextos distintos, calendários diversos, entre outros inúmeros fatores, precisamos entender que Eduardo Coudet é um técnico que tenta formatar suas ideias em um novo cenário, e que essa realidade não depende apenas de si, mas desse todo maior. Assim, o novo comandante colorado cometerá novos erros em Porto Alegre, enquanto que suas falhas ou aprendizados no país hermano ou no México nem sempre representam respostas ao momento alvirrubro.

Cientes de tudo isso, começo com uma matéria exemplificando o motor central de qualquer comandante: o seu dia a dia. Em matéria feita por mim no início do ano no site, através de uma pesquisa em jornais argentinos, ficava claro que Coudet implementava suas ideias como “repetição dos movimentos nos treinos, com a ideia de fornecer aos atletas ferramentas para o jogador decidir, para não ter tudo resolvido: "o jogador também deve saber pensar e decidir”, sendo no dia a dia “um técnico que gosta muito de trabalhar suas ideias de jogo em treinos. Suas sessões duram cerca de duas horas e são caracterizadas pela alta intensidade. Coudet também tem por característica trabalhar com jovens jogadores”. Indo mais adentro de seus métodos, Coudet “acima de tudo, é exigente para que nos treinos trabalhem com a intensidade das partidas. Ele joga enquanto treina, transformado as atividades em um "treino de como se joga". É por isso que mais de uma vez, quando um jogador acusar algum desconforto, ele lhe passará para uma atividade diferenciada naquele dia: porque ele avalia o treinamento e precisa que todo jogador de futebol esteja cem por cento. A chave é o trabalho de toda a equipe técnica e, sobretudo, do professor Ernesto Colman. Chacho prefere que o jogador não treine para o requisito máximo de um ou dois dias, mas que quando ele junta o grupo, todos estejam no topo de seu potencial”.

Percebam, de maneira cristalina, que Coudet precisa do trabalho diário para ajustar e moldar sua filosofia de jogo, exigindo princípios claros: intensidade, exaustão física. Está ai, portanto, a primeira chave para entendermos a queda do Internacional após uma grande sequência de jogos: sem treinos diários (ainda mais apertado após a pandemia), sem recuperação física ideal, com muitos desfalques, não há, assim, elementos para a manutenção de pontos imperativos do treinador colorado.

Chacho foi campeão argentino disputando apenas 25 jogos, somando em toda a temporada no Racing, apenas 32. Até agora, no Inter, temos 35, estando a recém no meio da temporada.

Como detalhado anteriormente, está ai uma das razões objetivas pelo gargalo observado neste momento da temporada. Não há como transferir a realidade do Racing ou do Rosário na mesma medida ao Beira-Rio, pois a realidade mostra-se completamente oposta, mais exigente em termos físicos, menos espaço de treinos, maior número de desfalques, elementos inéditos ao argentino, que foram cruciais na construção e no molde de suas equipes.

É claro que Coudet erra – em escalações, por vezes estratégias ou falta de trocas- mas tais panoramas são absolutamente visíveis em todos os técnicos, basta ligar a TV e acompanhar outras equipes de perto, ainda assim, o que pesa, por consequência, é a insuficiência da raiz de seu trabalho, como listados acima. Coudet (em minha perspectiva pessoal) é sem dúvida o nome mais promissor que desembarcou no CT Parque Gigante desde a vinda de Tite, mas, sofre de um momento de azar – que abateu a sociedade de maneira muito pior – e trouxe reflexos negativos para o seu dia a dia.

O Inter, no entanto, precisa fazer suas escolhas: ou demonstra confiança nessa ideia, ciente dos problemas que estão ocorrendo e suas reais causas, dando tempo (uma primeira temporada) para adaptação a uma nova realidade no Brasil, ou segue em busca de novas aventuras, interrompendo bons projetos justamente nos momentos chaves onde faz-se indispensável compreender o que tem dado errado e porquê, saindo para a solução mais fácil e imediatista de todas, a clássica é tudo culpa do técnico, basta trocar por outro (que também virá sem tempo para treinar, possivelmente com menos potencial e tendo que pagar uma multa milionária para o ex-treinador). Não há como pensar que há menos de 30 dias a casamata vermelha era comandara por um "gênio" e, de repente, ele se torna o pior técnico do mundo, por mais que visões maniqueístas sempre pareçam atraentes, o mundo - na imensa maioria das vezes - não se reflete de tal forma.

Não quero nem entrar no aspecto político, que embora sempre deixe seus traumas, não é forte suficiente para afundar uma equipe por si só: o Inter é um clube com um clima político conturbado, mas não é ainda um clube desorganizado (como um Vasco, Botafogo, Cruzeiro), esse elemento, sim, muito mais desestruturante e que refletiria no dia a dia. Isto posto, basta algumas vitórias e esse "novo problema" sossega, retornando ao segundo plano.

Finalizando, também existem outros pontos que me parecem importantes ressaltar, como desfalques importantes, juventude em excesso, algumas apostas erradas, enquanto o elenco colorado está muito aquém do que a própria torcida acredita: sem Guerrero, os grandes nomes individuais têm sido Patrick e Galhardo, transparecendo que por mais que Coudet precise e possa apresentar mais do que vimos em Setembro, nosso plantel está longe de ser às “mil maravilhas”.

Não esqueça de deixar sua opinião. Pelo bem do Inter, sempre!

Saudações coloradas

Por Alan Rother / @Celta_Bardo

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