O Inter conseguiu efetivar uma importante e correta abertura na folha - supostamente na casa dos 2 a 3 milhões de reais - sem perder uma única peça do time titular, movimento que deve ser elogiado, tendo em vista que a questão financeira é um dos fatores chaves - dentre outros pormenores - que explicam a seca de títulos importantes do clube, estabelecida sobretudo após 2016.
Nesse sentido, o discurso de campanha da atual gestão - de fazer menos com mais e abrir espaço aos jovens - começa a cruzar um espaço no horizonte, enquanto abre outro obstáculo como o necessário salto de qualidade para enfrentar os desafios em 2023, temporada que será uma das mais acirradas após abertura das Saf's e uma já consolidada elite financeira, monopolizada por Flamengo e Palmeiras.
Com uma base titular que teve um grande desempenho contra a turma do G5 da Série A em 2022, o x da questão no Beira-Rio parece ser, por conseguinte, aumentar a gama de opções a nível de plantel, aliando a uma série de características que poderão acrescentar em estratégias neste ano.
Embora a vinda de Luis Suárez tenha pressionado o SCI, seria este um movimento correto para as bandas do Colorado? Acho questionável, para não ir além. O Grêmio repete os passos do Inter em 2018, com Paolo Guerrero, uma clara tentativa de trazer - junto com um grande nome - parte da auto-estima, da grandeza e do respeito extraviado com a Série B. No caso dos comandados de Mano, o foco está em outro estágio, como no avanço de uma ideia de coletividade, baseado em um elenco mais jovem, competitivo e sedento por protagonismo.
Assim, após anos trazendo jogadores caríssimos e sem um "plus a mais" nos momentos decisivos, o movimento do Internacional parece correto e baeado em conceitos que são respeitáveis, mesmo que a priori pareçam ir na contramão da própria intuição de cada um de nós, torcedores.
Agrego nessa temática outro elemento histórico e cultural: o futebol gaúcho move-se por particularidades que não repetem o longa-metragem visto nos grande clubes do eixo Rio-SP, sobretudo de casos como o Flamengo. Se olharmos a história vitoriosa dos grandes do RS, notaremos que não foram os nomes de lotar aeroporto que agregaram a longo prazo, mas, diferentemente, de bons nomes a nível técnico, físico e psicológico, que somaram a aspectos coletivos, sempre arraigado a dinâmica do competitivo futebol gaúcho. O grande Colorado de 2006 não tinha nenhuma peça de incrível renome. Nesse aspecto e tentando pensar com retrospectiva histórica - mas também levando em consideração o que foi construído em 2022 -, o salto de qualidade ao time alvirrubro para as grandes conquistas parece ser este: trazer as peças certas, e certas diga-se por bons valores, que não necessariamente caros ou de renome.
O Inter vencedor geralmente foi construído a base de gotas de pequenos sucessos, raramente dando mais do que dois passos quando tentou repetir esquemas que em outros centros futebolíticos até podem funcionar. Por fim, parece bastante claro que a direção precisa contratar a nível de elenco, todavia, a pergunta de um milhão é justamente como perpassar abrindo espaço para alguns bons valores - Matheus Dias, Lucca, Estevão e Lucas Ramos - e trazer jogadores que agreguem estilo e características ao pensamento global de Mano Menezes. O Inter sempre venceu com bons jogadores, não com astros. Isso parece entranhado na alma do clube.
Por Alan Rother
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