O Inter encerrou a primeira fase do Gauchão deixando muito a desejar. Mesmo com os poréns de um início de trabalho, a equipe do técnico Alexander Medina demonstrou dificuldades preocupantes em todos os quesitos. Problemas defensivos recorrentes, falta de encaixe, pobreza na criação… com tantos buracos entende-se como só tivemos duas boas atuações em 2022 (contra um Juventude que brigou para não cair no Gauchão e o Gre-Nal) além de cairmos para um Globo-RN, no maior vexame do clube a nível nacional.
Como era esperado e um tanto óbvio, a escolha por um técnico estrangeiro aumentou o tempo de adaptação, enquanto praticamente perdemos 50 dias de trabalho até aqui. Oferecendo pouco espaço aos jovens da base (como Thauan Lara, Lucas Ramos, Estevão ou outras joias do Celeiro) se apostou no lema “força máxima” para maximizar o tempo de preparação sob o comando charrua, mas não se viu ganhos em nenhum dos lados: um elenco principal claramente sem confiança e muito cobrado se viu na obrigação de jogar (estando paralelamente atrás da melhor preparação física) o que ainda não consegue com uma nova filosofia, enquanto os mais jovens somaram raros minutos, atrasando o projeto “40% do time com nomes oriundos da base”, frase que tem se resumido a um ditado sem nenhum efeito.
Parecendo um time que vive de batalhas mas não demonstra aptidão para vencer a guerra, o SCI começará a conviver a partir destas semifinais o início da temporada, com jogos decisivos e que não podem mais servir de preparação: o que não foi feito será cobrado, estando justamente ai, o meu grande temor. O que foi construído até aqui?
PREOCUPAÇÕES PARA OS GRENAIS
Me segurei dias após o GreNal 435 com triunfo de “lavada” do Inter. Me segurei porquê estava ciente de que até aquele momento a atuação alvirrubra era uma linha fora da curva. Os dois clássicos que virão, portanto, serão de outra exigência e com outros problemas.
Muito se discutiu na imprensa se “o Inter havia jogado muito ou o Grêmio pouco”, querendo dizer, no fundo, que "ou o Inter venceu ou o Grêmio perdeu". De fato, essa discussão tem sentido dado que o Colorado venceu com predomínio, mas superou nada menos que o pior rival dos últimos 60 anos tendo um trio de ataque Sub-23.
Longe de querer tirar o mérito de Cacique & Cia, mas é preciso qualificar os termos dessa partida. Diferentemente dos últimos anos quando se encarou um Tricolor confiante e com consistência, a esquadra do Humaitá veio aos trapos no Gigante, o que diminui nossa exigência. Ainda assim, o mesmo quadro não deverá se repetir no próximo sábado.
Primeiramente, a Academia do Povo não terá Moisés. Amplamente criticado por parte da torcida, o lateral-esquerdo é como um Nei nos tempos ruins: sem parceria nem coletivo, o mesmo teria acontecido com Edinho, Fabinho, ou tantos outros nomes medianos que, em tempos bons, dariam conta do recado ao lado de melhores equipes. Diferentemente do camisa n° 20, Cacique deverá ter que utilizar o jovem e totalmente insuficiente Paulo Victor, possivelmente no mano a mano com Ferreira (que mesmo jogando na esquerda, pode ser invertido no jogo), o melhor nome do time de Roger Machado. Sem o mesmo ímpeto físico, o n° 6 alvirrubro é uma das minhas grandes preocupações para os clássicos, enquanto Diego Souza, o velho tanque de guerra - mesmo caindo aos pedaços - pela experiência e potência física deve se sobressair frente um Cuesta e Kaique Rocha, defensores leves e de pouco combate a nível físico. Assim, com apenas 2 peças distintas temos um novo jogo, com novas exigências.
Por fim, o que mais me preocupa – não apenas para as semis – mas vislumbrando toda temporada: a falta de consistência, de valências para sustentar um jogo coletivo nos momentos difíceis. Toda equipe passa por instantes de inferioridade durante os 90 minutos mas é, nesse momento, que alguma qualidade coletiva deve se sobressair. O Inter, por outro lado, não demonstra nenhuma: Confiança? Consistência defensiva? Qualidade individual para mudar o jogo? Ou seja, não se percebe aspectos que traçam uma linha do time até aqui.
O Inter abre 2022 com obrigação de vencer o Gauchão e superar um dos piores rivais das últimas décadas. Com melhores peças individuais, o favoritismo e a responsabilidade estão no colo do Beira-Rio. No entanto, competições não se vencem na base do mano a mano mas no trabalho comunitário. Mesmo atuando neste ano em 12 jogos em que era melhor tecnicamente que todos os adversários, pouco se conseguiu tirar de vantagem tática para se sobressair tecnicamente.
A luta pelo 46° título Gaúcho nunca dependeu tanto do Inter.
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